1.6.08

TERNURA E COMPAIXÃO

O que movia Jesus para o outro não era sua pretensão em ser o Messias político que destronasse os romanos e estabelecesse um novo reino davídico. Ele não esperava recompensas por suas ações; não queria uma cadeira no Sinédrio controlado por religiosos corruptos. O que movia Jesus para estender a mão em direção ao outro era a sua ternura e compaixão.

A sua conduta, ações e espiritualidade eram baseadas na ternura e compaixão. É por isso que ele quando via aquele povo se compadecia por vê-los como ovelhas sem pastor (Mt. 9,36; 14,14). Essa compaixão impulsionava Jesus para o outro de maneira incontrolável, quase uma obsessão. Ele aproveitava as oportunidades para demonstrar misericórdia e ternura.

A capacidade que Jesus tinha para evidenciar afeto era incrível. Ele conseguia enxergar aquilo que seus discípulos não viam. Enquanto estes estavam impressionados com as construções iniciadas pelo tirano Herodes do templo e suas pedras gigantescas (Mc. 13,1), ele observava atentamente uma viúva pobre depositar a sua oferta (Mc. 12,42-43).

Sua compaixão e ternura lhe davam capacidade de enxergar o que os outros não viam. Todos admirados e alegres com a cura da filhinha de Jairo, ele continua olhando para ela e pede que a dê o que comer (Mc. 5,42-43). São seus olhos que transbordava espiritualidade. Aqueles olhos que viu Pedro quando este o negou, e saindo do Sinédrio seus olhos se encontram com o negador e o ama intensamente que a única reação do estourado Pedro seja chorar. Não foi um olhar do tipo “eu disse que você iria fazer isso”, mas foi um olhar de amor, ternura e compaixão.

A sua espiritualidade lhe permitia chorar. Chorar por um amigo que morre; chorar por ver sua querida Jerusalém longe do Reino de Deus.

Nossa espiritualidade tem sido marcada por novos paradigmas totalmente aquém da ternura e compaixão de Jesus. O outro virou meio para se conseguir algo; o chorar deu lugar ao cinismo; a compaixão não é cultivada, porque o mar não está pra peixe; ternura já não faz parte do vocabulário porque esta deu lugar à competição, o egoísmo, a intolerância.

O Jesus ternura é aquele que se for negado olha com um olhar de amor para o negador, se for traído abraça o traidor, se for torturado ama o torturador, se for crucificado perdoa os assassinos.

A espiritualidade contemporânea, marcada pelo espetáculo e os resultados, não consegue enxergar mais aquele que adora a Deus na sua simplicidade, seus olhos estão voltados para a opulência da vida. Essa espiritualidade quer ver os milagres, mas a pessoa passa despercebida em suas necessidades básicas como comer e beber.

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