5.4.11

IMPRESSÕES DE UMA AULA

Pela primeira vez em anos eu estava em Campinas por ocasião do nascimento do André no dia 12 de Março. Aproveitei a oportunidade de estar em Campinas numa data que não fosse férias para visitar a Faculdade Teológica Batista de Campinas, que, aliás, não tem mais este nome, chama-se agora, por razões legais, Seminário Batista de Campinas, um retrocesso em questões educacionais sem parâmetros, logo na cidade tida como universitária, mas este não é o caso.

Uma segunda-feira. Olhei o quadro de horários e vi as possibilidades de assistir uma aula: exegese do NT, o professor, em conversas já havia adiantado o assunto, é Crítica Textual. Pensei em ver exegese do AT. Não pretendo diminuir em nada a figura do professor, apenas quero fazer uma avaliação de prioridades na educação teológica. É claro que eu não esperava que o professor pegasse um texto e esmiuçasse mostrando algo novo dentro da teologia do autor/texto, procurando em seu contexto correspondências relevantes que clarificasse ainda mais o texto bíblico. Bobagem minha esperar que fosse encontrar isso. Mas lá estou na sala de aula. O professor está ensinado seus alunos a falar hebraico, a ler alguns textos em hebraico, o trecho em questão é o Salmo 1º. Os alunos foram inquiridos a ler e decorar a fonética do texto. Eu os vi tremendo, rindo, alguns chorando de ri e outros saindo da sala de aula. Ler em hebraico o Salmo 1º? Para alguns era demais, para mim também, mas era visitante e suportei bem aquele massacre.

O aprendizado dos originas, hebraico para o AT e grego para o NT, foi uma preocupação puramente protestante. Quando se afirma que a Bíblia é a Palavra de Deus levanta-se questionamentos como: o que é a Bíblia afinal? Diante desse fato, se procurou ler os originais com o intuito de entender o que realmente “Deus” estava dizendo. A língua vernácula não expressa de fato as “palavras de Deus”, os originais sim. É claro que as nossas traduções precisam ter credibilidade textuais, quanto a isso aqui no Brasil tem muita gente competente para isso. O problema é uso indiscriminado do literalismo como instrumento de hermenêutica. Isso apagou a diversidade de formas e estilos literários da Bíblia, ignorando os autores/comunidades, circunstâncias e contextos. Para se entender o texto bíblico se convencionou olhar os originais, pois somente assim é possível entender a Bíblia e seu real significado.

Isso é tão prejudicial para a comunidade que fica refém do pastor/pregador que subtende que conhece melhor a Bíblia porque fala, de púlpito, algumas palavras em hebraico ou grego, dizendo implicitamente que a comunidade não detém um dos principais valores da Reforma, o livre-exame da Bíblia. Aprender hebraico e grego é extremamente importante, falar não vejo tanta necessidade, agora usar o conhecimento, embora rudimentar, dos originais para fazer valer a supremacia do pastor/pregador sobre os seus ouvintes, é lamentável.

Bem, sobre a Faculdade, quer dizer Seminário Batista de Campinas, uma coisa é certa: os meus anos ali foram os melhores dentro dessa instituição teológica, por tudo mesmo, inclusive pelas aulas de exegese tanto do AT como do NT em que, se me lembro bem, não precisei recitar nenhum versículo em hebraico ou grego. Bons tempos. Uma coisa serviu em visitar a antiga Faculdade Teológica Batista de Campinas, passei pelos mesmos lugares e pude recordar as conversas entre amigos, amizades que preservo até hoje; as salas de aulas onde os professores e alunos travavam um constante debate fraterno e respeitoso sobre a diversidade de ideias. Valeu a pena ter ido.

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