O tema que a Associação das Igrejas Batistas do Brasil (AIBAVAR) escolheu para a reflexão deste ano é ao mesmo tempo desafiador e importantíssimo para a nossa realidade.
Tive o privilégio de iniciar este tema
na Segunda Igreja Batista em Jacupiranga (11/02/2012) por ocasião do seu
aniversário. Por estar naquela comunidade – conhecida pela sua maturidade e importância
para a comunidade batista da região –, pontuei algumas coisas que entendo ser imprescindível
se de fato houver interesse em ser relevante neste tempo.
O tema – Igrejas relevantes neste tempo –
é abrangente e ao mesmo tempo carrega uma série de dificuldades. Primeiro é
preciso pensar o que seja a igreja, a
sua relevância para este tempo, ou seja, em que ela se sobressai em importância
dentre outros segmentos sociais; depois é preciso fazer uma leitura deste tempo, saber ler os sinais deste tempo e
a cultura pós-moderna que sempre está em processo de mudanças.
Além disso, o protestantismo de um modo
geral e os Batistas em particular, tem as suas dificuldades de se inserir na cultura, de dialogar com o diferente. Ainda reina em
nosso meio uma mentalidade igrejeira
de gueto mesmo, onde o dualismo santo (templo) e profano (sociedade) funciona
como uma barreira para entender essa cultura e sociedade. Esses são os
desafios.
A questão é de que precisamos beliscar a
própria carne para ser relevantes, ou seja, é preciso pontuar algumas coisas
essenciais em nosso contexto e procurar mudanças que nos dê a perspectiva de
sermos relevantes. Diferente do apóstolo Paulo (1Co 9.19-23) que soube lidar
muito bem com a cultura judaica e helênica, com os postulados do judaísmo, mas
também com a cosmovisão grega, padecemos de alguns paradigmas que fomentem esse
diálogo, igreja e sociedade.
O primeiro ponto que podemos considerar
axial nesse debate é a questão do Reino
de Deus ou a Denominação. Faço esse jogo dialético porque sobra em nosso
ambiente eclesial uma preocupação além da conta com a Denominação. Aprendemos que a denominação, e não o cristianismo, é
que deve crescer e avançar. Aprendemos a usar palavras de guerra para dizer que
a denominação precisa avançar sobre o “território inimigo”, mesmo se há outras
representações de igrejas no lugar aonde se quer chegar. Fomos ensinados que
abrir templo é sinônimo de crescimento do Reino de Deus, como se o Reino de
Deus fosse algo físico, onde as pessoas pudessem tocar em suas paredes (Lc
17.20-21). O denominacionalismo suplantou o Reino de Deus. Isso é claro no
Brasil que segundo Paul Freston não
existe uma Igreja Evangélica Brasileira, mas sim diversas denominações disputando
espaço.
A igreja é chamada para sinalizar o Reino de Deus. Isso só é
possível quando a igreja se convence da sua missão, que é ser continuadora do
Reino de Deus inaugurado por Jesus.
Uma segunda perspectiva que precisa
passar por um doloroso processo de revisão são as estruturas. Somos fascinados por estruturas. Na faculdade ou seminário
aprendemos como funciona uma igreja a partir de um organograma, um modelo de ser igreja baseado em funções e cargos. Há
igrejas que priorizam suas construções em detrimento do ministério pastoral.
Parece que temos um espírito salomônico, quanto maior mais a aparência de que
está dando certo!
As estruturas corroem os recursos
financeiros; pessoas disputam poder nas estruturas; se gasta mais tempo com estruturas
do que com pessoas. O Novo Testamento prioriza gente. Igreja é estar junto; ser
comunhão. A valorização deve ser por um ambiente fraterno; de acolhimento; de reconciliação;
um lugar onde Deus pode ser contemplado na face do irmão.
Na comunidade – e não nas estruturas –,
os valores são outros: a solidariedade perde para a poupança e o compartilhar
ganha de goleada do acumular. Não são as estruturas que fazem a igreja, mas os
irmãos; não são as funções que fazem a igreja, mas os dons espirituais. Isso é
algo que precisa ser revisado urgentemente!
No nosso tempo fala-se muito em espiritualidade. Já existem aqueles que
nutrem a sua espiritualidade sem qualquer vínculo com a igreja, no seu sentido
institucional. Temos uma resistência com a experiência da espiritualidade.
Fomos ensinados a nos concentrarmos na ritualização e isso é sinônimo de
santidade.
Rick Warren comenta: “igrejas dirigidas por tradição querem
perpetuar o passado. Mudanças são quase sempre vistas de forma negativa e
quando não há mudança é porque as coisas estão estabilizadas”.
Lendo O Jornal Batista, um irmão colocava que a igreja perdeu a sua
espiritualidade ou santidade. Para ele isso ocorreu porque permitiu entrar a
“banda” na igreja! Será que temos tempo para discussões deste nível ainda?
A igreja ritualista tem sérias
dificuldades em desenvolver um ministério de espiritualidade social. Para entender essa ideia, conto a estória do galo que fazia o sol nascer: “o galo dizia que ia cantar para o sol
nascer, e todas as manhãs ele cantava e o sol nascia. Todos acreditavam nele,
pois foi assim com o galo-pai e o galo-avó. Todos tratavam o galo com o maior
cuidado e muitos mimos. Ele abusava disso e ameaçava os outros bichos para ser
bem tratado. Certa madrugada o galo perdeu a hora e o sol nasceu sem o seu
canto – todos os bichos falaram ao mesmo tempo, o sol nasceu sem o galo! O
próprio galo não conseguia acreditar como isso era possível. Ele ficou
deprimido e todos os bichos ficaram felizes, pois o sol nascia com ou sem o
canto do galo”.
O surgimento de uma igreja que seja
pública, ou seja, que olhe para a cidade com graça e ternura, precisa fazer um
caminho de introspeção – analisar o que impede de se comunicar adequadamente com
a cultura que tem como característica a mutação. Esse processo é moroso e
doloroso, mas extremamente necessário. Isto é se estivermos dispostos a ser
igreja relevante para este tempo.
2 comentários:
Creio que estas considerações coloboram na construção de uma visão mais pura e menos pragmatica e denominacional sobre a igreja. Um abraço
Obrigado pelo comentário.
É sempre difícil refletir abertamente sobre nós mesmos, mas se queremos ser relevantes precisamos aprender a ter uma leitura de cultura e sociedade com o coração aberto.
Vamos continuar refletindo.
Grato,
Pr. Alonso Gonçalves
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