Esse ano a Reforma Protestante completa
498 anos (31 de Outubro de 1517). A contagem regressiva para os 500 anos da
Reforma Protestante está dada, um feito histórico que definiu os rumos do
cristianismo e favoreceu mudanças em diferentes vertentes da sociedade.
Indubitavelmente a Reforma abrigou aspectos que não são plausíveis, como as
guerras religiosas, mas também favoreceu abertura de caminhos que o mundo
contemporâneo ainda respira suas “conquistas”.
No Brasil a Reforma bateu à sua porta
por duas ocasiões, antes da inserção definitiva do comumente denominado
protestantismo(s) de missão.
A primeira se deu com a chegada dos
huguenotes – calvinistas franceses. Na França as batalhas religiosas provocaram
inúmeras mortes, como a mais sangrenta delas, conhecida como o massacre de São
Bartolomeu. Além disso, as disputas e conflitos entre católicos e protestantes
agravaram a instabilidade política e econômica do país. É dentro desse contexto
que Nicolau Durand de Villegagnon chega à baía de Guanabara em 1555 com o sonho
de fundar no Brasil a França Antártica. Tal empreitada não obteve êxito
principalmente por disputas internas entre Villegagnon e os pastores, enviados
e recomendados por Calvino, envolvendo questões doutrinárias como a
transubstanciação, por exemplo. De um modo geral, as disputas entre os
calvinistas franceses e Villegagnon envolviam prestígio pessoal e questões
políticas.
A segunda presença de protestantes no
país se deu com os holandeses.
Um país dominado pela Espanha, a Holanda
também enfrentou conflitos envolvendo católicos e protestantes. Depois da
Revolta dos Camponeses, os holandeses se revoltam contra o rei espanhol, Felipe
II. Abraçam o calvinismo e a liberdade que almejavam, destituindo assim um
sistema absolutista.
Nesse tempo, a Holanda é um país com
ares de liberdade religiosa, recebendo grupos de outros países que buscavam
vivenciar a fé fugindo da perseguição religiosa. Entre eles estão os
anabatistas e depois os batistas (1609). Por esse tempo convivem luteranos, bem
como anabatistas e calvinistas.
É dentro de um contexto de guerra, que
os holandeses se lançam ao mar a fim de pilhar riquezas dos espanhóis. Assim,
chegam ao Brasil em 1630. Estabelecem o comércio no país e dão enormes
prejuízos aos espanhóis e portugueses quando capturam seus navios.
Os holandeses, ao que parecia, possuíam
condições favoráveis para estabelecer uma colônia bem sucedida no Brasil. Dois
motivos eram bem claros: comércio e propagação da fé reformada.
Uma vez no Brasil, há registros de
tolerância religiosa entre reformados e católicos, com alguns excessos de ambos
os lados, mas ainda assim os católicos poderiam exercer sua religião de maneira
livre nos seus espaços. Diferente da posição portuguesa, que não admitia
nenhuma outra expressão religiosa que não fosse católica.
Um dos principais objetivos dos
holandeses reformados no Brasil foi à evangelização dos nativos. Para isso,
enviavam líderes nativos para serem educados na Holanda a fim de voltarem e
continuarem a propagação da fé reformada. Entre esses estão Pedro Poti, um dos
líderes mais destacado nessa face de evangelização holandesa no país.
A reforma que não aconteceu de maneira
concreta, contribuiu para o avanço da economia, ciências, artes e liberdade
religiosa. Foram os primeiros a desenvolver literatura religiosa em três
idiomas (holandês, tupi e português).
Um período de guerras e traições
culminou na retirada dos holandeses em 1654. Quando os católicos procuram recristianizar o território até então ocupado pelos holandeses, se dão conta do
projeto político, econômico, educacional e social que a pequena reforma deixou
no território. O padre Antônio Vieira, chegando lá para tal trabalho, se depara
com algo assim: “uma verdadeira Genebra de todos os sertões do Brasil, porque
muitos dos índios pernambucanos foram nascidos e criados entre os holandeses”.
A proposta da reforma impetrada pelos
holandeses deixaram os padres atônitos com o que viram. Os trajes com que se
vestiam e a capacidade de ler e escrever. Além disso, o aspecto religioso era
notório na fé reformada. Era outro modelo de inculturação, diferente do modus operandi dos portugueses.
Diferente dos huguenotes, os holandeses
deixaram uma marca, favorecendo uma mentalidade cristã reformada entre os
nativos do Brasil.
Em uma época onde a questão religiosa
era tão impregnada com as demais áreas da vida em sociedade, sem a presença do
secularismo contemporâneo, os holandeses no Brasil demonstraram o espírito
reformado, deixando uma clara diferença entre os dois modelos de colonização e
religião quando comparado ao português.
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