6.4.12

ENTRE O ALTAR E A MESA – DUAS COMPREENSÕES SOBRE A PÁSCOA NO EVANGELHO DE LUCAS 22,1-30

No evangelho de Lucas há uma diversidade de códigos de leitura incrível. A criatividade da comunidade/autor em dar dinamicidade à narrativa é de encher os olhos.
Quero me ater a uma, das diversas leituras de Lucas, a mesa.

A mesa/comunhão é um dos temas centrais no evangelho de Lucas. Temos a mesa de Levi (o cobrador de impostos); a mesa do fariseu e a mulher pecadora; a mesa de Marta e Maria e tantas outras.

Mas uma da mesa principal em Lucas é a mesa da Páscoa, da última ceia. Mas ele faz um paralelo interessante entre a Páscoa da mesa (dos discípulos) e a Páscoa do templo (dos sacerdotes). Ambos têm algo em comum, a Páscoa – a celebração do povo de Israel por conta da saída do Egito – mas têm também compreensões diferentes.

A páscoa do templo tem sacrifícios, tem comida em abundância. É sinônimo de alegria, de celebração. Há pessoas, a priori, consagradas por Deus para levar o povo à adoração e conduzir uma das festas mais importantes do povo de Israel, a Páscoa.

Em outro cenário está Jesus e seus discípulos para comer a Páscoa em uma casa ao redor de uma mesa. Lucas coloca uma diferença peculiar aqui. Há a Páscoa do altar (sacerdotes) e a Páscoa da mesa (discípulos).

A Páscoa do templo e a Páscoa da mesa há um contraste proposital colocado por Lucas – aliás, Lucas faz esse paralelo no capítulo 1º também quando faz uma ponte entre o sacerdote Zacarias que recebe a visitação do Senhor (anjo) no templo e duvida, e a moça camponesa (Maria) recebe a visitação do Senhor (anjo) num casebre e aceita a mensagem. Aqui no capítulo 22 Lucas coloca a Páscoa do templo (sacerdotes) com sua preocupação cerimonial, com sua pseudosantidade, com suas leis, seus sacrifícios. O templo é um lugar onde pessoas, os sacerdotes, estão a serviço de Deus e a favor do povo. Tudo isso é uma prerrogativa do templo, da instituição. Está dentro da legalidade; está dentro da concepção teológico de Israel. Portanto, o templo era o lugar, ou deveria ser, legítimo da celebração pascal.

Mas é no templo que ocorre a trama da traição em troca de dinheiro. Isso se dá porque o sistema religioso quando perde o seu propósito tenta eliminar qualquer ameaça a sua estrutura.

A religião institucional, geralmente, se preocupa em arrumar o altar, em preparar o sacrifício, mas também desconsidera a vida, o ser humano quando pretende defender o sistema religioso e é capaz de matar por isso.

Em outras palavras Lucas está dizendo: o templo não serve mais para celebrar a Páscoa. Por outro lado ele está dizendo: não é mais um templo, e sim uma casa; não é mais um altar e sim uma mesa; não é mais um sacrifício e sim um pão repartido; não são sacerdotes, mas sim irmãos.

Que tenhamos uma ótima celebração de Páscoa neste domingo em torno da mesa.

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