As semelhanças
entre multidão e discípulos são evidentes. Tanto a multidão quanto os
discípulos estão ouvido às palavras de Jesus em diversas ocasiões nos
evangelhos. A multidão é amigável; ela fica maravilhada com os ensinamentos de
Jesus (Mt 7,28). As diferenças entre
esses dois segmentos também são claros. A multidão não tem rosto; ela é anônima;
a multidão é mutante, em um momento busca Jesus em outro momento prefere
Barrabás; na multidão não há uma constância; a multidão quer estar junto de
Jesus, mas não quer se comprometer com ele; a multidão vai atrás de Jesus não pelos
seus ensinamentos, mas pelo milagre dos pães (Jo 6). Os discípulos seguem
Jesus. Mesmo não entendendo muita coisa da caminhada de Jesus e sua mensagem
sobre o Reino de Deus, estão lá; mesmo dormindo no Monte das Oliveiras, mas
estão lá.
Essa dialética – multidão e discípulos –
me fez lembrar um livro do teólogo jesuíta uruguaio Juan Luis Segundo – Massas e minorias: na dialética divina
da libertação (São Paulo: Loyola, 1975). Nesse texto Segundo trata da dimensão minoritária
e massificante do Cristianismo colocando de que, originalmente, Jesus visou uma
minoria – os discípulos, por exemplo – e não estava atrás da massa e nem mesmo se deixa se encantar
por ela. Um livro que vale a pena ser lido por ser tão atual para os nossos
dias.
Essa relação multidão-discípulos e massa-minoria
são patentes no segmento denominado de “evangélico”. Parece que há uma sensação
de que quando a massa está aderindo ao movimento (dados do IBGE apontou os “evangélicos”
em 22,2% da população brasileira) é sinônimo de crescimento do Reino de Deus. Os
pastores, bispos e apóstolos midiáticos quando atraem multidões é sinal de que
Deus está “salvando” pessoas. Seria bom que fosse! A mensagem de Jesus sobre
gratuidade, amor, perdão, diálogo, ou seja, os valores inegociáveis do Reino de
Deus, não são vinculados nas grandes reuniões de milagres e vitória financeira.
É a formação de multidão que corre atrás do milagre, da cura, não, propriamente
de Jesus. Quando Jesus quis ensinar a multidão ela se dispersou, ouvir Jesus e
seus ensinos não era relevante.
O segmento “evangélico” de massa está
abarrotando os bolsos de pessoas que estão lucrando com a fé. Há verdadeiros impérios
financeiros construídos a partir da boa vontade de pessoas que, sem
arrependimento, não encontraram Jesus, mas sim Mamom (Mt 6,24).
Essa síndrome da massa tem,
infelizmente, prejudicado a noção de comunidade. Geralmente a pergunta entre os
pastores quando se conhecem é: “quantos membros tem a sua igreja?”. Pelo que me
consta o evangelho de Cristo tem a ver com doação ao próximo; com a nossa
maneira de ler a realidade; com a transformação da vida a partir do Reino de
Deus. Portanto, não aceito um “evangelho” que ignora a premissa máxima da
mensagem de Cristo – “buscar em primeiro lugar o Reino de Deus” (Mt 6,33).
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