Há vários estudos dando conta da mudança desse
comportamento nas últimas duas décadas no universo evangélico. Mudanças impulsionadas
pelos (termo inapropriado e ambíguo) “neo-pentecostais” que aliou igreja e
partido político de maneira pragmática e midiática. Ricardo Mariano, por
exemplo, estudou esse processo muito bem no seu texto Neo-pentecostais: sociologia do novo pentecostalismo no Brasil. Outro
pesquisador, Paul Freston, demonstrou como o voto dos evangélicos sofreu
mutações ao longo do processo democrático do país e como as mentiras ditas por evangélicos ajuda ganhar votos em eleições majoritárias.
Hoje, a mensagem da igreja da “salvação da alma”,
embora ainda esteja no jargão evangélico como um discurso de atração e abandono
de uma vida pregressa para uma vida santa, não corresponde à realidade no seu
âmbito político. Se antes uma das principais proibições se dava com o famoso “crente
não se mete em política”, agora essa máxima virou fumaça. Crente se mete em
política e, além de tudo, voto em crente. É dessa maneira que a bancada
evangélica na Câmara Federal não diminui, só aumenta. A discussão quanto ao
espaço público e sua disputa com outras expressões religiosas, não é nosso tema
aqui. Quanto à isso há estudos muito bem documentados e trabalhados
jornalisticamente. Interessados, indico o texto de Magali Cunha: Do púlpito às mídias sociais: evangélicos
na política e ativismo digital (Curitiba: Primas, 2017).
Dentro desse quadro maior, os batistas,
notadamente da Convenção Batista Brasileira, a CBB, parece que resolveram
apoiar candidatos formalmente. No plano majoritário, Presidente da República e
Governador do Estado, não há uma expressão maior por parte de lideranças da
denominação, embora os apoios sejam velados. No contexto regional, isso ficou
mais visível, principalmente depois de 2010, no Estado de São Paulo, quando a Convenção
Batista do Estado de São Paulo tentou impulsionar a candidatura do pastor José Vieira Rocha, do Partido Social Cristão (PSC), quando este tentou ocupar uma cadeira
na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. O pastor não obteve êxito.
Parece que nessas eleições 2018, para o
legislativo do Estado de São Paulo, lideranças batistas do Estado querem
reeleger Marcos Damásio (PR). Como pastor, já tive a oportunidade de estar com
o deputado em um encontro de pastores. Na ocasião, ele conversou com os
pastores, mas não pediu apoio formalmente na sua fala, mas nos bastidores do
encontro, isso foi ventilado.
Os batistas se notabilizam por não fazer
campanha para o candidato “A” ou “B”. Não é possível uma Igreja Batista, que entenda
os Princípios, induzir os membros a votarem em candidatos que a liderança
pastoral considera o mais viável, na sua opinião. Recentemente, um pastor batista no Rio de
Janeiro chamou à frente da igreja um candidato à Presidente. Depois da
repercussão negativa, ele veio à público procurar amenizar sua atitude.
Diante de um quadro político que inspira
cuidados e atenção, onde a polarização ganha expressão raivosa nas redes
sociais, o comprometimento de uma igreja local (Batista) ou uma denominação,
ainda que seja na sua fração estadual, é de extrema responsabilidade. Com o apoio
aberto, se acontecer, compromete-se com as pautas do candidato em questão. Uma
Igreja Batista, ainda que isso seja possível, não deveria atrelar a sua
trajetória a nenhum candidato, uma vez que cada igreja é autônoma e o pastor da
igreja não tem nenhum direito de exigir isso dos membros da comunidade. Se
acontecer algo assim em uma igreja local, isso já seria agravante no sentido de
violar, pelo menos, dois princípios dos Batistas, separação entre Igreja e
Estado e Liberdade de Consciência e Opinião. Uma denominação, na sua fração
estadual, torna ainda mais inadmissível algo assim. Isso acontecendo, o
candidato está dizendo que, de alguma maneira, está com os “batistas do Estado
de São Paulo” e que eles, os batistas, estão acompanhando o candidato e
concordando com ele, o que se constituí inverossímil, até mesmo pela própria
estrutura e sistema denominacional. Seria apenas uma maneira de chamar a atenção
do eleitor “evangélico” para a condição de um candidato que recebe ou que está
junto a um dos poucos segmentos da Igreja Brasileira que, ainda, usufruiu de alguma
respeitabilidade no cenário evangélico brasileiro? Talvez...
Em tempos como esses, é bom lembrar um pastor
batista que tem a sua memória preservada pela admirável maneira como lidou com
as questões da denominação, mesmo quando discordava dela. Estou me referindo à
Isaltino Gomes Coelho Filho. Ele dizia: “Não imponho candidato às minhas
ovelhas. Tenho percepção política, e minhas convicções são claras. Mas são
minhas. Não as imponho. Meu rebanho não é minha propriedade”.