A graça que foi tema central na Reforma
Protestante parece que virou apenas retórica na igreja e sua prática foi
reprimida pelo farisaísmo que vemos presente em tantas pessoas que frequentam
igreja.
A pergunta, a salvação é mesmo pela graça, é
válida, uma vez que boa parte das pessoas que frequentam a igreja tem uma
concepção equivocada da salvação.
O texto de Efésios 2,4-9 é clássico: “salvação
é pela graça e não por obras, para que ninguém se glorie”. Infelizmente para
algumas pessoas o que antecede a salvação não é a graça, mas o comportamento. Jesus
diz: “venha como estás”, a igreja diz: “nem tanto, conserte-se primeiro”.
Outro equivoco é a ideia de que a salvação é
individual. Sempre ouvi dizer que a salvação é algo individual. Essa afirmação
só serviu para acentuar a individualidade das pessoas no quesito santificação. Elas
dizem: “deixa o fulano, a salvação é individual mesmo”. Que tolice. Não há um só
versículo bíblico que afirme esse conceito singular de salvação.
A salvação é desenvolvida na história, e
sempre envolveu um povo e não indivíduos. Deus chama o povo de Israel e não Moisés especificamente. Deus elegeu o povo de
Israel não pele seu mérito, pois não tinha nenhum (Dt 7,7-8). Com a igreja Deus
predestina[1] para o “louvor da
sua gloriosa graça”. A oferta da salvação é sempre coletiva – “porque a graça
de Deus se manifestou salvadora a todos os homens” (Tt 2,11) – a aceitação do
ser humano que é individual, pois envolve fé.
Aquele terrorismo que se faz com a salvação
que pode ser e deixar de ser salvo a qualquer momento é descabido. Salvação envolve
uma comunidade – “Cristo é o cabeça da igreja, que é o seu corpo, do qual ele é
o Salvador” (Ef 5,23) –, portanto não há como ser cristão individual. Não se
vive cristianismo isolado. Isso porque o cristianismo não se resume em ter
comunhão apenas com Deus, mas ter comunhão com Deus e com o próximo. É salvo quem faz parte de um povo salvo,
quem está ligado ao corpo de Cristo.
A salvação pela graça de Deus tem como
consequência a ruptura com o pecado, o pecado do qual fala Paulo, aquele que
escraviza o gênero humano e submete a Criação a dores. É uma salvação da culpa
e um canto de liberdade. É uma salvação de si mesmo, do egoísmo, do medo.
Não é uma batalha diária em que se autocondena
por quaisquer falhas. Salvação é a certeza do amor de Deus agindo em nós;
envolve esperança, vida e paz. Aqueles que vão à igreja (templo) para serem
salvos estão enganados. A igreja (gente) é o encontro dos salvos.
[1] Para mais detalhes sobre a História
da Salvação a partir da predestinação, ver meu artigo: Predestinação como parte
da História da Salvação. Disponível em: http://ciberteologia.paulinas.org.br/ciberteologia/wp-content/uploads/2009/06/01Predestinacao.pdf
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