Compaixão
é a capacidade de sentir a dor do outro. Tod@s os
seres humanos tem essa capacidade, pois ela não se dá apenas a partir de
valores éticos, mas no processo de cognição humana. É possível ignorar a dor do
outro, mas não é possível anular o sentimento de que foi de alguma maneira,
tocado com a dor do outro.
Assim como somos capazes de sentir compaixão
pelo outro, deveríamos ser capazes de sentir compaixão social.
Em relação à compaixão interpessoal, somos despertados quando vemos noticiário
onde há, por exemplo, crianças envolvidas. Sentimos compaixão quando sabemos
que alguém foi assaltado e levaram o carro da família. Já a compaixão social não é tão mensurável assim.
Há uma concepção de que não é preciso
ter compaixão com quem não tem
emprego ou não pode fazer no mínimo três refeições ao dia. Há uma dificuldade
em atender as necessidades básicas de uma família onde a miséria faz parte do seu cotidiano.
Por que somos capazes de nutrir
compaixão na relação pessoal e, ao mesmo tempo, nem tod@s, é claro, serem insensíveis
às necessidades do outro quando o plano da discussão se dá no econômico?
Para Jung Mo Sung – pesquisador que tive
a oportunidade de ser aluno –, há pensadores que assumem a defesa do livre
mercado propondo uma postura ativa para desenvolver a insensibilidade social frente aos sofrimentos dos menos
competitivos, dos os pobres e excluídos do mercado, como um fator necessário para a modernização e o
progresso econômico.
A lógica por trás dessa insensibilidade social é simples. O economista,
ganhador do Prêmio Nobel em Economia em 1974, Friedrich Hayer, considerado um proeminente
articulador do neoliberalismo, entendia
as coisas assim: tendo como pressuposto a complexidade
do mercado, não é possível conhece-lo perfeitamente. Assim, qualquer tentativa
em solucionar problemas sociais é uma intervenção
na economia. Como o mercado não pode ser conhecido de modo suficiente, essa
intervenção prejudica o mercado que precisa ser livre. Quando o mercado está
ineficiente, gera crise econômica e crise econômica, consequentemente, gera
crises sociais e mais problemas para os mais pobres. Dessa forma, a causa do
aumento da pobreza e dos problemas sociais seria a tentativa de solucionar conscientemente os problemas sociais. O mais
sensato é não procurar intervir com Programas Sociais.
Uma vez o mercado tendo uma “mão
invisível”, qualquer iniciativa em amenizar ou encurtar a pobreza através do
Estado, é prejudicial ao sistema de livre mercado. A sensibilidade social,
segundo os neoliberais, que funciona não é aquela que é resultado de planos e
ações organizados pela sociedade e o Estado, mas sim aquela produzida pela
dinâmica do mercado.
Dentro de um contexto de eleições, foi
possível ver a polaridade de dois discursos. Não por parte dos candidatos à
Presidência, pelo menos de maneira explícita, mas por parte do eleitorado de
segmento e condição socioeconômica distinta.
De um lado um eleitorado sustentando um discurso
neoliberal, onde os recursos do
Estado não poderia, necessariamente, serem direcionados para Programas Sociais,
uma vez que tais programas acomodam pessoas e a atividade econômica não é satisfatória.
Quem assim articula, pensa que o Estado está fazendo mais mal do que bem
providenciando recursos para os mais pobres. Frases como “é preciso ensinar a
pescar e não dá o peixe” são as mais usadas. O eleitorado do Sul e do Sudeste
do país advoga, na sua maioria, essa concepção.
Por outro lado, houve um eleitorado que
continua contrariando as ideias neoliberais de Hayer. Para esses não é possível
deixar que o livre mercado dê conta de famílias que estão empobrecidas. É preciso
desenvolver a compaixão social. Enquanto
isso, o sistema econômico vigente continua produzindo suas vítimas que são
sacrificadas em nome do livre mercado. É preciso ter compaixão social, sentir a dor do outro. Se deixar por conta do
sistema econômico com o seu livre mercado, não apenas a mão será invisível (expressão de Adam Smith), como o ser humano
também continuará invisível em suas necessidades. Não por acaso que os
Programas Sociais vêm sendo intensificados no país. Programa como o Bolsa
Família, por exemplo, em dez anos contribuiu para que 12 % dos beneficiários deixassem
o programa após renda melhorar, ou seja, com o aumento da renda, quase 1,7 milhão de famílias
abriram mão do benefício em uma década (Confira!).
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