23.6.10

OS EQUÍVOCOS EM RELAÇÃO AO REINO

Não é novidade nenhuma na exegese contemporânea da teologia bíblica do Novo Testamento de que a mensagem principal, primeira, primordial de Jesus foi o Reino de Deus. Ele inicia sua caminhada na Galiléia pregando sobre o Reino de Deus (Mc 1,14-15). Dentro da perspectiva do Antigo Testamento sobre o reinado de Deus, Jesus materializa a presença do Reino a partir das suas ações e pastoral: acolhe os marginalizados da sociedade; expulsa o mal pelo poder de Deus; leva as boas novas do Evangelho. Jesus respira o Reino; sua vida está em função do Reino.

Como é incrível a total desconsideração da teologia protestante (se é que podemos chamar assim) quanto a temática do Reino de Deus. Apenas para levantamento: quantas literaturas para a EBD há sobre o Reino de Deus? Livros? Autores/teólogos que escrevem e dão palestras sobre o tema? Quase nada! É um tema relegado, desconsiderado. No cenário religioso brasileiro temos algumas manifestações que nem mesmo cogitam sobre o Reino. Entre os neopentecostais a ênfase está na prosperidade, no dinheiro como instrumento de bênção de Deus, embora a IURD tenha no seu nome “Reino de Deus”, mas é puramente no sentido financeiro e territorial. Entre os pentecostais o tema nunca foi enfatizado, pois a preocupação era (e é) com o Espírito Santo, o poder, a unção.

O protestantismo (batistas) olhou para Jesus apenas sob a perspectiva do berço, da cruz e da pedra. A história da teologia protestante ignorou completamente o aspecto do Reino de Deus na vida de Jesus. A discussão e maior preocupação foi sobre sua divindade, homem ou Deus? O aspecto pastoral da ação de Jesus foi omitido. Quantos livros sobre o Reino de Deus temos? Nas teologias sistemáticas que tantos gostam o Reino de Deus, na área de cristologia, não aparece! Apenas na discussão sobre o Milênio o Reino irá aparecer, mas ainda em cima de uma discussão inútil: ainda virá, já está aqui, é pré, pós ou a?

Alguns equívocos que fizeram com que o Reino de Deus fosse marginalizado na vida da Igreja. Faço apenas alguns apontamentos. O primeiro deles foi, indubitavelmente, confundir Reino de Deus com expansionismo: essa é uma prática que vêm desde o catolicismo português e passa pelos missionários protestantes no século XIX. Reino de Deus ficou sendo abrir templos; levar o nome da Igreja era o mesmo que expandir o Reino de Deus; conquistar território era o Reino de Deus. Onde não houvesse uma determinada denominação era preciso ter, pois era a expansão do Reino de Deus. Vem daí a nossa dificuldade em entender que em outras vertentes do Cristianismo o Reino de Deus também se manifesta. É claro que o fundamentalismo é o segundo fator de marginalização do Reino de Deus. Com a excessiva preocupação com a “sã doutrina” como a inerrância da Bíblia, a hermenêutica literalista do texto, esqueceu-se do principal, o Evangelho.

O terceiro elemento que marginalizou a concepção do Reino de Deus na Igreja foi o pré-milenismo. O pré-milenismo proliferou na teologia protestante, livros, palestras, seminários, como o PV, Bíblias como a Scofield e a Anotada, além dos pentecostais com suas teorias mirabolantes sobre o “fim do mundo”. Jesus virá, estabelecerá o seu Reino por mil anos, o mal será extirpado e aí haverá paz. Com essa assertiva o pré-milenismo imprimiu no imaginário religioso um final feliz nos fins dos tempos, portanto, o povo é apenas espectadores aqui, vendo as coisas acontecerem e aguardando o céu. Canta-se isso: “sou peregrino aqui, em terra estranha estou...”. Resultado: omissão política e social; desvalorização da cultura.

O Reino de Deus tem uma dupla dimensão: aqui e lá, o famoso já e ainda não. Ele tem o seu início com Jesus e a continuação com a Igreja. Esta, a Igreja, nunca poderá ser confundida com o Reino, ele tem dimensões próprias, mas o Reino será propagado com a ajuda e mediação da Igreja.

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