A relação de Paulo com a igreja em Corinto
foi tensa em alguns momentos. O apóstolo sofria constantemente “ataques” por
parte da comunidade que tinha preferências por outros líderes e deixava isso
bem claro.
Em 2Coríntios, Paulo enfrenta uma crise
ministerial com a igreja e podemos dimensionar isso em alguns trechos da carta.
As acusações que faziam ao apóstolo
afetavam a sua vida e ministério. Em relação à sua vida, “diziam” que o
apóstolo andava com pessoas “mundanas” (10,2) e o acusavam de não ser de Cristo
(10,7). Quanto ao seu ministério, a sua pregação era questionada e ele passa a
ser considerado um “mau” pregador (11,6). A comparação com Apolo era inevitável
e pessoas da comunidade faziam questão de acentuar as diferenças entre os dois.
Ainda no capítulo 11 (versículo 16), Paulo é tratado como um “louco” (a frona einai),
ou seja, alguém insano.
As críticas são sintetizadas por Paulo
(10,10): “pois dizem: As cartas dele são duras e fortes, mas sua presença
pessoal é fraca, e sua pregação não impõe respeito”. Quanto à sua pregação, quando
olhamos o texto (grego), o correto seria “desprezível” (exouqenhmenoz).
Quando o apóstolo fala sobre sua condição
pastoral, prefere usar o exemplo do barro (4,1-7).
Diante de todas as críticas, Paulo se vê
como alguém que precisa legitimar o seu ministério e enfrentar os seus
acusadores. Isso ele faz e reconhece, como alguém fora de si (capítulo 12), mas
percebe que não vale muito a pena. Há pessoas que ignoram argumentos quando
eles não corroboram o que pensam.
Paulo está lidando com pessoas que não o
reconhecem como um “vaso de barro”. Ele está trabalhando com pessoas que
apostam na autossuficiência do apóstolo. Para esses acusadores, o apóstolo não
poderia demonstrar fraqueza e Paulo faz questão de mencionar a sua fraqueza
(12,5).
É indubitável o amor de Paulo pela igreja.
Mas esse amor não estava alicerçado nas estruturas que alguns da comunidade
queriam ver em evidência na vida de Paulo. O amor que Paulo expressa pela igreja
se dava na comunhão de ideais e principalmente na proposta do evangelho.
Ele quer se mostrar com humanidade à
comunidade e para isso recorre ao tema do vaso que é feito de barro.
O chamado para o ministério, de acordo com
Paulo, se dá porque Deus convoca baseado na sua misericórdia. Nesse sentido,
não se trata de méritos ou diplomas, mas de entender o chamado e atender aos
critérios do Cristo. Há uma responsabilidade para tratar o evangelho, mesmo correndo
um sério risco de não ser ouvido, de não ser atendido. Paulo é consciente
disso.
Mas se o vaso é de barro, há pessoas que
gostam de esmagar potes.
Há pessoas que se apegam as estruturas e
tornam a vida de seus pastores difíceis, não acompanhando o pastor na condução
da igreja por diferentes razões, algumas delas Paulo enfrentou em Corinto, como
preferir a companhia de pessoas que ainda estão “fora” da comunidade ou até
mesmo recusar a instrução pastoral por meio da pregação bíblica.
Pastor é feito de barro.
Uma pesquisa realizada pelo Pr. Lourenço
Stélio Rega (Diretor da Faculdade Teológica Batista de São Paulo) alguns anos atrás
(não há intenção aqui de atualizar os dados), trouxe números preocupantes sobre
o Ministério Pastoral. Destacamos alguns aspectos dessa pesquisa:
- 16% o treinamento recebido no seminário pouco tem servido no ministério;
- 8% se pudesse deixaria o ministério e
procuraria outro meio de sobrevivência;
- 13% o exercício do pastorado empobrece a
vida família;
- 78% não estão satisfeitos com a
autodisciplina no uso do tempo;
- 77% não estão contentes e satisfeitos com o tempo que investe na vida devocional;
- 51% têm de 1 a 5 amigos de verdade (49% não têm?);
- 9% não tem nenhum amigo de verdade;
- 38% não tem desenvolvido uma perspectiva de vida para daqui cinco
anos;
- 30% se sentem mais inferiorizados hoje do que no passado. Se pudesse voltar atrás mudaria muita coisa na vida e ministério;
- 10% a igreja já foi responsável por
desastres na família do pastor;
- 88% tem facilidade em perdoar os que ofendem;
Esses dados, revelam que pastores não são
feitos de ferro ou de aço, mas de barro. O vaso de barro quebra, racha, mas se reconstrói,
se refaz nas mãos de Deus (à exemplo do profeta Jeremias).
O barro demonstra a fragilidade do pastor
e evoca compreensão das ovelhas para com o seu pastor.
3 comentários:
Edificante! Agradeço por contribuir pastor!
"Mas temos esse tesouro em vasos de barro, para mostrar que este poder que a tudo excede provém de Deus, e não de nós. De todos os lados somos pressionados, mas não desanimados; ficamos perplexos, mas não desesperados; somos perseguidos, mas não abandonados; abatidos, mas não destruídos. Trazemos sempre em nosso corpo o morrer de Jesus, para que a vida de Jesus também seja revelada em nosso corpo. Pois nós, que estamos vivos, somos sempre entregues à morte por amor a Jesus, para que a sua vida também se manifeste em nosso corpo mortal."
(2 Coríntios 4:7-11)
Muito Bom!
Muito Bom.
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