"Escrever é construir, através do texto, um modelo específico de leitor" (Humberto Eco)
3.1.13
A TEOLOGIA CANNED PRODUZIDA EM TERRAS TUPINIQUINS
Na história do Cristianismo o protestantismo tem o
seu lugar ao sol. O seu surgimento – levando em consideração toda a ambiguidade
de qualquer movimento social e contexto religioso –, teve elementos que
contribuíram para o desenvolvimento de setores fundamentais da sociedade
ocidental. Em seus primórdios, o protestantismo foi comprometido com a política do
seu tempo, daí a recusa por qualquer sistema de governo absolutista; em países
predominantemente protestantes, com algumas exceções, a ciência, e a busca por
novas descobertas de conhecimento, existia a oportunidade de pesquisas e
estudos. O protestantismo é fruto da modernidade e seus valores como o
racionalismo e a epistemologia. No campo filosófico o tema da liberdade sempre
esteve na pauta do protestantismo. Liberdade para tolerar o outro e suas opções
(John Locke); liberdade de consciência e expressão e o conceito de
individualidade foram temas frequentes entre os reformadores. A temática da
liberdade na Reforma foi vista por Georg Hegel como um momento decisivo na
história, onde o espírito servil dá lugar a um espírito livre.
O que se tornou o protestantismo em terras brasileiras? O protestantismo por
aqui sofreu sérias mutações; ele sofreu um processo de desvirtuamento. A
capacidade de diálogo, tão singular nos primórdios do protestantismo, inclusive
sinalizado com o diálogo ecumênico, sofreu baixas ao longo de sua trajetória,
principalmente o segmento surgido nos Estados Unidos.
Uma vez que o protestantismo no Brasil, e no
continente latino-americano, tem sua matriz estadunidense, o protestantismo de
missão não soube lidar com a brasilidade – sua formação cultural e religiosa.
Com um discurso exclusivista teve como resultado: o isolamento cultural –
tornou a igreja num gueto de “salvos e santificados” esperando apenas o céu; o não
envolvimento com o tido “mundanismo” é evidência de salvação, daí a completa
falta de inserção na cultura do país; o discurso hermético – extremamente
confessional; a apologética como chave hermenêutica para entender os “sinais
dos tempos”. Desse modo, o protestantismo se alimenta de disputas com o
catolicismo e propaga um ufanismo, sempre atacando os diferentes, absorvendo a
cultura anglo-saxônica e preterindo a brasileira.
O resultado disso é um conjunto de crenças, modismos, ideologias,
idiossincrasias que, na sua maioria, não contempla o espírito protestante (Paul
Tillich).
Os
pressupostos da pós-modernidade tem solicitado uma abertura de diálogo. Quando
se pensa em pós-modernidade e suas bases – pluralismo e secularismo –, há dois
tipos de discurso sendo viabilizado – um de teor apologético e outro de
convergência. O primeiro trata de importar elementos discutíveis na Europa e nos
EUA como ateísmo e evolucionismo como sendo o problema no Brasil e América
Latina, não levando em consideração o fato de que o continente respira religião.
E, mais recentemente, a questão do teísmo aberto trazendo a tona à temática da
soberania de Deus versus a liberdade humana. O segmento que procura ler a
pós-modernidade e convergir a partir de temáticas relevantes para o contexto
são tidos como heréticos e progressistas.
Faz-se
necessário uma leitura pós-moderna da realidade. Assim como o teólogo suíço
Karl Barth lia a conjuntura do seu tempo, quando assumiu o pastorado em
Safenwill, numa mão a Bíblia e noutra o jornal, se faz necessário buscar
parâmetros e ferramentas hermenêuticas que possam contribuir para uma reflexão
teológica que contemple o contexto atual com seus desafios culturais e sociológicos
e dê prospectivas sensatas.
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