O que se tornou o protestantismo em terras brasileiras? O protestantismo por aqui sofreu sérias mutações; ele sofreu um processo de desvirtuamento. A capacidade de diálogo, tão singular nos primórdios do protestantismo, inclusive sinalizado com o diálogo ecumênico, sofreu baixas ao longo de sua trajetória, principalmente o segmento surgido nos Estados Unidos.
Uma vez que o protestantismo no Brasil, e no continente latino-americano, tem sua matriz estadunidense, o protestantismo de missão não soube lidar com a brasilidade – sua formação cultural e religiosa. Com um discurso exclusivista teve como resultado: o isolamento cultural – tornou a igreja num gueto de “salvos e santificados” esperando apenas o céu; o não envolvimento com o tido “mundanismo” é evidência de salvação, daí a completa falta de inserção na cultura do país; o discurso hermético – extremamente confessional; a apologética como chave hermenêutica para entender os “sinais dos tempos”. Desse modo, o protestantismo se alimenta de disputas com o catolicismo e propaga um ufanismo, sempre atacando os diferentes, absorvendo a cultura anglo-saxônica e preterindo a brasileira.
O resultado disso é um conjunto de crenças, modismos, ideologias, idiossincrasias que, na sua maioria, não contempla o espírito protestante (Paul Tillich).
Os pressupostos da pós-modernidade tem solicitado uma abertura de diálogo. Quando se pensa em pós-modernidade e suas bases – pluralismo e secularismo –, há dois tipos de discurso sendo viabilizado – um de teor apologético e outro de convergência. O primeiro trata de importar elementos discutíveis na Europa e nos EUA como ateísmo e evolucionismo como sendo o problema no Brasil e América Latina, não levando em consideração o fato de que o continente respira religião. E, mais recentemente, a questão do teísmo aberto trazendo a tona à temática da soberania de Deus versus a liberdade humana. O segmento que procura ler a pós-modernidade e convergir a partir de temáticas relevantes para o contexto são tidos como heréticos e progressistas.
Faz-se necessário uma leitura pós-moderna da realidade. Assim como o teólogo suíço Karl Barth lia a conjuntura do seu tempo, quando assumiu o pastorado em Safenwill, numa mão a Bíblia e noutra o jornal, se faz necessário buscar parâmetros e ferramentas hermenêuticas que possam contribuir para uma reflexão teológica que contemple o contexto atual com seus desafios culturais e sociológicos e dê prospectivas sensatas.
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