O mundo vem se surpreendendo cada vez
mais com a capacidade de crueldade e desprezo pela vida do chamado “Estado
Islâmico” (EI).
O último ato de barbárie do EI foi a
morte de vinte e um cristãos coptas do
Egito, pelo modo mais medieval possível, a decapitação.
Os cristãos coptas no Egito remontam ao século I. Segundo a tradição eles tiveram contato com o cristianismo por meio do “apóstolo
Marcos”.
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A Igreja Ortodoxa Copta de Alexandria é
independente e não está em comunhão nem com a Igreja Ortodoxa nem com a Igreja
Católica. A separação aconteceu após o Concílio de Calcedônia, no ano de 451.
Embora haja igrejas coptas de tradição católica e protestante.
O último dia 15 de Fevereiro, o mundo
conheceu o martírio dos vinte e um
cristãos coptas na Líbia. O que
chamou a atenção do Ocidente foi o “recado” deixado pelos jihadistas: “uma
mensagem assinada com sangue para a nação da cruz”.
Por mais que a cristandade tenha suas diferenças, assim como no islã também, todos ficaram extremamente
estarrecidos com o ocorrido.
É claro que o fundamentalismo, palavra cunhada nos EUA no século XIX, está
presente tanto no catolicismo, protestantismo e islamismo. Cada qual com seus
métodos e maneiras de lidar com o outro,
na tentativa de desqualificá-lo religiosamente por não pertencer ao seu
segmento religioso.
Com o EI, o fundamentalismo ganha
contornos de violência extrema, por não aceitar outra religião no seu espaço de atuação.
Mas olhemos para cá, o Brasil.
Com o martírio dos cristãos coptas,
foi possível ver diversas manifestações de solidariedade nas redes sociais. Frases como “eu também
sou do povo da cruz” foi a mais vista. Mas o que significa isso?
Bem, aqui nada!
Lá, os coptas são pobres e vão para a Líbia procurando trabalho.
Lá, a situação de perseguição no país, de maioria mulçumana, foi intensificada contra
os coptas, principalmente depois que
o ditador Hosni Mubarak foi deposto, em 2011. Lá ser cristão não significa
viver bem, significa ser perseguido e, como aconteceu e vem acontecendo,
morrer.
Cá, é diferente. É gente procurando o
“apóstolo” ou o “bispo” tal, porque ele irá resolver os problemas financeiros
ou de saúde.
Cá não tem martírio, ninguém é exposto
com a sua fé, até porque está na “moda” ser gospel.
O cantor sertanejo tem a sua imagem arranhada por inúmeras situações com
bebida. Da noite para o dia, decide que é cantor gospel. Alguém aí levanta a questão: “mas ele se converteu!”. Ah
sim, deve ter se convertido... Está cada vez mais difícil nesse universo gospel a conversão ser desprovida de
interesse financeiro.
Outro caso, a moça tem uma experiência
“traumática” com o corpo, porque ela é filha desse tempo em que a futilidade é
marca preponderante. Ela vai parar no hospital e quando sai se torna “bispa” e
irá ter um programa na TV de uma igreja que não faz outra coisa a não ser
construir um império em nome da “fé”.
Por aqui “o povo da cruz” precisava
descer da cruz os crucificados (uma expressão de Jon Sobrino) que são
martirizados por um sistema econômico que segrega os menos desprovidos de capital.
Por aqui “o povo da cruz” precisava ser
unido no sentido de cobrar da classe política do país responsabilidade com os
gastos públicos. Um “povo da cruz” não se conformaria com a precarização do
Sistema Único de Saúde (SUS).
Se lá ser cristão significa morrer, aqui ser cristão significa nutrir uma espiritualidade
marcada pelo consumo onde se busca a “bênção” de Deus.
Todos ficamos chocados com o ato
desumano do EI com aqueles irmãos. Eles morreram orando...
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