Estamos presenciando uma avalanche de programas tidos como "evangélicos" na televisão brasileira. Há uma rede de televisão que em certo dia da semana começa às 6h da manhã e vai até às 14h da tarde com programação evangélica. Tem de tudo um pouco e para todos os gostos. A verdade, é que os evangélicos estão tendo oportunidade na televisão brasileira como nunca teve - aliás, diga-se de passagem, algum tempo atrás, para uma certa denominação, televisão era coisa do "diabo", tida como o "baal eletrônico". Hoje é uma questão de afirmação no "mercado" religioso.
O fato é que os programas "evangélicos" (e católicos - uma reação ao crescente número de programas evangélicos obrigou a Rede Vida de Televisão a expandir seu sinal para o resto do país, porque até então, 1996, era um canal fechado) estão aí divulgando seus encontros, reuniões, congressos, cultos, pastores "cheios do poder" pregando e arrebanhando pessoas; é o "mover de Deus", o tempo do avivamento; é hora de dizer que o Brasil será (ou é) uma nação evangélica... e o discurso exclusivista não pára. Recentemente foi realizada uma pesquisa para saber quem ficava mais tempo no ar. O resultado, não surpreendeu. Ganhou um certo missionário que não sai da TV.
Não resta dúvida de que a TV é um meio de comunicação importante para a propagação do evangelho neste país. Mas o que estamos vendo é a pretensão de alguns (como já estamos presenciando a obsessão de um certo grupo sectário, que detém uma das maiores rede de televisão, buscando, a qualquer custo, a "liderança" na mídia) em construir impérios - começando com a opulência dos grandes templos, canais de TV e a recente proliferação de políticos para garantir a "sobrevivência" do povo cristão no país. O pior disso tudo, é que a legitimação envolve a manipulação do sagrado com chavões conhecidos como: "Deus nos chamou para sermos cabeça e não calda". Enquanto isso... no lado dos "míseros mortais" e retrógrados midiáticos, há a necessidade de cuidar para que os "pregadores televisivos" não afete a comunidade com modismos e crendices vindas pelo cubo "mágico".
Certo dia estava fazendo turismo na TV quando passei em um canal onde um certo programa, que na verdade é um show, dessa igreja que tem em todo lugar, de fato internacional, chamou a minha atenção uma senhora que estava dando seu "testemunho". Ela dizia que contribuía com todos esses "pastores televisivos" inclusive sendo "patrocinadora" do determinado programa. Mas o que realmente prendeu a minha atenção foi aquela senhora, piedosa até, dizer que colaborava com a Junta de Missões Mundiais há muito tempo e que, atualmente, sustentava um missionário no campo. Presumi de que a senhora, possivelmente, era batista. E era mesmo, pois no final ela confirmou. E bastou isso para o "testemunho" se encerrar por ali.
Esse é um exemplo de que nenhum pastor está isento de ter a(s) sua(s) ovelha(s) pastoreada por "outro pastor". E se não foi, poderá ser questionado sobre certas questões que o "missionário" disse; o pastor sem papas na língua falou; o "homem" do avivamento "profetizou"... Somando ainda a deficiência doutrinária e denominacional, que muitos dos membros de nossas igrejas têm, temos pessoas confusas e em crise porque a igreja da qual faz parte não faz isso ou aquilo.
Há, ainda, os que não se submetem a autoridade do pastor porque o "pastor televisivo" prega melhor; ele sim tem "unção"; é o "homem de Deus". O pastor deixa de ter credibilidade para certas pessoas que acompanham o programa do pastor tal, e se por um acaso ele, em seu sermão dominical, dizer algo parecido com o que disse o "pastor televisivo" é porque esta copiando, mesmo que não assista o tal programa.
O pastor está envolvido em uma questão dupla: a sua integridade pastoral e a identidade denominacional da qual faz parte e precisa zelar. Por um lado o tido "mercado religioso" quer obrigá-lo a se enquadrar no que está fazendo sucesso. Quando isso não ocorre (e seria bom que não ocorresse mesmo), as mensagens do pastor sobre concerto de vida, vida com Deus, arrependimento não é aceita. Afinal de contas não é mais isso que se ouve por aí. Não existe cristianismo desinteressado, mas utilitário. Os fundamentos da Reforma estão sendo solapados por uma mensagem triunfalista que tem como base a experiência individual que confirma o "mover" de Deus quando desejos, na sua maioria de consumo, são atendidos.
O pastor não está sozinho na sua árdua, mais prazerosa, tarefa de pastorear o rebanho. Há "outros" que estão 24h colocando os mais bizarros conceitos e práticas na cabeça de um povo, que por natureza, não gosta muito de refletir, mas pegar tudo pronto.
A era do teatro, templo e mercado não produzirá mais homens como o pastor Martin Luther King (assassinado em 1968). Alguém que marcou a sua época com ideais igualitários e princípios cristãos. E só para citar um exemplo latino-americano, dom Oscar Ranulfo Romero (assassinado em 1980) mártir de uma luta contra a opressão em San Salvador. Homens que marcaram profundamente não pelo "sucesso", mas pela vivência de vida e ideais humanitários e espirituais.
Pastores foram chamados para pastorear, e não precisa, necessariamente de holofotes para marcar as pessoas com o ministério. O maior desejo do pastor é ver Cristo sendo formado na Igreja (Gl. 4,19).
Um comentário:
Amado,
Observo que alguns líderes modernos (pastores)de Igrejas imaginam-se, a si mesmos, como homem de negócios, personalidades da mídia, promovedores de entretenimento, psicológos, filósofos e advogados. E nunca como pescadores de almas que vão até os oprimidos e necessitados. Esses novos ideais de esplendor contrasta com a idéia de Paulo nas cartas pastorais que é labor, sacríficio e arduidade. Hoje, temos potentados (Phd, DD, Masters) e poucos homens de Deus que pregam a palavra e o Poder. Jesus usou a metáfora "pastor"referindo-se a alguém que cuida do rebanho, em todas as necessidades. O povo, que espera o Poder de Deus, não achando o alimento necessário procura aqueles que fazem o show. E são iludidos. Um abraço. Pedro Augusto Bonna.
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