Com o advento da chamada pós-modernidade as mudanças passou a serem frequentes. A efemeridade das coisas, dos conceitos e ideologias se tornou um fato. A dinâmica das mudanças não dá conta nem mesmo para o processo de habituação. Com a globalização – fenômeno que norteia não apenas a economia – as questões religiosas foram colocadas na pauta das discussões. Nas observações de João Batista Libânio, somos chamados, falando como teólogos, a pensar essa realidade com relevância e honestidade. Na sua vasta bibliografia, Libânio aborda as implicações dos fenômenos globalização e secularização (este último mais presente na Europa e EUA, mas já perceptível na América Latina – e no Brasil, segundo dados do IBGE os “sem-religião” saltou entre 2000 a 2010 de 4,7% para 8%) procurando apontar prospectivas coerentes para este tempo. No caso dele, um teólogo católico-romano, a dificuldade é alinhar mudanças de paradigmas com a Tradição da Igreja. Suas análises são pertinentes principalmente para enxergar onde a demanda teológica precisa ser mais contundente. As conclusões de Libânio e outros pesquisadores do tema Teologia e Sociedade concluem que a base antropológica da nova (um termo de José Comblin) cultura é pluridimensional, ou seja, é um ser humano que tem na sua subjetividade um valor em si. Daí a razão não ser mais o único caminho para a felicidade (como na Modernidade), mas ser, dentre outras, mais uma possibilidade de leitura do mundo.
Quando entramos no segmento protestante vemos que persiste o mesmo problema – lidar com as mudanças deste tempo em suas diferentes áreas. Tanto católico-romanos quanto protestantes estão discutindo as linguagens da nova cultura que é dinâmica. Quanto aos católico-romanos há uma clara distinção entre progressistas e conservadores sendo patente em reuniões (como foi na Conferência de Aparecida) e publicações. Já no universo protestante – onde a unidade nunca foi o ponto central, é fragmentado por natureza – as questões hodiernas têm sido tema de livros, palestras e debates. Duas tendências estão evidentes – conservadores (identificados, por alguns, como fundamentalistas) e não conservadores (identificados, por alguns, como liberais).
Essas duas vertentes se dá, principalmente, nas publicações. A ala conservadora tem deixado bem claro que não há diálogo com a nova cultura, mas confronto. Daí o aumento de livros sendo traduzidos que tratam da apologética numa clara mensagem de que a nova cultura precisa ser combatida – aliás, um dos livros (Em guarda, Vida Nova) do apologeta mais traduzido no Brasil, William Lane Craig, tem na capa um homem segurando uma espada – é a dimensão da defesa e do ataque. Neste mesmo intento as teologias sistemáticas estão dando a sua contribuição, reafirmando doutrinas e práticas tendo como referenciais teóricos e metodológicos teólogos norte-americanos. As teologias sistemáticas sempre funcionaram como formadora da educação teológica no País em seminários e faculdades das denominações protestantes.
Tanto a apologética quanto as teologias sistemáticas procuram estabelecer fronteiras para se pensar os rumos da cultura e seus desdobramentos em diversas áreas. A reivindicação de ambas é a posse da verdade, como discurso legitimador da fé e sua prática.
Dentro desse tema, educação teológica e a concepção sobre verdade, uma discussão me chamou atenção há algumas semanas. Ela se deu a partir de dois textos. O primeiro é de Jung Mo Sung, docente na UMESP na área de Ciências da Religião – Educação teológica e missão – um texto que foi publicado no livro Missão e educação teológica (ASTE, São Paulo). O outro texto é uma reação ao texto de Sung do consultor acadêmico de Edições Vida Nova Franklin Ferreira – Educação teológica e missão: uma resposta ao artigo de Jung Mo Sung. O texto de Sung provocou a reação de Ferreira devido o uso da Teologia Sistemática que este último escreveu com Alan Myatt. Os pormenores aqui não são de interesse pelo espaço, mas o que chamou a atenção é a clara distinção de ideias e posturas frente aos desafios da nova cultura. Enquanto Sung procura trabalhar a partir da subjetividade – um paradigma pós-moderno –, Ferreira advoga o conceito de revelação e verdade a partir de uma leitura bíblica e agostiniana. Enquanto um (Sung) defende uma educação teológica inclinada para uma nova linguagem tendo como ponto a experiência, o outro (Ferreira) pontua a relação Bíblia, revelação e Jesus Cristo como sendo unívocas.
É uma discussão interessante. As duas perspectivas são antagônicas, enquanto uma (Sung) delineia uma postura de adequação e diálogo com uma realidade plural, a outra (Ferreira) se dá a partir da igreja alegando que “quando a igreja é reformada, a sociedade é modificada”.
Diante desse acalorado debate fica evidente de que há duas perspectivas quando se trata de dialogar Igreja e Sociedade. Venho propondo uma via, a Teologia Pública, como uma alternativa a este cenário.
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