A eclesiologia protestante sempre foi ad intra. Uma igreja marcada pelo apego ao templo com uma visão maniqueísta do mundo, onde preservar os “bons costumes” foi confundido com a completa omissão para com a sociedade. A maneira reducionista de entender, pregar e vivenciar a mensagem do evangelho teve como fatores importantes o pré-milenismo e o fundamentalismo. Assimila-se a cultura estadunidense e esquece-se da cultura brasileira, criando uma concepção eclesiológica em que separa os justos (quem frequenta a igreja) dos injustos (os pecadores que estão no “mundo”).
Dentro da discussão, ainda recente no Brasil, sobre teologia pública, se faz necessário uma eclesiologia pública onde as principais matrizes do evangelho como missão, Reino de Deus, política e pastoral se tornem relevantes para a sociedade com mediações pastorais que contemplem as mazelas do cotidiano de uma cidade/sociedade.
A partir de constatações de que os movimentos eclesiológicos não comportam uma dimensão pública, pelo contrário, a visibilidade que a mídia proporciona para alguns grupos religiosos não abrange a sociedade, mas apenas indivíduos, com um discurso hedonista e exclusivista, formando pessoas que privatizam a fé e a fazem refém de um individualismo radical, não possibilitando a inserção dos cristãos no espaço público, temos como resultado disso uma igreja intimista, voltada para as carências pessoais e míope com relação a sua volta, se esquivando das exigências do evangelho que propõe uma pastoral comprometida com a cidade/sociedade, e não apenas com as pessoas que habitam as quatro paredes de um templo.
A tarefa é árdua, mas extremamente necessária, fomentar uma eclesiologia que seja pública, ou seja, uma eclesiologia dinâmica com recursos teóricos e uma práxis relevante.
A igreja que o protestantismo de missão deixou para os brasileiros é uma igreja com uma ligação com a cultura religiosa norte-americana, menos estável e em constante ebulição, com tendência para manter confronto com a cultura brasileira. Essa igreja tem no seu discurso um forte apelo individualista, ou seja, olha apenas para o indivíduo entendendo que a sua “conversão” melhora a sociedade. A igreja que os missionários nos deixaram é uma igreja com um fundamentalismo bíblico exagerado e um puritanismo extremo que contribuiu para que ela negasse a sociedade, compreendendo igreja como um reduto daqueles que aguardam os “céus”. Essa mentalidade é vista, principalmente, nos cancioneiros das igrejas protestantes. Cânticos que representam uma teologia da espera e isola a igreja do seu entorno.
A eclesiologia pública pretende definir a atuação da igreja na sociedade civil, procurando ampliar sua ação em realidades públicas. Conforme Jürgen Moltmann, “não existe identidade cristã que não tenha relevância pública”.
Para a igreja ter esta dimensão de atuação no espaço público, é preciso, antes de tudo, ter uma clara noção de cidadania. Uma eclesiologia que fomente a condição de cidadãos participantes do processo democrático da cidade aos seus membros.
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