Essa é uma velha e conhecida tática: usar e abusar do “nome” de Deus para fazê-lo parecer partidário. Alguns políticos tem feito isso e tornado o Nome um “nome” apenas, fazendo com que a inefável nomeação do “divino” se torne palatável em uma pessoa. Idolatria, é o nome bíblico para isso.
Deus passou a ser identificado, para alguns,
com um determinado político, o atual presidente. Ele usa e abusa desse “nome”
tornando-o obsoleto dentro de uma conjuntura religiosa. A frase mais ouvida agora
é: “Só Deus me tira daqui”. Uma referência à presidência da República e as eleições
deste ano.
Para a classe política, e para muitas igrejas, parece ser difícil entender que Deus não tem “título de eleitor”. Mas como o atual presidente entende que “Deus” parece ter uma espécie de “título de eleitor” celestial, vamos entrar na onda dele e ver se o Deus que conhecemos, e se dependesse dele, deixaria o que está aí continuar.
Vejamos...
O Deus dos profetas tiraria o que está aí
porque não suporta ver o povo passando fome. Sim, enquanto muitos estão muito
bem, há milhares passando necessidade. As famílias estão com fome e isso parece
não incomodar quem faz uso desse termo, “família”, o tempo todo. O Deus de Amós
diria assim: “Ouçam esta palavra, vocês, políticos que estão em Brasília, vocês,
que oprimem os pobres e esmagam os necessitados” (4,1 parafraseado). Deus
não compactua com ninguém que deixa o seu povo na fila do osso; Deus não está
do lado de ninguém que na maior pandemia da história ofertou R$ 200,00 e o
Congresso Nacional aumentou para R$ 600,00 com muita briga, enquanto o Fundo
Partidário está na casa dos 5 bilhões. Deus não pode querer alguém que trama
para tirar os poucos direitos que ainda restam a grande maioria da população como
saúde, educação gratuita e segurança alimentar.
Sendo apenas “Deus” a tirar o que está aí,
ele anda pensando muito nessa possibilidade, até porque ele não fica nenhum
pouco satisfeito com a devastação que esse governo vem fazendo na Amazônia.
Sim, foi ele quem fez com que as árvores dessem o seu fruto e a floresta de pé
é coisa dele (Gn 1,11-12). Com certeza ele não gostaria de ver as árvores no
chão, com uma política predatória conduzida por um ignóbil que acha que tudo
aquilo deveria ser pasto e virar cratera de garimpeiros.
Ainda que haja situações de violência
envolvendo o “nome” de Deus na Bíblia, sabemos que ele procurou ensinar o seu
povo a buscar a paz e não a violência. É Provérbios 16,29 que diz: “O violento
recruta o seu próximo e o leva por um caminho ruim”. Deus observando um ser que
apenas usa e abusa do seu Nome e não tem nenhum compromisso com seus princípios,
conspirando contra o próprio povo a ponto de vê-los se gladiando nas ruas com
tamanha violência, se dependesse dele, tiraria mesmo. E foi Jesus quem ensinou:
“Bem-aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9).
Já que é somente “Deus” que poderia tirar
alguém do poder, como vem sugerindo o atual presidente, ele deve estar inclinado
a isso, caso tivesse o “título de eleitor” celestial. Isso porque ele não
suporta a dor e o sofrimento do outro ao ponto de ficar impassível, muito menos
fazendo chacota. Quando ele viu a aflição do povo no Egito (Êx 3,7), ele teve
compaixão, porque era um povo sofrendo as dores dos seus mortos e feridos pelo trabalho
escravo. Sim, ele viu, sentiu e ouviu o choro do povo. Assim, Deus não
compactuaria com alguém que, diante da dor do outro, dissesse: “Eu não sou coveiro”.
Mas como Deus não tem “título de eleitor”
celestial, tiraremos o que está aí por meio das mesmas urnas que o colocaram lá
há quase quatro anos atrás.
Nenhum comentário:
Postar um comentário