Vi a tristeza nas faces das funcionárias que o conheceram e puderam conviver com o sorriso da sua alma amorosa e libertária, numa dedicação e saudação de corpo inteiro.

Ricardo Boechat, você dizia-se ateu. Com toda honestidade afirmava isto publicamente. Você era um homem honesto e transparente. Deus também é ateu, meu amigo. Jesus Cristo nunca foi cristão e todas as crianças nascem agnósticas. Eu nunca lhe perguntei sobre o Deus em quem você não acreditava. Não lhe perguntei porque, possivelmente, o Deus em quem você não acreditava, um ser vagando na estratosfera da transcendência, moralista, vingativo e ansioso para botar uma grande parte da humanidade no fogo do inferno, eu também não acredito. Esse deus é criado conforme a imagem e semelhança de pessoas raivosas e perversas.
O Deus em quem eu acredito, Ricardo Boechat, é AMOR E MISERICÓRDIA. É o Deus que na agonia da cruz orava pelos seus inimigos dizendo: “Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem o que estão fazendo!”. Você era um reflexo do amor de Deus. Tinha um coração maior do que o seu corpo franzino.
Ricardo Boechat, você foi um profeta. O profeta é aquela pessoa que fala contra as injustiças e se torna defensora das pessoas oprimidas que não têm vez e nem voz.
No céu, amigo, fale com Deus que tenha misericórdia deste nosso país e que Ele envie outros profetas para falarem em defesa das vítimas de Mariana, de Brumadinho; por todas as vítimas de tragédias, pelos índios e por todas as pessoas injustiçadas e deserdadas da terra.
(Mozart Noronha)
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