A desconstrução de um Deus gestado a partir da metafísica começa a ter voz com F. Nietzsche com o seu famoso enunciado “Deus está morto”. O filósofo alemão marca uma ruptura entre Sagrado e religião institucional.
Com
a
pós-modernidade
se delineou um novo modo de se pensar e viver religião. Outrora o conceito de
Deus/Religião produzido no Ocidente a partir da filosofia grega e a
escolástica, não se torna mais possível em uma cultura onde a existência e o
sentido das coisas são profundamente revisto pelos mestres da suspeita – K.
Marx, S. Freud e F. Nietzsche.
Indubitavelmente
a secularização e a globalização, a religião se vê num dilema: antes era
possível uma religião burocrática, fixada em suas posições doutrinárias e
dogmáticas, agora uma realidade de fraqueza e impotência em relação ao ser
humano pós-moderno. A secularização relativiza a religião; o fim da metafísica
leva a repensar a transcendência. Se antes a religião era centralizadora, hoje
se faz desnecessária num contexto de sociedades flutuantes e dinâmicas, pelo
menos no Ocidente.
Assim como religião não pertence mais a lugares específicos de produção simbólica, o conceito de Sagrado esta ganhando outras proporções também. O indivíduo molda sua crença em torno da disponibilidade religiosa que encontra. Neste sentido se antes religião significava códigos definidos, ritos, normas morais e discurso institucional, agora carrega em seu campo semântico a ideia de busca pela transcendência, o ato de transcender, a busca pelo bem-estar espiritual.
Assim como religião não pertence mais a lugares específicos de produção simbólica, o conceito de Sagrado esta ganhando outras proporções também. O indivíduo molda sua crença em torno da disponibilidade religiosa que encontra. Neste sentido se antes religião significava códigos definidos, ritos, normas morais e discurso institucional, agora carrega em seu campo semântico a ideia de busca pela transcendência, o ato de transcender, a busca pelo bem-estar espiritual.
Eis
o problema. De um lado a religião institucionalizada não é mais atrativa; por
outro lado ainda chama atenção à espiritualidade e os valores pregados pela
religião. A questão é abrir caminhos para dialogar com este tempo em que o
místico substituiu o doutrinário, o afetivo superou o ritual e o experiencial
suplantou o institucional.
No Brasil o fenômeno dos “sem-religião” cresceu como
apontou o último senso IBGE. Em seis anos foi de 0,7% para 2,9%, ou seja, são
quatro milhões de brasileiros que não tem vínculo nenhum com uma religião
institucionalizada. Mas isso não significa que não nutrem ou cultivem alguma
espécie de espiritualidade.
Tendo este cenário religioso como contexto, a
espiritualidade em diferentes formas borbulha. Daí a sua dimensão pública, pois
não necessita estar vinculada a nenhuma religião para vivenciar a sua dimensão
espiritual. A religião que outrora era produtora de sentido e mediadora de bens
simbólicos do imaginário religioso se depara agora com indivíduos que fazem as
suas bricolagens espirituais e escolhas próprias, sedimentando, costurando suas
próprias combinatórias simbólicas.
O cientista da religião Alberto da Silva Moreira constata outro viés da espiritualidade dentro desse novo contexto:
É preciso perceber que a satisfação de grande parte das necessidades espirituais das pessoas não depende da compreensão ou da inserção em grandes sistemas religiosos, como uma opção consciente e clara, que implicaria numa fidelidade duradoura. Grande parte das pessoas se contenta com fragmentos que fazem sentido para elas naquele momento, com partes desconexas, com imagens e rituais desacoplados, sem longas fundamentações teológicas e com memória histórica bastante curta. O que orienta a decisão às vezes é a lógica do custo-benefício, a satisfação subjetiva, a confirmação da instância interior.
Está
dada a concepção de uma espiritualidade afetiva.
Se
antes a concepção de fé cristã era mais um exercício mental – aprender,
recitar, decorar e expor apologeticamente – neste cenário não cabe mais essas
prerrogativas, mas as experienciais.
A
igreja sempre priorizou doutrinas, dogmas, ter certezas sobre a eternidade e
deixou de vivenciar uma espiritualidade que focasse o ser humano como mediador
de santidade (é o tema da carta de 1Jo).
Uma
espiritualidade afetiva lê a Bíblia sem procurar nela verdades inquestionáveis
sobre a vida, antes lê a Bíblia com afeto e assim seguem Jesus.
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