Campanha
da Fraternidade 2018 – Fraternidade e Superação da Violência
Nos
últimos anos o país conheceu a brutalidade das facções que operam nas penitenciárias.
Nas ruas a violência está gratuita e sistêmica e a mídia tem todos os dias
notícias que relatam casos de famílias atingidas por ela, vitimando, cruelmente, crianças. Como se tudo isso não bastasse, nossa gente convive com a violência
da corrupção do sistema político, o tipo de crime que mata silenciosamente
quando priva crianças da merenda escolar e de melhores escolas;
quando as pessoas convivem com o medo e a falta de segurança pública, onde seus agentes (policiais), não recebem adequadamente seus salários; quando os doentes precisam
de hospitais, remédios e exames emergenciais e não há equipamentos disponíveis.

Importa
refletir sobre a paz e meios para buscá-la
na permanente tentativa de aplacar a violência.
Um
caminho de paz
abre
um caminho para a justiça. Na tradição
bíblica, a justiça
está
na pregação profética, onde há um Deus de justiça. É Paul Tillich quem aponta a justiça como um dos critérios para se julgar as
expressões religiosas, principalmente o cristianismo. No cristianismo, Tillich nos lembra, que os homens são
aceitos pela justiça praticada, e não necessariamente pela religião confessada
(Mateus 25,31-45).
As
igrejas, por tradição, nutrem uma força ética para promover/provocar mudanças
que favoreçam uma cultura de paz. O Estado, há muito comprometido com o
mercado, ignora a grande maioria das pessoas que lutam pela sobrevivência. As igrejas
podem e devem contribuir, principalmente sendo a consciência do Estado, como
alertara Martin Luther King – “A igreja... não é a senhora ou a serva do Estado, mas, antes, a sua consciência. Ela deve ser a orientadora
e a crítica do Estado.
E nunca sua ferramenta!”.
As
igrejas não podem abrir mão da participação e atuação no atual contexto
brasileiro. Estamos em um momento em que se conhece o drama da imigração de
venezuelanos e haitianos; um tempo de intolerância religiosa, principalmente em
relação às religiões afro-brasileiras; a brutalidade contra pessoas
homoafetivas; a luta por igualdade de direitos da população negra. Diante de todos esses
dilemas, é pueril pensar que o Estado tenha como principal meta encontrar
soluções equitativas para esses dramas, até porque a justiça, na sua plena
expressão, nunca foi o ponto forte do Estado. Em uma sociedade onde se dependa,
exclusivamente, da justiça
legal,
acentua-se muito mais a sua desumanidade, principalmente quando há um sistema penitenciário onde a terceira maior população carcerária do mundo vive em condições sub-humanas.
Não obstante a isso, a situação está ficando mais delicada ainda com um governo à
serviço do capital neoliberal. Um governo que trabalhou, incansavelmente, para
diminuir direitos dos trabalhadores com a sua Reforma Trabalhista. Isso não sendo suficiente, o atual governo
quer continuar na sua missão de distanciar ainda mais aqueles que têm dinheiro daqueles
que nada têm com uma Reforma da
Previdência que atinge, em cheio, os menos favorecidos economicamente do
país. Uma violência praticada por um Estado que não consegue fechar suas contas
públicas por irresponsabilidade administrativa.
Diante
disso, é preciso lembrar que o Deus bíblico se dá na prática da justiça e onde há injustiça, a sua ação é libertadora – “Deus também já
está presente lá onde acontece a injustiça. Fazendo justiça aos que sofrem
violência. O que é feito aos pobres e indefesos indiretamente é também feito a
ele”, já dizia Jürgen Moltmann. Os profetas reivindicam justiça diante dos desmandos
do Estado.
Há uma luta intensa pelo direito
dos despossuídos, desfavorecidos e marginalizados da sociedade. A justiça – como bem nos
lembra Moltmann –, na perspectiva bíblica, se dá no direito, ou seja, “a justiça
de Deus é, ao mesmo tempo, aquela que cria o direito, mas também traz justiça à vida injustiçada.
Desta forma, é uma justiça criativa. Deus faz justiça a quem sofre violência e
põe em ordem quem comete o mal”. Essa é a nossa esperança que nos impulsiona
para uma práxis libertadora.
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