Reflexão compartilhada no encontro de pastores (30/06)
Olhando para o pastor de tradição reformada (batista, em especial), vemos algumas dificuldades em compreender o conceito de pastoreio que não seja centralizado no indivíduo. Um exemplo disso é a quantidade de livros que há sobre o Ministério Pastoral que foca inteiramente o ser do pastor, sua santidade, oração, vida piedosa, claro com exceções.
Apenas para fazer uma comparação e elucidar o que estou querendo colocar, uso um quadro comparativo do teólogo/pastor metodista uruguaio Júlio de Santa Ana, em que coloca as diferenças entre o entendimento católico e protestante sobre a pastoral. Enquanto no universo católico a atividade pastoral é a ação coletiva do povo de Deus na igreja, centralizando essa tarefa na comunidade, no protestantismo a tarefa pastoral é apenas de um indivíduo, o pastor – centralizando apenas em um sujeito. É claro que essa maneira de ser pastor no universo protestante é fruto dos reformadores que entendiam a pastoral apenas para um indivíduo e não como missão pastoral da igreja. Isso se deve porque no Protestantismo o pastor detém o discurso do Sagrado e é preparado para isso nos seminários/faculdades confessionais.
Em outros segmentos, como o neopentecostalismo, o pastor/líder deve demonstrar sobrenaturalidade, ser um mágico; no caso pentecostal o pastor/líder a sua imagem de “homem de Deus” e credibilidade ao controle do poder do Espírito Santo. No caso do pastor batista, com exceções, há uma série de mecanismo de controle e detenção do discurso a fim de legitimar o controle do rebanho – por exemplo – o domínio do texto sagrado principalmente quando se usa os recursos dos originais para assegurar a interpretação correta do texto, daí sua palavra não pode ser questionada assumindo uma postura de sobrenaturalidade principalmente, antes do sermão, com a oração para que o pregador/pastor não fale dele mesmo, mas do Espírito Santo. Muitos se valem desse argumento para massacrar, fazer valer a sua vontade na comunidade, afinal de contas ele fala em nome de Deus. Outra ferramenta de controle que o pastor batista, repito com exceções, é a postura de juiz quando julga o que é certo/errado, centralizando nele a manipulação da consciência do rebanho, além de estabelecer uma relação por meio da hierarquia, pastor é pastor, ovelha é ovelha.
O pastor no Novo Testamento (NT) não é, num primeiro momento, uma figura oficializada como temos hoje. É uma maneira de agir, não uma pessoa, é uma postura diante do povo, não um indivíduo, um sujeito. A figura do pastor remete ao cuidado, bem-estar do rebanho. Por isso o pastor não é o pregador em 1Co 14,3, sim o profeta, responsável por edificar, encorajar e consolar a igreja. A figura centralizadora do pastor irá aparecer no NT por conta das ameaças heréticas como o gnosticismo. Daí a necessidade de se ter uma liderança estável, especializada, de autoridade para defender a comunidade de ameaças externas. Isso é muito claro nas Pastorais, por exemplo, 1Tm 3,1-2. A partir daqui o profeta desaparece e o pastor assume a tarefa de pregador, administrador, doutrinador. Daí nosso jeito de ser pastor todo proveniente das Pastorais.
O pastoreio pelo cuidado é expresso em Jo 10, 11-15, o Bom Pastor. Um pastoreio pelo cuidado, pelo estar junto, pelo monitoramento saudável. O pastoreio pelo cuidado ajuda a pessoa a se tornar gente, humaniza as relações, onde o cuidador cresce junto com quem recebe o cuidado; cuidado dispensa a relação de poder; o pastoreio pelo cuidado é uma maneira de tratar as pessoas com suas histórias e singularidades, perdendo aquela visão hierárquica nos relacionamentos.
3 comentários:
Foi muito legal o encontro da ordem. Sua reflexão foi muito propícia e motivadora. Precisamos optar por um modelo pastoral mais bíblico. Um forte abraço.
É preciso aplicar os conceitos corretos do ministério pastoral. Há muitos pastores que estão fora do foco este texto com certeza colobora para fazermos as devidas correções. Um grande abraço!
Colegas,
Agradeço os comentários, isso enriquece ainda mais a discussão.
De fato foi uma manhã prazerosa. Procurei contribuir com esta breve reflexão para um pensar mais bíblico sobre o ser pastor. Abordar não a sua figura, mas a natureza da sua função, como o cuidador, principalmente, baseado em Jo 10.
Muito obrigado,
Pr. Alonso Gonçalves
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