É fato que a cultura teológica no País é produzida de fora para dentro. Desde que este continente foi alvo da evangelização dos missionários, a reflexão teológica foi gestada por outros centros teológicos como o europeu e, principalmente, o norte-americano. É claro que a teologia e sua reflexão é dinâmica e sempre estamos aprendendo e refletindo com outros saberes quer para fundamentar a reflexão teológica, quer para criticar outros segmento de conhecimento, quer para coadunar com a teologia. Por isso, vertentes teológicas de outros países surgem e contribuem para o aprofundamento da reflexão e isso, de um modo geral, não é ruim.
Ocorre que no Brasil a produção literária não acompanha as perspectivas do contexto latino-americano e brasileiro, com algumas exceções é claro. Um exemplo do que estou tentando dizer é o fato de estar havendo uma crescente publicação de livros sobre apologética (ramo da teologia que pretende “defender a fé”). São congressos, palestras e livros que seguem está linha, sendo na sua grande maioria de palestrantes, preletores e autores estrangeiros.
Apenas em nível de constatação segue uma tabela dos principais livros de apologética publicados em duas importantes editoras no âmbito protestante que ostentam produzir livros teológicos para o País.
A veracidade da Fé Cristã: uma apologética contemporânea
William Lane Craig (Vida Nova)
Há uma batalha intelectual travada nas universidades, nas publicações especializadas e na mídia como um todo. No calor dessa batalha, nossa próxima geração de líderes tem absorvido uma perspectiva evidentemente anticristã.
Apologética cristã cultura cristã
Cornelius Van Til (Cultura Cristã)
O objetivo de Van Til é mostrar que a cosmovisão cristã é a única racional e objetivamente válida. Sem ela, nada faz sentido. Além disso, como tudo no mundo fala de Deus como criador, o apologista cristão pode iniciar uma discussão virtualmente de qualquer ponto da experiência humana e demonstrar como ela expressa a verdade.
Apologética para a glória de Deus
John Frame (Cultura Cristã)
Para pessoas aptas para leitura de material acadêmico de nível universitário que estejam seriamente dispostas a resolver questões que apresentam certo grau de dificuldade.
Apologética para questões difíceis da vida
William Lane Craig (Vida Nova)
O objetivo é que este livro possa ajudá-lo em sua busca de compreender o plano divino, afinal, com diz em 1Pe 3.15, é tarefa de todo cristão estar sempre preparado para responder a todo aquele que lhe pedir a razão da sua esperança.
Compêndio de Teologia Apologética (3 vols.)
François Turretini (Cultura Cristã)
O autor teve como objetivo contrastar a Escritura com perspectivas teológicas conflitantes, particularmente o Catolicismo Romano, o Arminianismo.
Criação ou evolução
John MacArthur, Jr. (Cultura Cristã)
Um desafio a todos os cristãos que fazem ressalvas ao relato bíblico da criação e cortejam os falsos ensinamentos dos naturalistas, que negam o Criador, ensinando que o universo é obra do acaso, e não de Deus. Você entende aquilo em que acredita a respeito da criação? Você poderia defender seus pontos de vista diante daqueles que negam o relato de Gênesis? Neste livro, você encontrará respostas para questões difíceis. Aprenda o que a Bíblia diz sobre como nosso universo começou.
A principal ênfase desses livros é dialogar com a universidade e a sociedade sobre questões de Deus, a existência do Mal, Jesus Cristo. Não sei bem se a palavra seria diálogo uma vez que a apologética reivindica a posse da verdade sobre os temas tratados por ela.
Parece que as editoras ainda não percebeu que o positivismo (o discurso de confrontar com a verdade e provar por meios lógicos de que está certo) não é nem mesmo tratado como prioritário na agenda científica acadêmica brasileira e a cultura do País não é a mesma que da Europa e norte-americana que precisa comprovar fatos verificáveis para se crer. Aqui a religião está no cotidiano; na alegria das procissões; nas celebrações dos cultos; no som dos atabaques.
Já a Teologia Pública, discussão recente no ambiente acadêmico brasileiro, procura fazer outro caminho.
Não é a linguagem do ataque, da comprovação de que se estar com a verdade. É uma leitura que procura pautar a ética social, a justiça social, os direitos humanos, a democracia, a política e a economia. É uma maneira de falar de Deus e sua vontade (Reino de Deus) que seja condizente e intelectualmente possível no emaranhado de ideias, conceitos e comportamentos da atual conjuntura global e social.
É indubitável de que no caso brasileiro a Teologia Pública tenha sérias dificuldades. Primeiro, é sendo comum de que teologia é algo restrito às confissões, sejam elas católicas ou protestantes, sendo assim, a tarefa teológica é reduzida aos seminários e faculdades que formam seus clérigos/pastores. Sendo assim, Teologia é compreendida como um discurso para a igreja e não, propriamente, para a sociedade. É tão real isso, que nos currículos de faculdades e seminários confessionais não há disciplinas sobre a Cultura Brasileira, a formação do povo brasileiro, apenas questões concernentes à tarefa teológica-pastoral, o que é uma pena. Segundo, transportar as confissões, elemento chave nas denominações cristãs. É claro que não é possível fazer Teologia sem confissão, mas para que haja diálogo é preciso romper a barreira confessional para dialogar com outros setores da sociedade e, sinceramente, não será a apologética que fará esse trabalho.
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