O pregador está finalizando o seu sermão,
mas antes que tudo chegue ao fim, ele, como impelido para isso, faz um apelo:
você quer “aceitar” Jesus como salvador da sua vida? Levante a sua mão e venha
à frente.
Ele insiste. Ele espera. Ele fala
novamente.
Quando alguém se dirige à frente, é o
ápice da pregação e do culto. Mais uma alma que irá entrar no céu e a igreja
tem mais uma pessoa como potencial membro.
Essa foi a principal maneira de tornar
pessoas participantes da igreja. E ainda é, dependendo da formação da
comunidade e do seu pastor.
Anos anteriores, e sou testemunha desse
processo, os membros convidavam as pessoas (quando isso acontecia), e o pastor
ficava responsável, no momento do sermão, por tornar aquela pessoa “salva” por
meio do apelo.
Se o pastor não fizesse o apelo, o
problema estava com ele, e o membro da igreja já tinha feito a sua parte, ou
seja, convidar. Se o convidado pelo membro não “aceitasse” Jesus com o apelo do
pastor, o problema (na sua grande maioria) era do/o pastor e não do/o membro.
Há casos em que o pastor era procurado
depois de um culto sem “conversões” pelo corpo diaconal a fim de cobrar “decisões”
ao lado de Cristo (qual deles?), por não estarem acontecendo nos sermões do
pastor. Quando as decisões não aconteciam, o maior responsável por isso era,
indubitavelmente, o pastor. Não por acaso, que o pregador gastava mais trinta
minutos, as vezes bem mais que isso, fazendo o apelo, em alguns casos, com
requintes de crueldade onde a ameaça do “inferno” era o mal menor.
A questão aqui é o “aceitar Jesus”.
O que significa isso? Significa aceitar os
ensinos de Jesus? Significa entender o que ele quer dizer com “amar os inimigos”?
Rubem Alves, acertadamente, dirá: “ninguém
se converte aos ensinos de Cristo,
seja o mandamento do amor, a lei áurea, o sermão do monte, a despreocupação
ante o futuro, o perdão dos inimigos”.
Nesse caso não tem como “aceitar Jesus”,
pelo fato de não o conhecer. Aceitação pressupõe conhecer a fim de entender.
A concepção de conversão no Novo Testamento sempre se dirige aos discípulos. Foi
isso que atestou Ronald D. Witherup quando estudou esse tema no NT.
Para Paulo, não se “aceita Jesus”, invoca
(chama) o seu senhorio sobre a vida e muda de direção (Rm 10,13).
Não se trata de “aceitar Jesus”, mas sim
chamar por ele e conceber a sua graça.
Consulta
Ronald D. Witherup. A conversão no Novo Testamento. São Paulo: Loyola, 1996.
Rubem Alves. Religião e repressão. São Paulo: Teológica/Loyola, 2005.
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