Aqui
há um lado da “história”. O outro lado é mais interessante e tem tudo a ver com
o atual momento do país.
A
Independência não nasceu porque os brasileiros nutriam um ideal de nação e
queriam construir um país livre da tirania econômica, política e social de
Portugal. A Independência foi um jogo de cartas marcadas. Estava-se mudando o
cenário econômico. Portugal, como se esperava, estava atrasado em termos de
tecnologia. A poderosa Inglaterra aparecia no cenário e, como se sabe,
dominaria o comércio “mundial”. A Independência, como jogo de cena, teve forte
influência dos ingleses. Em linhas gerais, o Brasil deixa um chefe (Portugal) e
serve um patrão (Inglaterra). E mais uma vez quem ganha? O povo brasileiro? Claro
que não! São os mais de 8 mil que assinaram a petição para o digníssimo D.
Pedro. Produtores rurais que detinham escravos em suas fazendas. O modelo econômico,
desde a colônia, sempre favoreceu essa classe – uma elite dominante que
estabeleceu os limites do liberalismo brasileiro. Com a mudança de Portugal
para a Inglaterra, essa elite continuaria lucrando e fazendo o mesmo de sempre,
só que agora com alcance maior, uma vez que os ingleses estavam dominando mares
e oceanos.
E
o D. Pedro?
A
preocupação com a população nunca esteve na sua agenda. Um déspota mulherengo
que, uma vez livre de Portugal, achou que poderia fazer o que bem entendesse,
como, por exemplo, mandar fechar a Assembleia Constituinte (1823) porque se
irritou com os deputados.[2]
A
Independência tem as suas facetas na história e a econômica não é a única,
obviamente. Diria que é a mais importante. Além das disputas políticas no
primeiro plano, a Independência estava configurando uma nova fase econômica. A elite
intelectualizada do Brasil estava percebendo que o comércio mundial estava
sendo dominado, hegemonicamente, pelos ingleses e a industrialização estava
batendo à porta, logo uma nação deixar de ser colônia, estava dando sinais
claros de que participaria do sistema econômico que emergia.
O
D. Pedro deveria dizer outra coisa (“como é para o bem geral da nação, estou
pronto, diga ao povo que fico”). O melhor seria: “Se é para o bem geral dos
grandes proprietários de terras, dos donos de escravos, do futuro da economia
com os ingleses, eu fico”.
Dizem
que a história se repete. No caso do Brasil é um replay.
O
que se viu no país desde 2016, com o impeachment de Dilma Rousseff, foi um jogo de cartas
marcadas. A oligarquia branca e elitizada do país, julgou que as coisas
precisavam melhorar, não para o povo, para os grandes empresários. É aqui que
surge o programa do PMDB denominado “Uma Ponte para o Futuro”. Nesse programa,
as principais propostas são de reformas duras com caráter imediato que atende,
principalmente, a classe empresarial. O Temer, chega à Presidência da República
por meio de um golpe parlamentar que tem nas ruas uma cortina de fumaça que
levanta a bandeira do “abaixo à corrupção”. Ainda que “legal”, mas não
legítimo, ele tem como propósito implantar as medidas apresentadas no programa “Uma
Ponte para o Futuro” (futuro de quem?). Uma vez lá, ele já colocou a Reforma
Trabalhista – que prejudicou ainda mais a classe de trabalhadores, deixando-os reféns
dos patrões quando um acerto entre empregador-empregado está acima da Lei. Agora,
a pauta é a Reforma da Previdência, mexendo, mais uma vez, com os menos
favorecidos, exigindo um tempo de serviço exorbitante, enquanto as grandes
corporações não se toca.
Mesmo com fortes indícios de corrupção, o Temer segue seu curso,
porque o seu maquiavélico plano ainda está de pé, qual seja? Tornar a economia favorável
para os herdeiros da velha colônia. Com graves acusações de corrupção (daí a prova de que a
narrativa do “abaixo à corrupção” nunca foi a preocupação), o Temer continua,
postiçamente, seguindo como Presidente. Quando acusado pelo Procurador-geral da
República por ocasião do seu encontro com Joesley, ele faz diferente do D.
Pedro, não manda fechar a Câmara dos Deputados, compra-os para que votem contra
a denúncia do Procurador.
Qual o jogo? Mercado. Se não fosse ele (o senhor Mercado), o
Temer já teria sido expulso de Brasília, com ou sem “pedalada fiscal”. Como é
para o bem dos empresários, ele segue dizendo: “eu fico”.
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