O capítulo 18 do Evangelho de Mateus é conhecido
como o “Sermão Comunitário”. É um capítulo magnífico do ponto de vista da
comunidade que se reúne em torno de Jesus, mas que tem os seus problemas, conflitos,
alegrias e confrarias.
O texto abre com uma pergunta dos discípulos de
Jesus: “quem é o maior no reino dos Céus?”. Em outras palavras, quem poderia
ser o melhor, ou exercer poder entre nós?
A comunidade de Jesus estava ganhando notoriedade
e, como algo consequente da interação humana, a disputa por poder dentro da comunidade
estava sendo o foco.
Um estudioso do tema, poder, é o francês Michel
Foucault, alguém que estudou a relação de poder e seus desdobramentos na
construção social, produzindo dois textos sobre o assunto: Vigiar e punir e Microfísica
do poder. Para ele o poder se dá na relação entre saber e poder. O seu
esquema, naturalmente, é pensando a partir da construção da sociedade contemporânea,
mas Foucault deixa bem claro que essa relação envolve todos os aspectos da
atividade humana. Voltando para o nosso texto mateano, a pergunta quem é o maior no reino dos Céus remete
a uma relação de proximidade e conhecimento de alguns discípulos com Jesus. Quem
está mais próximo de Jesus, neste caso, pode chegar a se considerar que sabe
mais que os outros que não estão tão próximos assim, desta forma os primeiros
tem prerrogativas, que consideram naturais, para exercer certo controle sobre
os outros.
Essa lógica de poder que domina uns aos outros e
procura controlar a dinâmica da ekklesia,
não cabe na comunidade que Jesus é o Senhor. A comunidade é pensada a partir
dos pequeninos, é pensada a partir
das crianças. O que ressalta aqui é a condição metafórica da criança. Crianças são
dependentes; elas não têm pretensão de poder e dominação. Apenas sendo criança
que se entra no reino dos Céus. Esse é o caminho, tornar-se como crianças. Não
é se tornar santos, heróis, fiéis praticantes da Lei e do culto, mas crianças.
Na igreja temos o Altar e o Livro (Bíblia),
elementos que são facilmente manipulados por àqueles que querem exercer o
poder, controlar de alguma forma a dinâmica da comunidade ou, até mesmo, não
permitir que a comunidade tenha fluidez do Espírito. Daí quem acha que administra
o Altar ou quem lê o Livro, pode achar que, por essa proximidade, tem mais
conhecimento, sabe mais, ter a pretensão em querer dominar os demais. É uma
pena.
É preciso ser criança, se rebaixar mesmo, ser um
baixinho na comunidade. Aliás, os adultos deveriam aprender com as crianças,
principalmente na sua sinceridade, quando crescemos aprendemos a mascarar
sentimentos nos tornando-nos pessoas que perdem o lúdico na caminhada da vida,
infelizmente.
No texto de Mateus, Jesus nos pede para nos
rebaixar, nos colocar na mesma altura da criança, para poder olhar nos olhos
dela, para poder deixar bem claro que ela não precisa ser “grande”. E ser “grande”
é uma preocupação dos adultos e eles transferem essa obsessão às crianças principalmente
quando perguntam: “o que você vai ser quando for grande?”, uma pergunta um
tanto inútil. É hora de ser criança e os adultos aprenderem com elas, pois
somente assim entraremos no reino dos Céus quando ficarmos tranquilos no colo
do Pai.
Nesta semana das crianças, compartilho minha oração
com você: Pai, me livre ser grande.
Um comentário:
Caro Alonso,
Li o seu comentário no texto que postei, sob o título "O Contraste" (natanaelgabrieldasilva.blogspot.com.br) e daí, é claro, fiz a leitura de sua crônica. De fato, considerando o num contexto mais remoto do que analisei, Jesus caminha para o Templo, local já pertencido ao mal, conforme a metáfora do capítulo 4. O mal do início será resistido, e aquela religiosidade institucional e opressora, receberia o duro golpe da recriação, se utilizarmos as imagens de João. De certa forma, a pergunta pelo divórcio é tão desumana e secundária quando a desumanidade do poder, aquela faz parte desta, como discurso segregador e excludente. Se isso for verdade, então estamos como parceiros em outro texto, além do "Pastoreio e Compaixão". Obrigado pela meditação.
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