Quando
tomamos conhecimento da morte de inúmeros presos no sistema penitenciário de
cidades do Norte do país, presenciamos falas, não somente nas redes sociais,
mas também de integrantes desse governo postiço, de que a tragédia estava
anunciada e o seu desfecho era algo esperado, portanto, algo que apenas entrava
para as estatísticas como números com o fim de gerenciar valores para um sistema que, há muito
tempo, vem se mostrando ineficiente. Os “evangélicos”, principalmente esses que
escutam e se identificam com os pastores televisivos que, ora estão em Brasília defendendo uma agenda
intolerante, ora estão visitando a sede da PF, também foram às redes sociais
para expressar suas opiniões. Com isso, demonstraram o que, de fato, vai na “alma”
dos evangélicos, ou, pelo menos, em uma parcela deles.
Não apenas
o fatídico episódio envolvendo presos no Norte do país deixou a sociedade brasileira atônita, mas também no Sudeste (Vitória/ES), vimos o caos nas ruas de uma bela cidade por conta da greve de policiais
militares. Com a ausência de policiamento, pessoas saquearam o comércio
varejista, além dos inúmeros delitos cometidos. Nesse ato, dos saques, há
relatos, inclusive com fotos nas redes sociais, de pessoas consideradas de “bem”,
carregando eletrodomésticos pelas ruas. Dentre essas pessoas, se comprovou que “evangélicos”
estavam envolvidos e, depois de apuradas as imagens dos estabelecimentos
comerciais, muitos começaram a devolver o que tinham levado.
Com esses dois incidentes, foi possível perceber, não que isso seja recente, que há um antagonismo entre o discurso e a prática dos “evangélicos”. O discurso, a priori, toma (ou deveria tomar) como ponto de partida a mensagem do evangelho. Nessa mensagem, pelos menos nos Evangelhos que narram a caminhada de Jesus de Nazaré, há elementos de compaixão, de amor, de perdão, de alteridade. A mensagem central de Jesus, o reino de Deus, acolhe o que mais precisa, levanta o desvalido, socorre o doente, visita o preso e alimenta o que tem fome. Em Mateus 25,31-46, por exemplo, os presos são visitados e isso caracteriza o fazer aos pequeninos de Jesus.
Que
a relação entre discurso e prática envolvendo a ética do “evangélico” é dicotômica, não
é novidade. Há estudos disponíveis que demonstram isso em escala histórica. A ética no “universo evangélico” se
concentra em aspectos individuais, dependendo de qual grupo está se referindo. Nesse
sentido, há diferentes perspectivas de moralidade
em alguns setores do “universo evangélico” que pode ser a negação de certas
roupas o ponto central, como também a abstinência de bebida alcoólica, o tabagismo
e o sexo antes do matrimônio e a homossexualidade. Essas são as principais bandeiras morais que caracterizam o comprometimento com um certo cristo. Com isso, o
discurso ético se dá em perspectiva individual, e o nome disso é ética cristã. A relação com o contexto
social é desprovida de uma ética solidária
e comprometida. Nesse contexto, é possível uma manifestação de que a justiça divina foi feita em relação aos
presos assassinados no Norte do país, demonstrando completa insensibilidade,
fruto de uma leitura superficial da realidade social e sua complexidade. Assim,
houve “crentes” que entenderam como julgamento
escatológico a morte dos presos. Isso demonstra, com tristeza, que o evangelho de Jesus está equidistante de
uma leitura de compaixão e justiça, pois muitos entendem que o chavão “bandido
bom, é bandido morto” está correto. É claro que os problemas sociais do país
são enormes, mas aqui estamos focando em atitudes,
principalmente aquelas que foram veiculadas nas redes sociais, de pessoas que
se identificam como “evangélicas”. Essas pessoas que assim se expressam, também
são as mesmas que entram em lojas para pegar o que não lhe pertence porque,
naquele momento, não há “lei”.
Há uma
diferença qualitativa entre presença e
visibilidade dos “evangélicos” no
Brasil. A visibilidade dos “evangélicos”
é um fato há algum tempo na sociedade brasileira. A mídia favoreceu o estar visível
e as grandes concentrações em estádios e avenidas, fortaleceu a ideia de que os
“evangélicos” estão conquistando espaço.
Assim, o domínio de alguns setores da
economia e da política, são dedicados aos “evangélicos”.
Quanto à presença dos “evangélicos” no país, no sentido de tornar tangível posturas tolerantes carregadas de misericórdia e justiça, que tenha na alteridade o principal elemento de ação e leitura social, ainda se constitui em processo.
Quanto à presença dos “evangélicos” no país, no sentido de tornar tangível posturas tolerantes carregadas de misericórdia e justiça, que tenha na alteridade o principal elemento de ação e leitura social, ainda se constitui em processo.
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