1.9.17

SE FOR PARA O BEM DO MERCADO, EU FICO!

No dia 7 de Setembro, o Brasil completa 195 anos da sua independência. O ano de 1822 foi muito importante para o país. Marcou a independência de Portugal, que gostaria de recolonizar o Brasil e, para isso, exigia que D. Pedro voltasse para Portugal para que terminasse seus estudos na Europa. Ele, muito preocupado com o Brasil para os brasileiros de um lado e, por outro lado, pressionado por Portugal, recebe uma petição com 8 mil assinaturas (do povo?), solicitando sua permanência. Imbuído de heroísmo, prontamente responde: “Como é para o bem geral da nação, estou pronto, diga ao povo que fico”. E assim ficou conhecido como o “Dia do Fico”.[1]

Aqui há um lado da “história”. O outro lado é mais interessante e tem tudo a ver com o atual momento do país.

A Independência não nasceu porque os brasileiros nutriam um ideal de nação e queriam construir um país livre da tirania econômica, política e social de Portugal. A Independência foi um jogo de cartas marcadas. Estava-se mudando o cenário econômico. Portugal, como se esperava, estava atrasado em termos de tecnologia. A poderosa Inglaterra aparecia no cenário e, como se sabe, dominaria o comércio “mundial”. A Independência, como jogo de cena, teve forte influência dos ingleses. Em linhas gerais, o Brasil deixa um chefe (Portugal) e serve um patrão (Inglaterra). E mais uma vez quem ganha? O povo brasileiro? Claro que não! São os mais de 8 mil que assinaram a petição para o digníssimo D. Pedro. Produtores rurais que detinham escravos em suas fazendas. O modelo econômico, desde a colônia, sempre favoreceu essa classe – uma elite dominante que estabeleceu os limites do liberalismo brasileiro. Com a mudança de Portugal para a Inglaterra, essa elite continuaria lucrando e fazendo o mesmo de sempre, só que agora com alcance maior, uma vez que os ingleses estavam dominando mares e oceanos.

E o D. Pedro?

A preocupação com a população nunca esteve na sua agenda. Um déspota mulherengo que, uma vez livre de Portugal, achou que poderia fazer o que bem entendesse, como, por exemplo, mandar fechar a Assembleia Constituinte (1823) porque se irritou com os deputados.[2]

A Independência tem as suas facetas na história e a econômica não é a única, obviamente. Diria que é a mais importante. Além das disputas políticas no primeiro plano, a Independência estava configurando uma nova fase econômica. A elite intelectualizada do Brasil estava percebendo que o comércio mundial estava sendo dominado, hegemonicamente, pelos ingleses e a industrialização estava batendo à porta, logo uma nação deixar de ser colônia, estava dando sinais claros de que participaria do sistema econômico que emergia. 

O D. Pedro deveria dizer outra coisa (“como é para o bem geral da nação, estou pronto, diga ao povo que fico”). O melhor seria: “Se é para o bem geral dos grandes proprietários de terras, dos donos de escravos, do futuro da economia com os ingleses, eu fico”.

Dizem que a história se repete. No caso do Brasil é um replay.

O que se viu no país desde 2016, com o impeachment de Dilma Rousseff, foi um jogo de cartas marcadas. A oligarquia branca e elitizada do país, julgou que as coisas precisavam melhorar, não para o povo, para os grandes empresários. É aqui que surge o programa do PMDB denominado “Uma Ponte para o Futuro”. Nesse programa, as principais propostas são de reformas duras com caráter imediato que atende, principalmente, a classe empresarial. O Temer, chega à Presidência da República por meio de um golpe parlamentar que tem nas ruas uma cortina de fumaça que levanta a bandeira do “abaixo à corrupção”. Ainda que “legal”, mas não legítimo, ele tem como propósito implantar as medidas apresentadas no programa “Uma Ponte para o Futuro” (futuro de quem?). Uma vez lá, ele já colocou a Reforma Trabalhista – que prejudicou ainda mais a classe de trabalhadores, deixando-os reféns dos patrões quando um acerto entre empregador-empregado está acima da Lei. Agora, a pauta é a Reforma da Previdência, mexendo, mais uma vez, com os menos favorecidos, exigindo um tempo de serviço exorbitante, enquanto as grandes corporações não se toca.

Mesmo com fortes indícios de corrupção, o Temer segue seu curso, porque o seu maquiavélico plano ainda está de pé, qual seja? Tornar a economia favorável para os herdeiros da velha colônia. Com graves acusações de corrupção (daí a prova de que a narrativa do “abaixo à corrupção” nunca foi a preocupação), o Temer continua, postiçamente, seguindo como Presidente. Quando acusado pelo Procurador-geral da República por ocasião do seu encontro com Joesley, ele faz diferente do D. Pedro, não manda fechar a Câmara dos Deputados, compra-os para que votem contra a denúncia do Procurador.

Qual o jogo? Mercado. Se não fosse ele (o senhor Mercado), o Temer já teria sido expulso de Brasília, com ou sem “pedalada fiscal”. Como é para o bem dos empresários, ele segue dizendo: “eu fico”.


[1] COSTA, Luís César Amad & MELLO, Leonel Itaussu A. História do Brasil. São Paulo: Scipione, 1999, p. 147-151.
[2] NARLOCH, Leandro. Guia politicamente incorreto da história do Brasil. 2. ed. São Paulo: Leya, 2011, p. 279. 

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