22.5.10

COMUNICAÇÃO BATISTA E RELIGIOSIDADE MIDIÁTICA

Neste domingo comemora-se o Dia da Comunicação Batista. Não temos muito que comemorar sobre neste dia. Os meios de comunicação que a CBB dispunha foram todos extintos. A JUERP praticamente todos conhecem a história que envolve incompetência e apadrinhamento político. A JURATEL, divisão de rádio e TV, não existe mais. Aliás, a Faculdade Teológica Batista de Campinas penou e muito para assumir o espaço da JURATEL, e uma instituição teológica dos batistas pagava, até pouco tempo atrás, aluguel do espaço físico, isso que é visão de Reino, mas deixa isso pra lá. O caso é que os meios de comunicação da CBB são escassos. O Jornal Batista agora chega a todas as igrejas batistas do Brasil, mas é um meio doméstico de comunicação. Fora este, há sites e outros meios de menor alcance. É claro que o sistema batista de governo, autônomo e democrático, favorece que igreja, com um maior poder aquisitivo, mantenha programa de rádio e TV em sua localidade, mas continua sendo regional. Uma vez se falou nos bastidores da CBESP a possível idealização de um programa de TV, vinculou até mesmo uma revista para bancar o projeto, mas não deu em nada.

A questão é a seguinte. Vivemos em uma sociedade do espetáculo, onde o que vende e atrai é o show. A cultura do consumo e a cultura da mídia são duas dessas manifestações da sociedade. Entenda-se por cultura do mercado o modo de vida determinado pelo consumo, onde o produto deve ser apreciado e visualizado, daí o marketing ser pesado. A comunicação é que vende o produto hoje, a propaganda, definitivamente, é a “alma do negócio”.

A sociedade do espetáculo aderiu a mais um produto no mercado, o Evangelho. Não sei se verdadeiro ou não, mas há pessoas, e muitas, construindo verdadeiros impérios político-econômico-social em cima da fé dos outros. Aderiram completamente o lema da sociedade de consumo e vende o seu produto com mensagens assim: “Deus me chamou para ganhar almas, somente isso”. Mas esta não é mais uma verdade. Nos anos 80, como mostra um estudo do teólogo Hugo Assmann que inaugurou o termo “Igreja Eletrônica”, foi-se o tempo em que os meios de comunicação eram usados para atrair pessoas às igrejas. Hoje a ênfase da mensagem transmitida não é da “Igreja” e na adesão a ela, mas no cultivo de uma religiosidade que não depende da Igreja, mas que é intimista e autônoma, com uma característica totalmente individualizada. O que se enfatiza não é a Igreja, mas a experiência religiosa mediada pelo meio TV ou rádio, isto é, o meio possibilita o cultivo da religiosidade, independente da adesão a uma comunidade de fé. Daí o crescente número de membros de nossas igrejas que se transformam em patrocinadores do Show da Fé. A mensagem atrelada é sobre produtos e patrocínio. Os pastores televisivos vendem seus produtos e compram seus jatinhos em cima de um conceito de mercado: produto + propagando = dinheiro. Por isso há uma verdadeira batalha entre os neopentecostais por espaço na mídia, estão se gladiando no ar em busca de clientes, digo, fiéis.

Neste universo de internacionais, mundiais e universais e outros peixes pequenos, nós não entramos. O sistema batista não permite, não há nenhuma franquia de igrejas para sustentar horas e horas de programa para vender “milagres” e “curas”. O que nos resta? Será que precisamos mesmo de um sistema de comunicação como os católicos fizeram para confrontar com os neopentecostais? Será que temos necessidade de fazer parte da frutífera e salutar edificação aos sábados de manhã da Rede TV? Que tipo de comunicação precisamos ter? Um jornal apenas? Não se importar com essa guerra midiática e continuar onde estamos é o melhor a fazer? O que fazer?

14.5.10

A DESCONSTRUÇÃO DE UM DEUS METAFÍSICO

Apontamentos em Gianni Vattimo

Estamos diante de um fato: a pós-modernidade delineou um novo modo de se pensar e viver religião. Diante deste fenômeno, a filosofia da religião vem apontando caminhos para se pensar o religioso em outras matrizes. Esquemas que privilegie o diálogo, a abertura fraterna e honesta com os eixos da pós-modernidade. Um dos pontos que tanto teólogos quanto filósofos trabalham é o aspecto metafísico do conceito “Deus”. A construção teórica em torno de uma emancipação do conceito “Deus” da metafísica é tratada por F. Nietzsche com o seu famoso enunciado “Deus está morto”. Outro alemão que pensou sobre os limites da metafísica foi M. Heidegger. Com esses autores, o filósofo italiano Gianni Vattimo quer colocar a superação da metafísica. Sua intenção, a partir de Nietzsche e Heidegger, é desconstruir o “Deus” metafísico que norteou a cultura ocidental e apresentar novos rumos para o discurso sobre “Deus”.

O “Deus” gestado pelo Ocidente é o resultado da junção entre filosofia grega e escolástica (Santo Agostinho e Tomás de Aquino). Vattimo e outros filósofos concebem o retorno da religião como um fato; a ciência e a técnica não anularam o sentimento religioso do homem pós-moderno. Para Vattimo esse retorno se dá pelo esvaziamento de sentido, algo que a ciência e a filosofia não souberam trabalhar; uma maneira de preservar as culturas ancestrais, etc. Mas agora esse retorno corre alguns riscos e o principal deles é o fundamentalismo em suas diferentes vertentes.

O “Deus” metafísico da Idade Média proporcionava segurança, estabilidade. O ser era identificado com “Deus”. A partir da leitura de Nietzsche e Heidegger, Vattimo quer colocar a instabilidade de um solo que sempre se acreditou ser firme; “Deus” passa a ser não um fundamento imóvel, mas um vestígio, um traço. Para o filósofo italiano, “Deus” deixa de ser estrutura para se tornar evento. O discurso metafísico sobre “Deus” passa a não existir como um fato factível e torna-se evento, um “Deus” eventual.

O “Deus” metafísico desconstruído pela pós-modernidade e seus eixos, dá lugar agora a um pensamento que descobre os fragmentos do Sagrado por meio do vestígio, do evento histórico. Não é mais um “Deus” visto como absoluto, eterno, imóvel (Aristóteles), sem princípio e nem fim. Para aparecer este novo modo de interpretar e discursar sobre o Sagrado, Vattimo recorre ao conceito bíblico da encarnação. No entender do filósofo italiano, é o Cristianismo que supera o “Deus” metafísico! O Verbo encarnado assume a eventualidade do ser. Deus ter se tornado ser humano já é um enfraquecimento do “Deus” metafísico. Deixa de ser o “Deus” dos raios e trovões, o totalmente outro. O Deus que se torna ser humano come e bebe com malfeitores; assume as debilidades e fraquezas da vida; chama as pessoas de amigos.

O “Deus” metafísico é desconstruído e surge o Verbo, eventualidade do ser. A debilidade levou Vattimo ao Cristianismo. A encarnação torna-se elemento hermenêutico para um novo discurso sobre Deus, assumindo, portanto, a eventualidade do ser; algo em construção, em movimento, nunca fechado e inconcebível.

5.5.10

APONTAMENTOS SOBRE PASTORAL

Uma breve análise a partir do neopentecostalismo, catolicismo e protestantismo

Tenho pensado sobre a forma de ser pastor batista e seus desafios, até mesmo pensei em escrever alguma coisa neste sentido e procurar publicar numa dessas revistas eletrônicas, periódicos teológicos com a intenção de abrir um diálogo entre a forma de pastoral no campo católico, que tem muito a contribuir, aliás, teólogos católicos se debruçam e escrevem muito sobre este tema, teologia pastoral, onde um dos mais respeitados teólogos na área é Cassiano Floristán, teólogo católico espanhol, e o modo protestante de entender o pastor e suas tarefas/funções dentro da comunidade, visão aquém do que se pensa e escreve na academia sobre pastoral.

Na última postagem, impressões de um encontro, um resumo do que foi falado na Igreja Batista em Barra do Turvo/SP sobre posturas pastorais, recebi um comentário do Pr. Natanael Gabriel da Silva (pastor na Igreja Batista Central em Sorocaba/SP) que chamou a minha atenção. Seu texto diz: “tenho pensado que pastores e líderes de movimentos neopentecostais acreditam que o pastoreamento deve ser uma demonstração da sobrenaturalidade de Deus no mundo, outras comunidades, que têm uma preocupação social mais acentuada, observam tal pastoreamento como o atendimento a integralidade do ser humano em sua dinâmica social. No caso dos batistas, do conhecido evangelismo de fronteira, tem-se o pastoreamento quase exclusivamente sob a ótica conversionista, em relação ao "mundo", e sacerdotal (preservação do sistema) quando se refere à comunidade especificamente. Expressões de comando autoritário, como controle interpretativo dos textos, buscando o apoio dos originais, cuja língua é praticamente desconhecida pela comunidade, ou ainda assumindo a sobrenaturalidade na homilia, em que questioná-la é quase um sacrilégio, têm sido os recursos de controle comunitário mais utilizado, creio.”

Pr. Natanael tem uma contribuição ímpar à denominação e sua experiência como pastor batista e participante, até pouco tempo atrás, dos bastidores da denominação, o credencia a ler a fisionomia do pastor batista com perspicácia.

Gostaria apenas de ampliar suas colocações usando outros autores/teólogos sobre o tema. Por ora pensar na concepção pastoral a partir do neopentecostalismo, do catolicismo e do protestantismo, especificamente batista.

A partir das considerações de Antonio Gouvêa Mendonça e Leonildo Silveira Campos, os neopentecostais têm na figura do pastor o mágico. O elemento mágico é o mecanismo de trabalho do líder; a manipulação de fórmulas e crendices são indispensáveis para o fortalecimento do empreendimento neopentecostal. Mendonça chama de sindicato de mágicos quando seus líderes fazem uso de “água abençoada”, “rosa ungida”, “areia do deserto do Sinai”. Neste modo de ser pastor, a comunidade inexistem, os frequentadores são clientes a espera dos bens religiosos; a credibilidade do líder/pastor é dada pela confirmação sobrenatural da bênção de Deus, geralmente financeira.

No caso católico, a tarefa pastoral esta voltada para a integralidade da pessoa humana, independentemente se participa ou não da paróquia. Segundo João Batista Libânio, teólogo católico mineiro, a pastoral é o agir da Igreja no mundo, é o sinal do Reino de Deus na cidade, na sociedade. É a presença da graça de Deus, através da Igreja, na sociedade. Daí a preocupação com as diversas áreas da sociedade surgindo, portanto, as diversas pastorais como da terra, da criança, do encarcerado... É uma pastoral coerente com o Evangelho, sem dúvida.

Já no caso protestante batista de ser, segundo Israel Belo de Azevedo, o pastor batista é anticatólico; tem formação teológica fundamentalista; olha o mundo como alvo da evangelização com o intuito de “ganhar”. Não é uma pastoral de comprometimento com o contexto. A fisionomia do pastor batista é puritana, tem como princípio a santidade de homens como Spurgeon, Baxter, Moody e outros. O púlpito é o principal elemento de pastoreamento e a Igreja, refém do discurso, cabe a moralidade como chave hermenêutica de uma autêntica fé.

A tentativa hoje é procurar dialogar com os “sinais dos tempos” (para um aprofundamento, ler um artigo de minha autoria na revista eletrônica Protestantismo em Revista no link http://www.est.edu.br/periodicos/index.php/nepp/article/viewFile/5/11); fazer uma leitura coerente com os pressupostos da pós-modernidade sem perder os princípios norteadores e a identidade. O recurso da mágica não cabe no modelo pastoral protestante; resta-nos fazer um fraterno diálogo com teólogos que entendem o caminho pastoral a partir da comunidade e não apenas do indivíduo, o pastor. Uma pastoral que encare o Reino de Deus como tarefa imprescindível para a missão da Igreja.