O modo de vida hoje é resultado de uma mentalidade que rompe com a Idade Média patrocinada, dentre outros, por F. Bacon e R. Descartes quando coloca a relação do ser humano com o mundo sob o paradigma de sujeito-objeto. Com essa ideologia, a ciência triunfa sobre a natureza, ignorando os seus limites e espaços. A proposta é subjugar a natureza ao conhecimento científico, não importando as consequências. A questão ecológica é deixada de lado e o mundo é objeto a ser desvendado. Teve seus resultados benéficos, mas muito mais maléficos como presenciamos hoje.
O protestantismo, de modo geral, é fruto da modernidade, portanto, compartilha dessa ideologia. Com a ênfase no indivíduo e o processo de dessacralização do mundo (Planeta Terra), este passou a ser visto como útil apenas. A natureza passa a ser matéria-prima para a atividade humana. Decorre disso, a completa omissão para com a criação e a falta de uma espiritualidade ecológica. O protestantismo, como um dos protagonistas do sistema capitalista (M. Weber), contribuiu e muito para o atual sistema exploratório da Terra, quando adotou a cosmovisão utilitarista ao invés da bíblica que apresenta a noção de mordomia e corresponsabilidade para com o meio ambiente.
A atividade econômica do sistema globalizado capitalista quando se atém ao lucro e não respeita a diversidade da vida, a formação geográfica natural de um lugar, a nascente de um rio, a biodiversidade do Planeta Terra, está ignorando a presença de Deus na criação, além de negar, peremptoriamente, de que o ser humano não é parte integrante do ecossistema. Parece que muitos ainda não perceberam de que “quando a última árvore for abatida, quando o último rio for envenenado, quando o último peixe for capturado, somente então nos daremos conta de que não se pode comer dinheiro” (cacique norte-americano Sattel). O clima pede socorro, e os mordomos de Deus na criação ignoram esta tarefa quando discute sobre tantas outras coisas e esquecem o que está aí, a vida e suas mazelas causadas, na sua maioria, pela ganância humana.
A narrativa bíblica da criação nos apresenta a superação de tensões, humanidade-natureza, e oferece caminhos para um viver harmonizado com Deus, com o outro e com a natureza. A criação é fruto do amor de Deus. Com o ato de criar Deus permanece junto a sua criação, sustentando e se relacionando com toda a obra criada. Sendo assim, a criação está toda interligada, numa relação de interdependência, Deus-Terra-Humanidade.
Com a Carta de Niterói, sobre o meio ambiente, os batistas, reunidos para a sua 91ª Assembleia da Convenção Batista Brasileira (CBB) na cidade de Niterói/RJ, estabelece marcos de uma nova era de reflexão sobre a atuação pastoral da igreja no meio ambiente. Isto é salutar, pois ainda carregamos estigmas de uma velha ideia, a de que Deus está interessado apenas com a “alma” do indivíduo, esquecendo de que ele é um ser integrado numa sociedade e no meio ambiente. A Carta de Niterói abre espaço para a igreja refletir sobre a sociedade em que esta inserida e apresentar propostas para amenizar o problema. É possível organizar uma coleta seletiva; ou ainda apresentar projetos junto as autoridade políticas da cidade para uma maior conscientização do meio ambiente. Há diversas atividades que podem ser feitas a fim de contribuir para atenuar os dilemas ambientais.
O momento é de reflexão sobre o tema. É inadmissível para aqueles que creem que Deus é criador e não agir como mordomos da criação divina. Esperamos, sinceramente, que artigos, textos, impressos e online, sejam escritos sobre isso. É bom saber que já há um blog com o título Vida e Meio Ambiente tornando possível o acesso a textos e artigos de opinião sobre o tema. Que possa haver revistas de EBD com a temática, pastores pregando, teólogos discutindo e elaborando fóruns de debate, este é o momento. A CBB já deu o início, resta agora aprofundarmos a discussão. Que seja reivindicando, protestando, trabalhando, refletindo, cuidando, o que não podemos mais é ficar inertes ao tema.
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