29.3.12

DEVANEIOS SOBRE POLÍTICA

Alguns detestam. Outros não querem nem mesmo ouvir falar. Outros ainda a ignoram completamente. Mas o fato é que ninguém vive sem ela, a política. É uma pena, mas muitos são analfabeto político, para citar o poeta alemão Bertolt Brecht (1898-1956) que dizia:

O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, [...] nascem o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra e corrupto [...].

O mais interessante no texto de Brecht, é que ele escreveu isso há tanto tempo e essas linhas continuam sendo atuais, muito mais ainda por aqui, no Brasil.

Quem diria eh Aristóteles, como a sua semântica – política – mudou tanto ao longo dos anos. Se lá na Grécia política significava os “negócios da cidade” hoje, com muito pesar, ela significa, para uma grande maioria, os “negócios do bolso”. É lamentável.

Numa coisa Aristóteles tinha razão, “o homem é um animal político”. O filósofo grego dizia que a partir do momento que se vive na cidade (polis = cidade, portanto cidade não são os prédios, as ruas, mas sim as pessoas, daí a ideia de política, no entender grego, de cidadania) é um ser político, porque o homem tem uma ferramenta que o distingui dos outros animais, a linguagem. E é ela que organiza a nossa realidade e nos torna comunicáveis nas relações humanas. Daí a política ser um meio para promover o bem comum dos cidadãos.

Mas como seria bom viver em um país onde as pessoas votassem em seus candidatos pelas suas ideias, propostas, projetos e vida comprometida com a “coisa pública” – que é o real sentido da palavra república.

Como seria bom não poder ver nenhuma faixa no Posto de Saúde ou no Hospital recém-inaugurado ou reformado agradecendo ao Executivo as melhorias realizadas. Quando isso acontecer será um atestado de maturidade política dos cidadãos, pois aí eles já teriam aprendido de que eleição é apenas uma maneira de contratar um gestor público e o patrão, de fato e de direito, é o povo.

Como seria bom não ver ninguém apoiando ninguém em suas candidaturas. Agindo assim, os candidatos estariam dizendo a todos de que não querem induzir ninguém a votar em seu correligionário. E por outro lado as pessoas estariam exercendo a sua cidadania de forma mais concreta, sem intermediários no processo democrático.

Como seria bom não ver políticos profissionais como José Serra e tantos outros por aí que fazem uso de manobras marcadas dentro do seu partido para sair candidato a qualquer cargo do Executivo, seja ele presidente, governador ou prefeito. Seria bom o povo dar um basta nesses políticos que só aparecem em ano eleitoral. Pega na mão de tanta gente que nunca viu, mas nem mesmo irá se lembra do nome.

Como seria bom não ver os eleitores trocarem a democracia conquistada com vidas por sacos de cimento, tijolo e benesses. Seria bom ver os eleitores questionando seus candidatos quanto a melhorias em temas tão básicos como saúde, educação e bem comum, e não querendo obter alguma coisa em troca do seu voto.

Acho que isso não seria possível, por enquanto. Mas quem sabe um dia.

Por enquanto apenas devaneios mesmo sobre a arte da politica, como diriam os gregos.

Por ora a música Coração civil de Milton Nascimento e Fernando Brant serve de utopia – Quero nossa cidade sempre ensolarada; os meninos e o povo no poder, eu quero ver.

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