O protestantismo do qual somos “herdeiros” era pujante. Um protestantismo comprometido com a política do seu tempo, daí a recusa por qualquer sistema de governo absolutista; um protestantismo partidário da ciência, das descobertas (é claro que daí veio a cosmovisão utilitarista do mundo e seus recursos naturais).
O protestantismo é fruto da modernidade e seus valores como o racionalismo. Lá, o protestantismo teve um envolvimento significativo na política, forjando modelos alternativos de governo por onde passou. Aliás, foi por querer a separação entre igreja e estado que os batistas surgiram na Inglaterra do século XVII. Por lá os protestantes levantaram a bandeira da liberdade em todos os sentidos, inclusive a religiosa. Liberdade para tolerar o outro e suas opções (Locke). A liberdade de consciência e expressão e o conceito de individualidade são o legado da Reforma Protestante.
O que se tornou o protestantismo em terras brasileiras? O protestantismo por aqui sofreu sérias mutações, na verdade ele foi desvirtuado mesmo. Num primeiro momento o protestantismo de missão não soube lidar com a brasilidade – sua formação cultural e religiosa. Com um discurso exclusivista, o resultado foi: 1). O isolamento cultural – tornou a igreja num gueto de “salvos e santificados” esperando apenas o céu. O não envolvimento com o tido “mundanismo” é evidência de salvação, daí a completa falta de inserção na cultura do país; 2). O discurso hermético – extremamente confessional; apologético mesmo. O protestantismo se alimenta de disputas com o catolicismo e propaga um ufanismo, sempre atacando os diferentes, absorvendo a cultura anglo-saxônica e preterindo a brasileira.
O resultado disso é um conjunto de crenças, modismo, ideologias, idiossincrasias que, na sua maioria, não comtempla o espírito protestante.
Apenas para constatar:
Cristologia – o Cristo protestante reside no céu, e logo voltará para buscar os seus que se comportaram muito bem, afinal de contas não é a graça que salva, mas o comportamento, porque por aqui se confunde e muito cristianismo com legalismo. Não se vive sob a graça, mas sob a lei. A liberdade, tanto em Paulo quanto no protestantismo de lá, é solapada por uma série de preceitos, regras. Por aqui o protestantismo de princípios, como a nossa vertente (os batistas), não teve lugar. É lamentável.
Eclesiologia – o cristão protestante vai à igreja e não no templo. A igreja não é uma realidade de salvos que se reúnem para louvor a Deus, mas é uma tarefa que precisa ser cumprida. Desse modo, aqueles que não frequentam os cultos estão com problemas com Deus, porque por aqui se confunde fidelidade a Deus com ativismo religioso. No final das contas, é a igreja (instituição) que salva. É por isso que batismo numa igreja protestante não é uma identificação que o cristão tem com Cristo na sua morte e ressurreição, Paulo estava errado em Rm 6, mas é uma maneira de dizer que aquela pessoa a partir do batismo irá seguir as regras daquela igreja. Portanto, não fico espantado quando vejo igrejas que transformam a Ceia num critério de disciplina e não de pertencimento ao corpo de Cristo. A Ceia se parece mais com uma autoflagelação para o cristão, quando chega o momento ele fica se perguntando: o que fiz de errado para não participar do corpo de Cristo?
O nosso jeito de ser protestante é marcado por um novo fundamentalismo que torna a igreja num gueto social e cultural e forja cristãos neuróticos com a saga de querer agradar a Deus com suas práticas religiosas.
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