Segundo Magali Cunha, uma referência nesse tema, o que temos é uma “cultura gospel”. Isso foi possível porque houve uma ocupação cada vez maior do espaço público com mídias, redes sociais, mas, principalmente, o mercado fonográfico. Isso mesmo. Vender músicas alimenta o mercado gospel como também produz teologia para quem consome o gospel beautiful.
O gospel beautiful é lindo, belo, cheiroso, gostoso, afável, apaixonante. O gospel beautiful leva para as nuvens, tira os pés do chão da realidade e transporta para um estado de espírito onde ocorre o encontro com o self. Quem vive sua vida religiosa a partir do gospel beautiful só precisa ter uma preocupação: deixar a casa para ele entrar e curtir o momento.
Essas bandas que seguiram nas pegadas do sucesso do grupo musical australiano Hillsong, além da mesma postura de palco, luzes e estilo copiado, também procuraram transportar as letras. Quando o repertório acabou, passaram a criar suas próprias letras (óbvio que a qualidade não é a mesma nem aqui e nem na Austrália).
O que temos hoje com essas bandas do gospel beautiful é uma espécie de antropopatia versão 2.0. Fala-se de Deus e, principalmente de Jesus, como se fosse um “namorado”. Por isso ele é lindo, lindo, lindo e mais lindo. E por essa razão é possível estar “apaixonado” por ele perdidamente.
Dentre vários grupos do gospel beautiful, o destaque é a Casa Worship. Sim, essa que tem uma letra em que diz que “deixou a casa” para Jesus, como se houvesse uma para deixar. A letra cantada por Julliany Souza exemplifica muito bem esse gospel beautiful.
Diz a letra:
Te chamam de Deus e de Senhor
Te
chamam de Rei e Salvador
Mas eu me atrevo a te chamar de meu amor
Sim, todas as outras qualificadoras teológicas para Jesus não seriam suficientes, mas agora há um “atrevimento” ao chamá-lo de “meu amor”. A situação muda e tudo fica mais claro e, de maneira indescritível, lindo, porque se trata do gospel beautiful.
E não poderia faltar na letra da Casa Worship o refrão: “Yeshua tu és tão lindo que eu nem sei expressar” (Ainda bem que tenho todas as músicas do amigo Daniel Souza - “Fruto do Espírito”).
E assim temos uma teologia forjada a partir do gospel beautiful, que procura desvencilhar o Jesus de Nazaré da sua missão e a consequente exigência para que os seus discípulos assumam o compromisso de continuarem as suas pegadas. Enquanto isso, uma multidão segue sendo anestesiada com o gospel beautiful. E vai dizer que Jesus não é lindo para essa galera, é bem provável que chamem você de “comunista”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário