O Protestantismo em geral tem um problema sério com a ascese. A santidade é mediada pelo comportamento ético, pela leitura bíblica, pelo ir aos cultos, pela rotineira oração no dia.
Nas últimas vezes que tive a oportunidade de ouvir mensagens, observei a maneira legalista de proferir o sermão. Apenas se pegando no que fazer ou não fazer; um Cristianismo de moralidade e legalismo que até mesmo os fariseus no tempo de Jesus perderiam.
É claro que é sempre mais fácil se apegar a regras, porque de certa forma, elas provocam a sensação de segurança, pois elas determinam o modo como se deve entender e se relacionar com Deus. Difícil mesmo é lidar com a liberdade que o Cristianismo propõe.
Trabalhei alguns conceitos sobre liberdade com a comunidade. A ideia era mostrar como o Cristianismo nas suas vertentes, Evangelhos (Jesus) e Paulo, lidaram com a liberdade em detrimento do legalismo.
Tenho consciência de que a liberdade apresentada por Jesus e por Paulo é um tema um tanto difícil de digerir. Reina em nossas igrejas a ideologia de que as práticas religiosas é o alvo da espiritualidade; o fazer é preferível ao ser; o não é mais fácil controlar que o sim. Infelizmente o legalismo venceu a liberdade.
Olhando a prática de Jesus, observa-se que ele possuía uma liberdade incrível diante das situações e contextos do seu tempo. Ele não rotulava as pessoas de pecadoras, como faziam os fariseus; ele não obrigava ninguém a fazer aquilo que não queria, o caso do homem rico e o vira as costas quando solicitado a distribuir seus bens com os pobres. Sua atitude é livre para com Deus. Enquanto se buscava Deus nos lugares sagrados, como o Templo, ele buscava no dia a dia; enquanto se colocava Deus no Templo, ele o encontrava no cotidiano das pessoas. Uma liberdade a serviço do próximo. Uma liberdade que rejeita a opressão da doutrinação dos sacerdotes; uma liberdade que estava acima da lei.
Conheci Dostoiévski a partir do meu amigo Pr. Claudinei (SIB em Jacupiranga). Conhecia o literato russo de ouvir falar e algumas coisas que li sem dar muita importância. Lendo um dos seus principais textos, Os irmãos Karamázovi, fiquei impressionado com o trecho sobre o Inquisidor, principalmente com o diálogo com o Jesus da liberdade de Dostoiévski, transcrevo: “em vez de dominar a consciência, vieste aprofundá-la ainda mais; em vez de cercear a liberdade dos homens, vieste alagar-lhes ainda mais o horizonte (...). Teu desejo era libertar os homens para o amor. Livre deve ele seguir-te, sentir-se atraído e preso por ti”.
A liberdade que Jesus proporciona não pede nada em troca, apenas indica o caminho.
É hora de deixar a liberdade vencer o legalismo.
2 comentários:
Alonso. Parabéns pelo texto. A liberdade é fascinante. Nicolas Berdiaeff, ao comentar o grande Inquisidor, afirma: "O homem prefere a felicidade sem liberdade do que a liberdade com sofrimento." O legalismo é uma tentativa de viver com garantias, a liberdade não caminha assim. Para Dostoievski, liberdade não é um quê, mas um como. O que deveria ser a voz da liberdade (cristianismo)não soube compreendê-la. Um abraço
Acredito que seja o momento de fazermos um pacto por um Cristianismo que se aproxime mais de Cristo e não tanto das Declarações Doutrinárias e dos dogmas. Ensinar a comunidade a partir do caminho da liberdade é fascinante e ao mesmo tempo assustador pois as reações são incriveis.
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