A Convenção Batista do Estado de São Paulo
(CBESP) vem se notabilizando com uma iniciativa interessante, repensar conceitos
eclesiológicos a partir da teologia, história e cultura, ou seja, a iniciativa
é refletir sobre o papel da igreja em uma cultura mutante e uma religiosidade
plural.
O Congrego de Eclesiologia 2013 teve como
participantes/preletores Josué Melo Salgado e meu amigo Jorge Pinheiro. No
primeiro Congresso (em 2012) tive o prazer de ser parte da Comissão de Parecer.
Neste Congresso teve, atendendo ao pedido da Comissão do primeiro Congresso, apenas
dois palestrantes para um maior tempo de reflexão e debate. Neste foram
abordados temas que no primeiro já haviam sido ventilados: pastorado feminino,
representatividade batista, teologia salvacionista, modelos eclesiológicos e
afins. Confesso que esperava algo mais apurado neste último Congresso, até
porque tinha como palestrante Jorge Pinheiro, um dos teólogos batistas que,
juntamente com Alessandro Rocha (do Rio de Janeiro), vem se destacando pela profícua
produção teológica e intelectual no protestantismo brasileiro e no meio
batista.
Em relação ao Congresso 2013, algumas questões ficaram
mais evidentes. É bem-vinda a orientação quanto ao recebimento de pessoas que
querem ser batizadas e a legalização do casamento impede. Quantas pessoas não
se tornaram membros de uma igreja porque o cônjuge não quer oficializar o
casamento e essa pessoa, na maioria mulheres, não pode participar da comunhão
(ceia) porque ainda não foi batizada. O Documento do Congresso traz:
Batismo de pessoas não
casadas civilmente - O batismo
é uma ordenança bíblica que a igreja deve cumprir e todos aqueles que decidem
se tornar discípulos de Cristo devem ser batizados (como ordenança não
cumpri-la é pecado). O casamento é
instituição divina antes do estabelecimento das culturas, da igreja e do Estado.
Cada cultura e período da história (embora com suas próprias variações) demonstraram
reconhecimento social do casamento formal, como compromisso de companheirismo
para toda a vida. A igreja deve reafirmar o casamento e a família como
instituição divina e como ideal divino para o bem estar da pessoa e da sociedade.
Deve também ministrar o batismo para todo aquele que professa sua fé em Cristo
e apresenta sinais de novo nascimento através de um novo modo de pensar e agir
em conformidade com a vontade de Deus. Não deve, entretanto, descumprir esta
ordenança, deixando de batizar aqueles que, não estando casados civilmente
também estejam impossibilitados de resolver sua situação (como nos casos em que
o cônjuge não crente resiste à formalização do compromisso). Neste sentido,
cada caso deve ser avaliado com cuidado pela igreja.
Esse é um passo importante. Apesar de saber que algumas
igrejas já vêm procedendo desta forma, o Congresso (lê-se CBESP), apenas contribuiu
para disseminar algo que muitas igrejas do Estado de São Paulo vêm realizando,
ou seja, dá a oportunidade de pessoas que entregaram as suas vidas à Cristo,
passaram a frequentar a comunidade de fé, a contribuir e participar de
atividades e eventos na igreja, mas não podiam participar daquilo que nos
define e nos torna igreja, a Ceia do Senhor, ou seja, a Celebração da Comunhão.
O que impedia? Um casamento consolidado há anos, mas não formalizado, mas que o
Estado entende como União Estável.
Excetuando isso, a eclesiologia que se mostrou
no Documento do Congresso ainda toca em assuntos que são comuns a um grupo fechado
com uma linguagem hermética que apenas os iniciados dominam.
Infelizmente ainda existem discussões em torno
da “unção com óleo”, algo tão irrisório para o contexto atual do mundo e da
igreja. Outra tolice sem precedentes é a questão de novos “apóstolos” e “bispos”
no ambiente batista. Isso é baixo. Chega a ser ridículo. Já não basta às
bizarrices do neopentecostalismo mais tacanha que há no país com sua vertente midiática
protagonizando uma disputa de poder pelo campo religioso e agora ter que ver em
ambiente batista alguns que se acham portadores de uma “espiritualidade” que
chega a ser gnóstica se chamando de “apóstolo” ou “bispo”! Francamente isso
demonstra ainda mais a ausência de uma agenda que realmente importa para a
sociedade e o Evangelho.
Infelizmente o Congresso vem demostrar que
questões miúdas ainda ocupam púlpitos e mentes de pastores e líderes que não
estão nutrindo uma teologia holística, mas sim uma microfísica do poder (Michel
Foucault) dentro de seus guetos eclesiásticos.
É uma pena que assuntos como “unção com óleo” e “clube
apostólico” com sede nos Estados Unidos (e nem mesmo em Jerusalém é) tenha
ocupado o tempo e a reflexão de gente que deveria estar contribuindo ainda mais
para uma leitura contemporânea do Evangelho de Cristo na nossa cultura. Enquanto
isso, continuamos cultivando uma igreja fechada em si mesma travando disputas de
poder (“unção com óleo” e “apóstolos”), enquanto Cristo deixou o exemplo: quem
quiser ser “grande”, seja escravo.
4 comentários:
Olá Pastor,
Deixa ver se eu entendí: quanto ao casamento, ficou decidido que cada Igreja, no seu âmbito, resolve como achar melhor, isso?
Saudades de todos,
Noemi
Olá Noemi,
Que satisfação ver um comentário seu neste modesto blog (rsr).
Vamos ao assunto. O Documento do Congresso de Eclesiologia da CBESP, está dando parecer favorável ao batismo de pessoas que seu cônjuge não queira se casar. Mas como o sistema de governo da Igreja Batista é autônomo e democrático, cada igreja julga melhor cada caso, mas o Documento recomenda: essa pessoa que tem seu marido ou esposa, e vivem juntos a um bom tempo, quer se tornar membro da igreja, e seu cônjuge não quer se casar, deve ser batizada. É isso. O Congresso julgou, acertadamente, que o casamento civil, reconhecido pelo Estado, não pode estar acima de uma ordenança como o batismo.
Um abraço em todos aí.
Pr. Alonso Gonçalves
Boa tarde!!
não acredito que seja viável, assim como Deus fala e é claro sobre o julgo desigual, sobre pesos e medidas... então eu acredito que primeiramente "coloca-se a casa em dia e depois com muita oração vem para igreja como nome no rol de membros" uma vez que batismo não salva, é apenas uma ação publica do que já aconteceu, ou o que já está decidido dentro do coração. Paz do Senhor
olá pastor. concordo plenamente com a decisão do congresso. pois ao meu ver não deixa de ser uma descriminação porque uma pessoa não pode ser penalizada por uma decisão do seu companheiro(a) de formalizar o casamento civil.
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