1º
Conclave Pastoral
Ordem dos Pastores Batistas do Brasil, Subsecção – Vale do
Ribeira
4
de Agosto de 2012 – Hotel Estoril, Registro/SP
Um dia de sol; um lugar acolhedor; uma comida
boa; os amigos, os colegas e irmãos de diferentes denominações. Este foi o
cenário do 1º Conclave Pastoral. Um dia para refletir e ponderar algumas
questões quanto aos desafios e os dilemas do ministério pastoral.
O nosso convidado foi o Pr. Natanael
Gabriel da Silva (Igreja Batista Central – Sorocaba/SP). Alguém com trinta (30)
anos de ministério pastoral.
Quem pensou que iria ouvir teorias sobre
o crescimento de igreja ou modelos importados de crescimento, ou ainda, sete
passos para ser bem sucedido no ministério e etc., ficou frustrado, apesar de
ter a impressão de que o grupo lá presente esperava aquilo mesmo, ou seja, nada
do mesmo. O Pr. Natanael abordou a figura do pastor em suas diferentes
perspectivas, mas priorizou o texto bíblico e o modelo de Jesus e de Paulo no
pastoreio.
Com uma hermenêutica centrada na
construção teológica e comunitária do evangelho de Mateus, o expositor passou a
identificar as características do ministério de Jesus e seu momento
introspectivo, ou seja, o momento em que ele – Jesus – avalia o seu ministério
a partir das circunstâncias.
O modelo pastoral de Jesus se dá na
contramão de duas tendências bem nítidas no seu tempo: o modelo sacerdotal e o
modelo profético. No primeiro, Jesus não se assimila de modo nenhum com o modelo
sacerdotal, pelo contrário, esse modelo é identificado como opressor na figura
dos sacerdotes do Templo de Jerusalém. No segundo modelo – profético – no qual
Jesus faz parte, mas não nos moldes que o profeta era associado no seu tempo –
como foi João Batista. A diferença entre os dois, Jesus e João, se dá no teor
da mensagem e na maneira de proclamá-la. Enquanto João era duro com suas
palavras e pregava o fim eminente de todas as coisas, Jesus, por outro lado,
pregava o Reino de Deus e sua construção a partir de uma mensagem que confronta
a consciência e provoca uma reação.
O capítulo onze (11) de Mateus foi alvo
da exposição do Pr. Natanael. Neste capítulo, fazendo uma exegese a partir da
compreensão de que todo o evangelho de Mateus é uma construção literária e
teológica da história de Israel, Jesus tem um diálogo com os discípulos de João
Batista que o questiona ser ele o Messias ou não. A resposta de Jesus é dada
por meio do que está acontecendo. Ao final do capítulo onde é senso comum
interpretar os versos 28 a 30 como sendo um texto “evangelístico”, ou seja, um
texto para evangelizar pessoas que ainda não pertencem à Igreja, há um processo
de reavaliação do ministério de Jesus. Nestes versos, Jesus fala com Deus-Pai
sobre si mesmo. Aqui é Jesus colocando o seu modelo pastoral: mansidão, leveza,
descanso, alivio. Diferente de João, Jesus tem a preocupação de pastorear com
prerrogativas pouco convencionais tanto para os seus discípulos quanto para o
imaginário profético do seu tempo. Mas é esse o modelo que ele deixa e procura
imprimir em seus discípulos.
Não será os milagres a base do
pastoreio; não será o texto-retórica que dará funcionalidade à pastoral. O que
realmente dá suporte ao ministério pastoral é a pessoalidade. A pessoalidade de Jesus que dá a ele todos os
ingredientes necessários para ser manso e humilde e oferecer descanso e leveza.
Diante desse modelo, ignorado é verdade,
somos chamados a retomar a prática do pastoreio a partir das premissas de
Jesus. Mas essa não é uma tarefa fácil. Há diante de nós os estigmas da institucionalidade
que preserva as estruturas em detrimento de pessoas; existe a tal
“concorrência” no segmento “evangélico” em que cada movimento ou denominação
quer ter seu espaço sendo a mídia a grande aliada de modelos pastorais que se
assemelham muito mais ao modelo sacerdotal que ao modelo pastoral de Jesus.
Ainda pesa sobre nós a velha e inadequada concepção de que pessoas são números
(quantidade de membros) e ministério pastoral é apenas mais uma profissão, e
bem lucrativa, diriam alguns.
Jesus nos convida para pastorear com
pessoalidade. Sem subterfúgios, apenas pastorear.
No período da tarde somos agraciados com
uma leitura de Paulo a partir das duas Cartas aos Coríntios.
Depois de uma breve exposição quanto ao
contexto de Corinto e sua diversidade de problemas como as religiões gregas, a
moralidade e as questões de ordem pastoral na igreja com sua divisão entre grupos,
inclusive um de Paulo, e a inconstância doutrinaria da igreja, Paulo na segunda
Carta expõe toda uma problemática com a igreja e faz transparecer a face de um
pastor que, pelas circunstâncias, mostra as debilidades do pastoreio e a
difícil equação entre o procedimento político e pastoreio.
Depois de apontar os diversos desvios (pecados)
da igreja em Corinto – noticias essas trazidas por Cloe (possivelmente sendo um
grupo partidário de Paulo) daí a sua fala a partir das informações recebidas – na
segunda Carta Paulo no segundo momento faz a sua defesa e por fim ele se faz de vítima.
Os capítulos onde (11) e doze (12) de
2Co é a mostra de alguém que procura ser respeitado, lembrado por aquilo que
fez, mas não gostaria de dizer que fez e, que por isso, deveria ser respeitado
por isso. Na verdade Paulo tem uma crise no seu pastoreio com a igreja de
Corinto por se tratar de uma igreja que demandava certo trato político e ao
mesmo tempo habilidade pastoral para lidar com as questões que ela passava.
Paulo estava em busca de reconhecimento
e o que encontrou foram frustrações. A crise de Paulo é semelhante à de muitos
pastores: pastorear por meio do amor ou desejar ser valorizado pela
igreja-instituição. Paulo não soube lidar com esse dilema e no final do
capítulo doze (12) ele fala como um “insensato”, ou seja, alguém que está
reivindicando algo que na verdade não deveria por se tratar da natureza do
ministério pastoral.
A ferramenta principal de Paulo era o
pastoreio por meio da espiritualidade. Mas se tratando das questões de Corinto,
Paulo não soube pastorear àquela comunidade e isso não foi bom para a sua vida
e ministério.
Com Jesus temos o modelo de pastoreio
(Mt 11,28-30). Com Paulo temos o exemplo de como não cometer erros quanto ao
trato de uma igreja tão problemática como foi à comunidade de Corinto. Paulo
deixa o modelo de como não incorrer em erros que frequentemente o pastor se vê
envolvido dentro de uma distancia tão mínima que é entre a igreja-instituição e
o pastoreio.
O pastoreio em tempos pós-modernos não
necessita ter critérios de números de membros; o alvo do ministério não pode
ser medido quantitativamente. Ele é muito mais que isso. Ele é doação do
coração do pastor às ovelhas que necessitam do seu cuidado. Se for possível um pastoreio
assim, não cometeremos o erro de achar que, pela função, devemos ser
reconhecidos como tal.
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