Em
Cristo, Paulo centraliza todo o processo salvífico.
Embora
surjam textos como desde a fundação do
mundo, o fato é que o aparecimento de Cristo na história fez com que a
comunidade olhasse para trás e concluíssem que de fato Deus estava no conduzindo. Mas isso não significaria
nada se ele não estivesse atuando no tempo. A comunidade compreende que foi na
ação histórica de Deus que se deu a
sua eleição.
E
essa eleição não determinou o seu curso nem suprimiu a história, mas dá à comunidade
o fundamento de sua experiência no tempo como algo prioritário para Deus, quer
dizer, sua eleição/predestinação, pois ela tem a sua origem na vontade salvífica
de Deus — “nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas
obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em
Cristo Jesus antes dos tempos eternos, e manifestada agora pelo aparecimento de
nosso salvador Cristo Jesus” (2Tm 1,9-10).
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Mas
é no tempo que ela se concretiza, porque foi agora que se manifestou a justiça de
Deus, testemunhada pela lei e pelos profetas. É no agora que se recebe a
reconciliação através de Cristo. A história estava caminhando para um alvo
divino, e neste alvo os gentios estavam incluídos.
É
aqui que entra o conceito de justificação e reconciliação de Paulo. A
justificação e a reconciliação seriam algo individual ou coletivo?
Os
dois conceitos estão extremamente ligados. Porque um diz respeito à absolvição
de todo o pecado; outro à restauração
de um relacionamento com Deus. São dois conceitos teológicos que se dão no
passado.
Para
o apóstolo, é uma dádiva de Deus em Cristo que foi comunicada a todos (judeus e
gentios). Porque o alvo não seria o indivíduo, mas uma nova humanidade.
O
pecado não é mais barreira de divisão entre Deus e o ser humano, porque “Deus
estava em Cristo reconciliando consigo o mundo” (2Co 5,19). A reconciliação é
um ato histórico, em Cristo, e coletivo. Sendo assim, Deus não quis reaver os pecados cometidos antes
do aparecimento de Cristo na história, mas agora, com ele e sua obra, há a
possibilidade de decisão (At 17,30).
Uma
vez que a reconciliação e a justificação são iniciativas de Deus no aspecto coletivo,
seria a predestinação algo individual?
Uma
vez que a justificação e a reconciliação são bênçãos proporcionadas por Deus em
Cristo de caráter coletivo e histórico,
a predestinação do mesmo modo é algo dado num momento histórico com um fim
exclusivamente soteriológico.
Neste
sentido, a salvação é uma proposta divina à humanidade, é o sim de Deus em
Cristo (2Co 1,19-20). Uma vez sendo essa resposta afirmativa à sua proposta,
todas as bênçãos espirituais são realizadas plenamente. E o propósito da
predestinação é concluído (Rm 8,29-30; Ef 1,4-5).
Assim
como a eleição no Antigo Testamento (Bíblia Hebraica) visou o povo de Israel
(Dt 7,7; 14,2), a predestinação no Novo Testamento nunca é individual, mas
coletiva — a Igreja, a comunidade dos santos. Não é por acaso que a Igreja
primitiva tinha ideia de constituir a raça
eleita, um povo santo (1Pd 2,9).
A
predestinação não poderia ser algo puramente determinista e selecionista.