As
igrejas (católica/protestante), quando da colonização na América Latina, foram promotoras
da mentalidade do seu tempo, ou seja, fundiu evangelho com a cultura
de origem, gerando um etnocentrismo em relação aos povos conquistados. Obviamente
não é possível falar de evangelho sem
cultura, o próprio evangelho se dá dentro de uma
determinada cultura e a Bíblia é testemunha disso. Mas na
América Latina, o evangelho se deu a
partir de uma cultura que,
indevidamente, procurou suprimir a cultura
do outro, assim como em outros
lugares em que o modus operandi foi o
mesmo. Enrique Dussel, quando discute o colonialismo, faz uma constatação: “o
pecado original da modernidade foi ter ignorado no índio, no africano, no
asiático, o ‘outro’ sagrado, e o tê-lo coisificado como um instrumento dentro
do mundo da dominação norte-atlântica”. Esse processo, que Dussel chama de coisificação do outro, contribuiu na dizimação da cultura do outro.
Quando
a relação se dá entre evangelho e cultura na América Latina, não poderia
ser diferente a postura. Dentro desse aspecto, há um intenso debate entre
Bartolomeu de las Casas e Juan Ginés Sepúlveda em torno da questão indigenista.
Para Leonardo Boff, os
missionários não
se deixaram evangelizar, ou seja, não
se deixaram admirar pelo que estavam vendo. Se isso tivesse acontecido, “o
destino do cristianismo latino-americano e das culturas autóctones” seria
outro, ou seja, um “cristianismo com traços culturais próprios, distintos
daqueles europeus”.
Ainda
é um desafio pensar missão na América
Latina, principalmente quando o tema é corolário com a cultura. Além disso, a reflexão precisa acolher a relação missão e cultura tendo como contexto a diversidade religiosa latino-americano.
Autores que se dedicam a pensar sobre o tema, procuram abrir caminhos que deem
conta dessa problemática em diferentes interfaces, teológica, antropológica,
social e política. Em comum entre eles, os desafios de alocar a missão, como um conceito extremamente
saturado na América Latina em termos de evangelização,
e a cultura, que vem sendo refletida
a partir de epistemologias como o pós-colonialismo.
Ainda
é frequente, na tarefa missionária, desprover o outro, alvo da missão, de
elementos revelacionais que são característicos do cristianismo. Dentro dessa perspectiva, cabe a consideração por uma
missiologia que contemple elementos
de diálogo. Os desafios são enormes, mas a necessidade que o debate impõe é
premente.
Consulta
DREHER, Martin N. A igreja latino-americana no contexto mundial. 3ª ed. São Leopoldo:
Sinodal, 2007, p. 33-45.
PIEDRA, Arturo. Evangelização protestante na América Latina: análise das razões que
justificaram e promoveram a expansão protestante (1830-1960). São Leopoldo:
Sinodal, 2006, v. 1, p. 67-113.
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