Se
esse grupo, que a teologia comumente identifica como “igreja”, concebe na
figura de um nortista da Galiléia, que de maneira itinerante, saiu pelos
vilarejos e cidades com uma mensagem de que a
face de YAHWEH é de um Pai (Abbá) que continuava querendo
estabelecer um Reino, esse grupo precisa olhar para o “rosto” desse nazareno e
se identificar com ele. A identificação passa pela práxis, ou seja, só é possível cultivar memória quando o quê ou quem
a motivou, continue fazendo sentido. As igrejas celebrando a Páscoa, estão
dizendo que a memória do nazareno continua presente e sua mensagem e trajetória de vida, fazendo sentido.

No Brasil há uma polaridade política que tem afetado
relacionamentos familiares, amigos e igrejas. A polarização chegou também na
figura do nazareno. Há aqueles que querem diminuir o aspecto político-social
dos Evangelhos por, pensam, favorecer um segmento da política brasileira. Outros
ainda usam a figura de Jesus e sua práxis
direcionada para os marginalizados e despossuídos como uma plataforma
político-ideológica a fim de promover uma agenda socialista. Nessa disputa pela
narrativa do galileu, estão os que insistem em espiritualizar a caminhada de
Jesus e sua mensagem, o transformando em um Cristo do “coração”. O fato é que a
figura, a vida, mensagem, morte-ressurreição de Jesus não pode ser
institucionalizada cabalmente. A igreja procurou fazer isso, mas não há dúvidas de que falhou; a julgar pela quantidade de denominações e sua diversidade de interpretações,
algumas se colocando como exclusivas até. A questão, como bem coloca Franz
Hinkelammert, é que “as bem-aventuranças dos pobres, dos presos e dos enfermos,
e em geral de todos os marginalizados da sociedade, constituem uma exigência que,
quando interpretada em toda a sua rigidez, é incompatível com qualquer vida
social realisticamente institucionalizada”. Em outras palavras, qualquer
tentativa de capturar (seja essa captura política ou religiosa) a práxis de Jesus está fadada ao um certo fracasso.
As instituições, criadas para legitimar a narrativa de Jesus, não dão conta da
expressividade e dinâmica do nazareno. As suas ações e gestos estão para além
das redomas criadas para comprimir a práxis
do galileu.
Ao que parece, estamos parecidos com os discípulos dele que
não vendo muito sentido em suas palavras e gestos, “tinham receio de perguntar”.
Mas esse receio não os impediam de ficarem discutindo quem, entre eles, era, de
fato, o maior (Mc 9,32-34).
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