Já é comum saber que entre os neopentecostais
há um intenso trânsito de pessoas entre as principais denominações deste
segmento. Há pessoas que eram da Universal e foram para a Mundial e outras que
eram da Mundial e foram para a Internacional e vice e versa. Isso não é
surpresa, o modus operandi de todas
elas é o mesmo. Até mesmo entre os pastores dessas denominações, como a revista
Veja mostrou (http://vejasp.abril.com.br/materia/capa-as-exigencias-de-algumas-igrejas-para-quem-senha-ser-pastor)
há um intenso trânsito em troca de benefícios e outras benesses. O vai e vem de
pessoas nas denominações é frequente entre pentecostais e neopentecostais,
infelizmente o IBGE não apontou esses dados no senso de 2010. Há pessoas que
pertencia a uma Assembleia de Deus ministério tal (já existem tantos) e que,
por algum motivo, deixou o ministério X e foi para o ministério Y por conta do
pastor que dividiu a igreja e levou alguns membros com ele. O caso dos
universais e genéricos é a mesma coisa. Quanto a essa prática é comum entre
pentecostais e neopentecostais. A mudança de igrejas é corriqueira e, em alguns
casos, necessária.
De uns tempos pra cá ouço pessoas que
deixaram uma igreja histórica para se filiar a uma igreja pentecostal. Por alguma
razão certas práticas nas igrejas pentecostais chamam atenção e essas pessoas
querem vivenciar alguma experiência extrassensorial e procuram igrejas que
tenha um apelo mais emocional. Quando essas pessoas chegam nessas igrejas são,
geralmente, bem recebidas e logo são integradas as atividades da igreja como
cultos, sermões e reuniões. O batismo delas é considerado e a qualificação
bíblica e doutrinária não é questionada.
Conversei com um rapaz que pertencia a
uma Igreja Batista e por outras razões que não foi o sábado, se filiou a uma
Igreja Adventista. Lá teve que se batizar de novo, pois a Igreja Adventista não
aceita o batismo de nenhuma igreja a não ser a dela mesma. Na mesma semana
minha esposa pegou no canal TV Novo Tempo uma entrevista com Jeanne Gomes
relatando de como ela e o esposo, um pastor batista já quinze anos, se tornaram
adventistas (http://www.portaladventista.org/portal/asn---portugu/1484-pastor-batista-e-esposa-sao-batizados-na-igreja-do-unasp).
Na entrevista ela conta que Deus abriu-lhe os olhos para a verdade do sábado e
não pode contrariar, a não ser aceitar a nova descoberta que, mesmo com curso
teológico, não tinha percebido ainda. Não fiquei chocado, mas surpreso. Ela e o
esposo batizaram-se na Igreja Adventista do Sétimo Dia. Se nas igrejas
pentecostais o batismo dos batistas é considerado, na Igreja Adventista, mesmo
sendo pastor, não é possível. Isso porque os batistas fazem parte de um seleto
grupo da chamada Reforma Radical que reivindicaram o batismo por imersão, e
mais adiante, a partir de uma pública profissão de fé. É sabido que o movimento
adventista tem suas raízes na Igreja Batista por meio de Guillerme Miller,
pregador batista, que teve juntamente com algumas pessoas e entre elas Ellen G.
White, o devaneio de querer marcar a data da segunda volta de Cristo em 1844. Nesta
igreja o ex-pastor batista, e eles fazem questão de frisar isso, e o rapaz que
encontrei tiveram que passar pelo batismo por imersão em nome da Trindade
novamente.
Os adventistas são extremamente proselitista
e consideram que apenas a sua igreja é a correta e o sábado é a maior revelação
bíblica. Quando alguém de outra denominação chega à Igreja Adventista o alarido
é maior. Parece que a conquista foi grande, principalmente se a origem é
pentecostal.
É pena que alguns batistas desavisados,
que na sua maioria desconhecem os princípios da Igreja Batista e sua
identidade, podem trocar a sua igreja por qualquer outra e pena mais ainda por
uma Igreja Adventista.
Na história do Cristianismo o protestantismo tem o
seu lugar ao sol. O seu surgimento – levando em consideração toda a ambiguidade
de qualquer movimento social e contexto religioso –, teve elementos que
contribuíram para o desenvolvimento de setores fundamentais da sociedade
ocidental. Em seus primórdios, o protestantismo foi comprometido com a política do
seu tempo, daí a recusa por qualquer sistema de governo absolutista; em países
predominantemente protestantes, com algumas exceções, a ciência, e a busca por
novas descobertas de conhecimento, existia a oportunidade de pesquisas e
estudos. O protestantismo é fruto da modernidade e seus valores como o
racionalismo e a epistemologia. No campo filosófico o tema da liberdade sempre
esteve na pauta do protestantismo. Liberdade para tolerar o outro e suas opções
(John Locke); liberdade de consciência e expressão e o conceito de
individualidade foram temas frequentes entre os reformadores. A temática da
liberdade na Reforma foi vista por Georg Hegel como um momento decisivo na
história, onde o espírito servil dá lugar a um espírito livre.
O que se tornou o protestantismo em terras brasileiras? O protestantismo por
aqui sofreu sérias mutações; ele sofreu um processo de desvirtuamento. A
capacidade de diálogo, tão singular nos primórdios do protestantismo, inclusive
sinalizado com o diálogo ecumênico, sofreu baixas ao longo de sua trajetória,
principalmente o segmento surgido nos Estados Unidos.
Uma vez que o protestantismo no Brasil, e no
continente latino-americano, tem sua matriz estadunidense, o protestantismo de
missão não soube lidar com a brasilidade – sua formação cultural e religiosa.
Com um discurso exclusivista teve como resultado: o isolamento cultural –
tornou a igreja num gueto de “salvos e santificados” esperando apenas o céu; o não
envolvimento com o tido “mundanismo” é evidência de salvação, daí a completa
falta de inserção na cultura do país; o discurso hermético – extremamente
confessional; a apologética como chave hermenêutica para entender os “sinais
dos tempos”. Desse modo, o protestantismo se alimenta de disputas com o
catolicismo e propaga um ufanismo, sempre atacando os diferentes, absorvendo a
cultura anglo-saxônica e preterindo a brasileira.
O resultado disso é um conjunto de crenças, modismos, ideologias,
idiossincrasias que, na sua maioria, não contempla o espírito protestante (Paul
Tillich).
Os
pressupostos da pós-modernidade tem solicitado uma abertura de diálogo. Quando
se pensa em pós-modernidade e suas bases – pluralismo e secularismo –, há dois
tipos de discurso sendo viabilizado – um de teor apologético e outro de
convergência. O primeiro trata de importar elementos discutíveis na Europa e nos
EUA como ateísmo e evolucionismo como sendo o problema no Brasil e América
Latina, não levando em consideração o fato de que o continente respira religião.
E, mais recentemente, a questão do teísmo aberto trazendo a tona à temática da
soberania de Deus versus a liberdade humana. O segmento que procura ler a
pós-modernidade e convergir a partir de temáticas relevantes para o contexto
são tidos como heréticos e progressistas.
Faz-se
necessário uma leitura pós-moderna da realidade. Assim como o teólogo suíço
Karl Barth lia a conjuntura do seu tempo, quando assumiu o pastorado em
Safenwill, numa mão a Bíblia e noutra o jornal, se faz necessário buscar
parâmetros e ferramentas hermenêuticas que possam contribuir para uma reflexão
teológica que contemple o contexto atual com seus desafios culturais e sociológicos
e dê prospectivas sensatas.