Estavam
atentos ao tema abordado. O assunto? Bem, falávamos de como os evangelhos
apresentam um Jesus que tem a missão de subverter, de desdizer o que era dito,
de suplantar a prédica estabelecida e inverter lógicas de poder e subalternidade.
Por
ser um grupo que se prepara para o símbolo do batismo, a abordagem dos textos
não são exegeticamente precisas, até porquê esse não é o objetivo. O viés
político e ideológico do texto, bem, esse não tem como ignorar.
Bom,
na conversa chegamos ao texto de João 2,1-11. Jesus no casamento de Caná.
Chega
uma hora que a palavra “metáfora” surge para falar dos temas que o texto
aborda.
Na
conversa sobre o texto, a pergunta aparece:
-
Quando usamos a palavra “metáfora” quer dizer que o texto tem mais do que está
aí? É isso?
Com
certeza! (Imagine a minha alegria quando alguém consegue enxergar no texto o
que não está patente, mas nas entrelinhas, como um tear que entrelaça as linhas
e os fios, mas no fim o tecido está ali).
“Na
linguagem usamos metáforas para uma relação de semelhança entre dois termos.
Quando fazemos um caminho de transposição
de sentidos”. (Lembrei-me de Ricoeur e o seu texto Metáfora viva).
Assim,
o evangelho de João é uma construção textual em que os “milagres” são sinais e esses sinais (metáforas) querem dizer algo mais do que está sendo dito (texto)
ali. O sinal indica o ponto de vista
humano no qual a atenção está voltada não tanto para o milagre em si, mas para aquilo que é revelado para quem consegue enxergar mais longe.
O
evangelho de João surge em meio às dificuldades de uma gente que quer vivenciar
o amor; que tem uma liderança que prioriza a fraternidade; as relações de poder são diminuídas, surgindo o serviço ao outro como demonstração de
cuidado.
A
narrativa do casamento é o primeiro sinal.
É uma narrativa que procura construir uma comunidade solidária e sensível às
pessoas.
O
casamento era representativo para o povo de Deus (Israel). Era um sinal entre o povo e Deus.
Quando
em um casamento falta o vinho, era
como um aniversário faltar o bolo.
A
falta do vinho (ter acabado), pode
ser uma referência à falta de amor; a
incapacidade de realizar a partilha e a solidariedade.
Faltar
o vinho é dizer que o sistema, baseado na Lei, deixou de ter a
sua alegria; não cumpre mais aquilo
que Deus deseja.
O
amor (vinho) foi substituído pela Lei. “Eles” tornaram a relação com Deus em
outra coisa que não combina com a alegria e a celebração. Algo que dizia apenas
às regras e o velho e rotineiro jeito de fazer as coisas.
Vamos
beber!
As
talhas, coloquem água.
-
Jesus, as talhas servem para a
purificação!
Coloquem
água nelas...
No
lugar da purificação vem o vinho (amor). E do melhor ainda!
Se
mais alguém chegar na festa, antes de procurar se purificar – por estar na rua
e ser um lugar impuro – irá beber o
melhor vinho da festa.
O
nosso texto ganhou sentido naquela noite. A poesia
superou a prosa. Não é o
literalismo do texto, é para além dele...
Uma
noite boa, em volta do evangelho e um sentido de comunidade surgindo e sendo
maturado.
A
vida em comunidade deveria ser assim.
Quando se chega não há talhas para a
purificação, há vinho para a
celebração.
Não
são as regras e a Lei que garantem o relacionamento amoroso com Deus, é o amor
e a alegria.
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