“Gastamos todo o
tempo em que estamos juntos passando a ferro as inúmeras e pequenas questões
que dizem respeito à perpetuação da instituição (igreja)” – Paulo Brabo.[1]
Quando
li essa frase de Brabo pensei: e se fosse diferente?
Hoje
as pessoas na igreja (como instituição), gastam um tempo enorme discutindo
questões triviais e supérfluas em torno de temas que, na sua grande maioria,
não tem nada a ver com o Reino de Deus, com o fazer discípulas e discípulos de
Jesus. É gente que adora ficar em
reuniões intermináveis querendo saber se a cor do templo será azul ou amarelo;
é gente que gosta de discutir se o programa X irá mesmo ocorrer e se ele não
acontece alguém é o culpado, geralmente o pastor, para não fugir a regra; é
gente que se preocupa muito mais com o horário do culto do que propriamente com
o culto; é gente que gosta de cobrar a presença de pessoas nos encontros de
estudos bíblicos, nossa famosa EBD, mas não consegue vivenciar no dia a dia a tolerância,
o amor fraternal e o perdão.
É
por essas e outras razões que levou Paulo Brabo a dizer: “o lugar (templo) em
que o cristão está servindo passa a significar mais do que o modo (a exemplo de
Jesus) como ele está servindo”. O templo, o ajuntamento, não é visto como um
lugar de festa, mas sim de obrigações. Quando se entende que igreja é mais um
lugar de obrigações do que de ajuntamento, o legalismo e o tradicionalismo tem assento
permanente.
E
se fosse assim...
- Um lugar onde as pessoas ficassem chateadas,
aborrecidas e, até mesmo magoadas, se não ocorresse aquele abraço no momento do
culto;
- Um lugar onde todos reclamassem em alto e
bom som se a reflexão bíblica não tentasse imprimir na vida o agir de Jesus e
sua maneira de enxergar o Reino de Deus;
- Um lugar onde as pessoas observassem bem os
participantes da celebração e quando notassem que aquele irmão ou irmã não
estava presente, quando em casa a primeira coisa que fariam era pegar o telefone
e ligar para saber se estava tudo bem e se precisa de algo;
- Um lugar onde as pessoas pudessem se amar ao
ponto de se importar menos com as regras e mais com o ser humano.
Esse
lugar existe e o Novo Testamento chama de IGREJA.
Igreja
existe para adorar a Deus e procurar vivenciar o mais próximo possível a
caminhada de Jesus. Ele, Jesus, mantinha a agenda livre porque estava disponível
às pessoas. A igreja de hoje mantém-se ocupada, mas tão ocupada com os seus
programas e reuniões importantes que
não pode estar disponível nem mesmo para os próprios irmãos. Essa, com certeza,
não é a igreja que Jesus pretendia ter.
O
livro do teólogo alemão Gerhard Lohfink[2] tem um título
interessante: Como Jesus queria as
comunidades? Ele diz que as comunidades de Jesus, por terem o seu Espírito,
seriam comunidades de seguidoras e seguidores de Jesus. Comunidades em que o
principal objetivo é amar, incondicionalmente, amar.
Ah
se fosse assim...
[1] BRABO, Paulo. Instituições, disciplinas
e a geografia da devoção. In. GOUVÊA, Ricardo Quadros (Org.). O que eles estão falando da igreja. São Paulo:
Fonte Editorial, 2011, p. 61-70.
[2] LOHFINK, Gerhard. Como Jesus queria as comunidades?: a dimensão
social da fé cristã. São Paulo: Paulinas, 1986.
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