A relação de Israel com Deus foi pautada em termos humanos. Daí a
uma linguagem para falar com Deus a partir do ser humano e sua estrutura antropológica.
Sendo assim, Deus também tem ouvidos e braços por exemplo. Além disso, há uma
atribuição a Deus de sentimentos típicos
do ser humano como raiva e, porque
não, ciúmes. A indicação de não ter “outros
deuses fora de mim” (Ex 20,3) é uma relação de fidelidade com Javé. Por outro lado quando há a
possibilidade de escolher não ter “outros deuses fora de mim” é porque, em
algum momento, há outros deuses que
podem ser adorados também.
A religião de Israel demorou em compreender
certo monoteísmo (ideia de que há um
único Deus). Há quem diga, e eu não sou nenhum especialista em Antigo Testamento,
apenas um curioso e apaixonado pela Bíblia, de que sempre houve uma monolatria, ou seja, o envolvimento com um Deus, sem, necessariamente, negar a existência de outros deuses. Exemplo: pois todas as nações andam, cada uma em nome dos seus deuses, mas nós
andaremos em nome do Senhor, o nosso Deus, para todo o sempre – Miquéias 4,5.
A crença
na existência de outros deuses se
deve, possivelmente, ao fato de que deuses
eram territoriais, ou seja, geográficos mesmo. Por essa razão as guerras no Antigo Testamento
eram religiosas e quando um povo se sobressaia sobre o outro os elementos de
culto ou ritos eram destruídos, houve uma vitória de um deus sobre outro.
Quando Davi é forçado por Saul a deixar o
território de Canaã, ele alega que me
expulsaram hoje para que eu não tenha parte na herança do Senhor, como que
dizendo: vai, serve a outros deuses – 1Sm 26,19. Um Deus geográfico que atuava nas fronteiras do povo de Israel e fora
dessas fronteiras havia a possibilidade de estar adorando outros deuses.
A concepção de que Deus possa ser único será um trabalho para o período do
cativeiro babilônico, ou seja, o exílio, e mesmo assim ainda é possível haver
diversas construções.
Mas vamos ao ponto que gostaria de chegar.
Está havendo hoje uma espécie de Deus geográfico que só age em alguns
lugares e só vê determinado tipo de pessoas, geralmente àquelas que são
encontradas “fiéis” em doar, fazer “prova de Deus” e que, de alguma maneira,
provocou a bênção de Deus e ele se
viu na obrigação de abençoar com um carro novo ou com uma casa que o indivíduo
nunca teve dinheiro para comprar.
É incrível como a Teologia da Prosperidade
vem mascarada em algumas igrejas que promovem campanhas para determinar milagre uma vez que milagre não pode ser determinado ele acontece de maneira inesperada
e inusitada e não tem hora marcada e nem local para acontecer, do contrário não
seria milagre – isso porque há muita divergência
em torno desse tema, milagre. Enfim, a Teologia da Prosperidade quer fazer crer
que “Deus” age em determinados locais, na Igreja X ou na Comunidade Y e essa
ação de “Deus” é marketing para
atrair mais pessoas para a Igreja X ou a Comunidade Y. Parece que fora das
fronteiras de determinadas igrejas as “bênçãos” de Deus não acontecem. Que pena de você, o seu lugar é aqui! Não é por
mero acaso que há um “apóstolo” que, recentemente, descobriu que tinha uma “quadrilha
de pastores” desviando o dinheiro de seus fiéis, faz uso do seguinte slogan: “a mão de Deus está aqui Brasil”.
Só ali. Assim como no Antigo Testamento que nos seus primórdios em conhecer a
Deus como Javé o concebeu como um Deus territorial.
Só que temos um problema quando nos
encontramos com o Deus de Jesus. Ele diz
que Deus faz nascer o seu sol sobre maus
e bons, e vir chuvas sobre justos e injustos – Mt 5,45. Em outro lugar ele
proíbe pedir bens materiais e diz para buscar em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, que em Mateus tem conotação
social, e as demais coisas vão sendo
acrescentadas.
Uma coisa ou outra. Ou o Deus geográfico dos teólogos da
prosperidade voltou novamente ou o Deus
de Jesus está totalmente equivocado. Aí é uma questão de escolha.
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