É claro que na Bíblia, mais especificamente
no Novo Testamento, há diferentes perspectivas quanto ao Juízo Final. Paulo,
por exemplo, formula a concepção de Juízo Final em 2Co 5,1-10 a partir da parúsia (Παρουσία), ou seja, a
expectativa da segunda volta de Cristo. O julgamento,
nesse caso, se dá na esperança de estar com Cristo e, sendo essa união ainda
impossibilitada, ela orienta a conduta cristã tornando essa realidade (no caso o julgamento) presente
na vida do cristão.
No
caso do evangelho de Mateus é interessante. Estou olhando aqui a porção do
capítulo 25 versos 31-46. Aliás, os capítulos 24 e 25 é uma preciosidade do
evangelho de Mateus. Usando uma linguagem apocalíptica, o texto descreve a vida
da comunidade de fé fazendo uso de imagens e figuras do mundo judaico. Sucintamente,
as “dez virgens” trata da vigilância da comunidade; os “talentos” da
produtividade dos membros da comunidade. Aqui irei olhar o último tópico do
capítulo 25, o julgamento.
Trata-se
de uma parábola, ou seja, não é algo
a ser visto como literal. Quer passar
uma mensagem. Qual? O amor demonstrado aos pequeninos
de Jesus será o critério do julgamento. Na realidade não está se
descrevendo algo para o futuro, está se alertando para algo do presente, ou
seja, do cotidiano da comunidade de fé. As imagens de pastor com suas ovelhas e
cabritos sugere a vivência da
comunidade. Tanto um (ovelhas) quanto o outro (cabritos), o critério será a fé
vivida (vs. 34-40).
Aqui
há uma linguagem de amor, de carinho, de cuidado, de solidariedade para com o
próximo.
O
mais incrível, é que os justos (ovelhas)
não se deram conta de que estavam servindo a Jesus por meio dos pequeninos.
Sede,
fome, nudez, enfermidade, prisão e ser estrangeiro. São questões prementes no
tempo de Jesus. Hoje temos essas e mais algumas também. E quem não passa por
crises na vida? Quem não fica doente? Quem não passa por necessidades básicas
como comer, beber e se vestir? Não se trata de ajudar assistencialmente aqui,
se trata de respeito e dignidade para com o ser humano. A questão é o modo, a
maneira de tratamento entre os irmãos que não querem ser grandes.
No
evangelho de Mateus, àqueles que conheceram Jesus não irão estranhar o critério
de julgamento do homem de Nazaré. É presumível de que saibam a maneira como
Jesus requer o tratamento dos seus irmãos.
A
questão do julgamento não poderia servir de elemento de terror entre os irmãos.
Não se trata de culpa e medo para o “último dia”. Antes, trata-se de vivência
entre irmãos. A parábola quer acentuar mais uma vez: a relação com Deus (=vida)
passa pelo outro. O evangelho de Mateus é o evangelho da alteridade. O processo
de se colocar no lugar do outro nos torna mais humano. Aqui o visitar alguém em
sua necessidade vale mais que frequentar o culto um ano inteiro. Não é por
acaso que Tiago será categórico: “a religião que Deus, o nosso Pai, aceita como
pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades”
(1,27).
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