4.9.11

A INDEPENDÊNCIA DA DEPENDÊNCIA

Há 189 anos um burguês, D. Pedro, declara a independência do Brasil de Portugal. Vale dizer, não foi uma independência onde o povo participou; não houve guerra, como em outros países latino-americanos que lutaram pelo mesmo direito, ser livres. Por aqui não houve participação popular. A independência ficou restrita aos palácios e bastidores do poder político e econômico de então.

O Brasil de 1822 continuou sendo o mesmo em 1823. Ou seja, não mudou nada significativamente. Apenas mudou o regime, de colônia portuguesa para império brasileiro.

A independência, é bom que se diga, foi motivada não por melhorias para o povo como um todo. Aliás, quem era o povo? Os escravos? Não, esses não. Esses continuaram sendo escravos no dia 08 de Setembro de 1822 até 1888. Continuaram a produzir a riqueza do país debaixo da chibata de seus senhores. Povo mesmo era a classe burguesa que queria ver ampliada as suas fronteiras econômicas, sendo a medieval Portugal um entrave para isso.

Não foi uma independência política, como se dissesse: “agora seremos livres da exploração portuguesa”. Foi uma independência econômica que teve como consequência a política. Foi uma troca de senhores: em vez de Portugal passou para a Inglaterra, nação que implanta e sustenta o sistema econômico vigente na época. Tudo isso com as bênçãos de D. Pedro.

Por conta disso, a independência não produziu transformações sociais, políticas e econômicas.

É claro que D. Pedro não é nenhum Simón Bolívar, herói da independência de tantos países latino-americanos entre eles e, principalmente, a Venezuela. Por aqui a mentalidade não foi formar um país, como Simón Bolívar, foi explorar a terra, a sua gente, os seus recursos naturais.

Não sou fatalista para com a história do meu país. Só lamento que um Tiradentes, esse sim mártir da independência, não estava às margens do Ipiranga. Na sua voz as palavras “independência ou morte” teria mais sentido e significado. Mas coube à D. Pedro está tarefa por vários motivos e caprichos da história.

Hoje, carecemos de uma independência, pois ainda somos dependentes:
- De um sistema político que favorece quem tem dinheiro;
- De políticos que não tem escrúpulos para administrar a coisa pública, vendo a política como uma maneira de ganhar dinheiro e não como um serviço à população no atendimento de suas necessidades básicas;
- De um sistema capitalista que escraviza o trabalhador que pega o ônibus 5hs da manhã todos os dias.

Mas tenho fé no meu país. Sim, sou patriota e não apenas quando a seleção canarinho está em campo. Meu patriotismo se dá porque vivo num “gigante pela própria natureza”. O sentimento de nacionalismo se deve porque aqui vive um povo que trabalha; que luta; que sofre; que não tem tanta sorte com os seus representantes; mas que está junto, que é solidário com o próximo e sabe se alegrar com as pequenas coisas da vida. Essa é a “brava gente brasileira”.

Neste dia, expresso meu sentimento pelo Brasil nas palavras do poeta Olavo Bilac:
“Ama com fé e orgulho a terra em que nasceste.
Criança! Jamais verás país nenhum como este.
Olha o céu, que mar, que floresta! A natureza aqui perpetuamente em festa. É um seio de mãe a transbordar carinhos. [...]
Imita na grandeza a terra em que nasceste”.