Estou cada vez mais impressionado com o vocabulário empresarial nas igrejas. Até mesmo a CBESP anualmente promove encontros com especialistas em administração, gestão de negócios. Conversando com um amigo ele me dizia que hoje os pastores deveriam fazer um curso de gestão, de como administrar bem uma igreja, como uma empresa mesmo (palavras dele), em que todos os departamentos apresentassem seus avanços e a igreja trabalhasse o seu produto (entendi que seria o “evangelho”). Outro dia conversando com um colega ele perguntou: “e aí já batizou quantos esse ano?” Minha resposta foi que este ano ainda nenhum, ele arrematou: “xiiii tá fraca a produção”. Este tipo de conceitos está cada vez mais invadindo as igrejas que trabalham com estratégias, conhecendo seu público-alvo, metas e programas.
Congressos, palestras, livros, gurus “evangélicos” e tantas outras coisas estão aparecendo por aí com uma ideia fixa, fazer a igreja crescer a partir das diretrizes empresariais. O pastor, mero administrador, executivo mesmo. Alguém que trabalha com gestão de negócios e não com pessoas; alguém ávido por resultados; alguém que fixa metas para serem alcançadas a médio e longo prazo, como se o Espírito Santo fosse mais um funcionário dessa empresa!
Estamos sendo engolidos cada vez mais pela mentalidade mercadológica. Por esses dias fiquei sabendo que há igrejas que requisitam currículo para pastores candidatos a sucessão ministerial, e outras que até mesmo colocam no mural os currículos dos pretendentes à vaga!
A concorrência é desleal. Hoje é possível ver no mesmo quarteirão de um bairro diversas igrejas, uma concorrendo com a outra por membros, ou melhor, clientes. Aquele que apresenta um diferencial no produto final leva vantagem sobre os outros.
É incrível como nas livrarias tidas como evangélicas encontra-se mais livros de liderança nos moldes empresarial do que temas como justiça social, política brasileira etc. Há uma verdadeira invasão de títulos estrangeiros sobre o assunto, cada um dando sua receita milagrosa.
Os pastores executivos frequentam congressos empresariais; estão ouvindo líderes do mercado sobre crescimento de empresa. O foco deixou de ser as pessoas e passou a ser a instituição que por um acaso ainda se chama igreja. Eugene Peterson faz um alerta em um de seus livros: “os pastores se transformaram em um grupo de gerentes de lojas, sendo que os estabelecimentos comerciais que dirigem são as igrejas. As preocupações são as mesmas dos gerentes: como manter os clientes felizes, como atraí-los para que não corram para a loja concorrente, como embalar os produtos de forma que os consumidores gastem mais dinheiro com eles”.
Quando um amigo sugeriu que as faculdades ou seminários teológicos deveriam ter matérias de gestão de negócios, disse a ele que igreja não é empresa; o Espírito Santo não é um funcionário; Jesus Cristo não é empreendedor, embora alguns o considerem como um.
O vocabulário na igreja dever ser substituído: em vez de produção, transformação; em vez de gerência de departamentos, dons espirituais; vez de executivo, pastor.
2 comentários:
Severino Croato usa uma expressão que expressa bem o que é esse sistema empresarial eclesiástico: " Fetiche consumogônico." Administrar bem é algo importante em qualquer setor, porém, a igreja deve ser guiada para o direcionamento proposto por Jesus. Direcionamento que aponta o Reino: Justiça, misericórdia e fidelidade.
Parabéns pelo texto.
É isso mesmo...
O problema é querer transformar a igreja em mais uma empresa de pretação de serviços, onde o produto deve agradar o cliente a qualquer custo.
Valeu pela participação.
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