A cristologia tem suas variações dependendo do lugar em que as Boas Novas (proclamação – kerigma) chegam. Dois contextos importantes na leitura da cristologia do 2º Test se dão em ambiente judaico (uma cristologia de cunho escatológica) e helenista (uma cristologia mais cosmológica). Sem falar na cristologia de Hebreus, das Pastorais e do Apocalipse, que tem uma diversidade de conceitos e ideias incrível.
Na questão eclesiológica não é diferente. O 2º Test traz uma pluralidade quanto à organização, desenvolvimento e liderança dessas comunidades, ocasionando um ambiente rico e profícuo de entender e viver como igreja. Quem faz um trabalho competente e imprescindível neste sentido, é Jürgen Roloff (erudito alemão) com o seu texto A igreja do Novo Testamento, onde ele aborda as diferentes matrizes da eklésia do 2º Test.
No caso do pastor, o 2º Test apresenta uma evolução no conceito dependendo da situação (Sitz im Leben) em que o texto está inserido.
Nos sinóticos, por exemplo, Jesus pastoreia o povo de Israel. O seu cuidado se dá porque aquele povo era como ovelhas que não tinham pastor (Mc 6,34). Um povo abandonado pela classe religiosa, marginalizados pela ala mais radical da religião judaica, o farisaísmo; um povo que estava à espera do Messias e nutria a sua esperança nele. A esse povo Jesus se dá como pastor, como alguém que tem compaixão da multidão.
Em Paulo, o pastor é chamado por Deus para ensinar a comunidade, para ser despenseiro dos mistérios de Deus (1Co 4,1-2); para consolar, exercer cuidados como os de pai e mãe (1Tess 2,7 e 11).
É claro que Jesus não ensinou a hierarquia. Aliás, ele mesmo deu o exemplo quando lavou os pés dos discípulos. Nele somos todos um. Paulo irá completar isso em Gl 3,26-29 de que em Cristo não há homem ou mulher, escravo ou livre. Sendo assim não haveria distinção; não há quem seja mais importante que outro. É claro que essa concepção foi compreendida de diferentes maneiras dentro da diversidade do 2º Test. Nas igrejas paulinas o líder era uma figura carismática, exercendo sua liderança a partir de pressupostos espirituais e não institucionais. Razão porque ele tinha em cada cidade pessoas que abrigavam a igreja em sua casa (conhecidas como igrejas domésticas). Seus auxiliares no ministério pastoral foram Tito e Timóteo e, não sempre mais ajudou Corinto, Apolo. Nas comunidades domésticas a liderança era variada e não havia diferença entre homem ou mulher. Paulo reconhece a liderança de Febe na igreja de Cencréia, de Evódia e Síntique em Filipos e Áquila e Priscila como obreiros de redobrada dignidade.
Já em Jerusalém a liderança era sinagogal, um conselho de presbíteros que exercia o pastoreio principalmente na cidade de Jerusalém.
Quanto às Cartas Pastorais a função do pastor ou bispo é institucionalizada. Ele agora recebe esse ofício pela imposição de mãos e tem a responsabilidade de proteger a comunidade de ataques internos (disputas entre irmãos) e externos (as heresias). A ênfase recai sobre a “sã doutrina” como um depósito que precisa ser protegido a qualquer custo. Essa perspectiva que predominou no conceito de pastor, principalmente o capítulo três de 1Tm que nem mesmo Paulo (para aqueles que advogam que as Pastorais são da pena de Paulo) cumpriu todas as exigências ali expostas.
Com a Reforma Protestante a figura do pastor ficou reduzida ao ensino e a ministração das ordenanças (sacramentos). Pastor deixa de ser um conceito polivalente para conotar a uma pessoa.
Pastor tem a ver com a missão da igreja; pastor é sinônimo de cuidado e não de título; pastor não tem gênero, é tanto homem quanto mulher.
Olhemos para o supremo pastor, Jesus.
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