Uma frase chamou-me atenção no livro de
Comblin: “pois Jesus foi a revelação do
Pai, mas essa revelação somente pode ser entendida pelo Espírito Santo. Somente
podemos entender Jesus agindo como ele”. Nesta frase há alguns enfoques
seminais sobre a pneumatologia que passo a destacar brevemente.
O Novo Testamento sempre deixou muito claro
que Jesus é a revelação de Deus. Por mais
que alguns queiram colocar a Bíblia como revelação
de Deus, o Novo Testamento parte do pressuposto de que Jesus revelou a Deus
Pai planamente: Jo 14,9 – quem me vê a
mim, vê o Pai. A revelação,
portanto, não é um texto, é uma pessoa –
Jesus de Nazaré. Como Jesus revelou o Pai? Agindo, curando, ensinando, se
relacionando, comendo junto, bebendo junto, participando de festas, andando com
os marginalizados e etc. Tudo isso e muito mais é Jesus! A novidade teológica de
Comblin é que essa revelação só pode
ser entendida pelo Espírito Santo. A questão é como se dá esse entendimento. Há princípio não é um entendimento
intelectual de aprender lendo apenas.
Também não é um entendimento meramente racional, ou seja, é preciso ir além da
mera letra, é preciso agir como Jesus.
Para que a revelação de Jesus sobre o Pai seja entendida por nós – seus
discípulos hoje –, se dá por meio do Espírito Santo, mas se não for possível
compreender como o Espírito Santo atualiza
a prática de Jesus, a revelação que Jesus faz do Pai não será entendida.
Jesus – enquanto portador da mensagem do
Reino de Deus – buscou estar aberto ao outro em suas necessidades e problemas. A
missão de seus discípulos foi em seguir os passos do Mestre, reproduzindo sua práxis em situações históricas diante de
outros contextos e circunstâncias. Aos discípulos de hoje só é possível
entender Jesus por meio do Espírito Santo, e para isso é preciso entender como
o Espírito Santo age nos discípulos de Jesus. Se Jesus foi abertura
incondicional ao outro, ou seja, ao próximo, o Espírito Santo é essa força (δυναμις = Dunamis) que possibilita ao
discípulo a abertura para o outro, porque a tendência geral do ser humano é o
fechamento em si mesmo no egoísmo. No entendimento da revelação e no agir como Jesus
é que se dá a atuação do Espírito Santo.
Diante disso, a ideia de que as
pessoas precisam aprender doutrinas porque assim elas entenderão Jesus é apenas menos da metade. Doutrina, não
necessariamente, ajuda a entender o agir de Jesus. O entendimento racional
sobre Jesus é possível, mas a sua práxis é
que é fundamental. Sem a práxis de
Jesus não é possível entender Jesus plenamente. A atualização da práxis de Jesus é o Espírito Santo que realiza com sua força que impulsiona o
discípulo a agir como ele.
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