Revelar
é mostrar, ou apontar, para um aquém. Pelo menos é assim que a palavra (conceito)
desde Heródoto veio a significar, ou seja, desvendar, manifestar.
A linguagem é meio indispensável para a
comunicação e as palavras servem para nomear, narrar, conceituar experiências que vivenciamos. Sem a linguagem não haveria a organização do nosso “mundo”, ela
define o que somos e o que pensamos. O filósofo Wittgenstein, estudioso da
linguagem, vai dizer que no jogo de
linguagem é o aprendiz que dá nome aos objetos (coisas). Ainda lidamos com
a dialética no pensamento ocidental, por culpa dos gregos, e sempre estamos
tentando decifrar a coisa, ou seja, o
objeto visto, experienciável. Rubem Alves, leitor de Wittgenstein, irá acentuar
de que as “linguagens são construções da realidade”, sendo assim, a linguagem
exerce um domínio, uma força que, de alguma maneira, nos aprisiona, e, ainda
com o mineiro que é campineiro, ela nos enfeitiça. Em suma, toda a reflexão,
seja que nome possa dar, é fruto de uma linguagem que exprime nossos palpites sobre o “mundo” ou acerca
dele.
A palavra revelação, e sua tradução, sendo uma herança dos gregos também, é uma
linguagem que procura expressar aquilo que estava encoberto e veio à tona, o
que estava oculto e foi
possível desocultar. A palavra revelação
ficou tão restrita ao campo religioso, no caso aqui ao cristianismo desde o
primeiro século, que a filosofia prefere o termo desvendamento por conta da
ambiguidade etimológica da palavra.
O Novo Testamento (NT) é linguagem e o grego está na sua construção.
Sendo assim, o NT é fruto de uma linguagem e, portanto, procura decifrar experiências que pessoas
tiveram com o Deus de Israel e, posteriormente, com Jesus de Nazaré. Nesse sentido
a linguagem expressa, ou, de alguma maneira, procura decifrar aquilo que essas pessoas vivenciaram.
Tendo isso como pressuposto, a Bíblia (o texto) em si não
seria a revelação. Essa afirmativa
pode chocar alguns por achar que ela, a Bíblia, é a Palavra de Deus enquanto
letra. Está aí mais uma tremenda confusão, pelo menos para mim. Palavra de Deus
não pode ser texto, ou seja, linguagem, esta, a linguagem, expressa àquilo que
se vivenciou e não pode ser um instrumento em si puramente, mas um apontar para.
Neste sentido a Palavra de Deus é uma pessoa
e não um texto. O texto só foi possível porque houve uma pessoa e não ao contrário. A carta aos
Hebreus (1,1-2), por exemplo, deixa isso bem claro: “nestes últimos dias nos
falou pelo Filho”. Em Colossenses (1,15) temos a seguinte afirmativa: “ele
(Jesus) é a imagem do Deus invisível”. Os exemplos bíblicos podem ser multiplicados
facilmente e o exemplo mais cabal disso é a questão de Filipe com Jesus:
mostra-nos o Pai (Jo 14,8-9).
A revelação não é a
linguagem do texto, mas uma pessoa. A linguagem é usada para expressar aquilo
que está diante dos olhos e mesmo assim ela ainda não dá conta: “o que era
desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios
olhos, o que contemplamos e as nossas mãos apalparam, com respeito ao verbo
(palavra = logos) da vida” (1Jo 1,1).
A revelação de Deus
só é possível em uma pessoa, Jesus. E este, não ensinou sobre a onipotência, onisciência
e a onipresença de Deus, aliás, uma linguagem adotada a partir de conceitos
gregos, linguagem essa que o NT não usou e muito menos Jesus para falar do Deus
Pai.
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