31.10.09

NOVOS TEMPOS - I

Na edição de 15/Out, o Jornal Batista trouxe como tema de capa o alerta de que os batistas estão passando por uma crise identitária. O editor, Fábio Aguiar Lisboa, colheu depoimentos dos pastores/teólogos Zaqueu Moreira, Irland Azevedo, Carlos Peff, Israel Belo e Isaltino Gomes. Cada um deles apontou as razões de uma pretensa crise denominacional. O teor do discurso girou em torno dos princípios defendidos pelos batistas na sua história e a falta de conhecimento desses princípios por parte dos pastores e membros; identidade frente às outras denominações; formação teológica; estrutura denominacional e seu fortalecimento etc.

Na última quinta-feira de outubro, a Ordem dos Pastores Batistas do Vale se reuniu em Registro, reuniões periódicas que tem como principal objetivo a comunhão, a inspiração, a conversa entre os pastores, diga-se de passagem, muito salutar. Neste encontro discutimos as dificuldades que enfrentamos no cotidiano pastoral, os dilemas da vida, a igreja, as posturas adotadas e uma incógnita sobre o futuro. Discussão que se houvesse tempo não acabaria tão cedo.

Acontece que esses dois fenômenos que acabei de relatar não ocorreram por acaso, de fato há uma inquietação na sociedade e as igrejas sentem isso, principalmente os pastores, de como fazer uma leitura apropriada desses novos tempos que passamos. Tempos de reestruturação econômica; aumento da vulnerabilidade social; da falta de sentido; da pluralização religiosa; da comercialização do evangelho. Diante dessas questões os batistas, como ramo do protestantismo, necessita refletir sobre isso e contribuir com sua história e tradição.

Diante dessa ânsia por diálogo coloco aqui alguns apontamentos sobre temas que considero importantes, e, como pastor batista, procuro refletir.

Leitura pós-moderna: esta cada vez mais escassa a capacidade de fazer uma leitura realista e destituída de qualquer preconceito sobre a cultura que vivemos. A tendência é sempre demonizar o surgimento de novidades exóticas e comportamentos esdrúxulos. A realidade não pode ser vista apenas com a Bíblia na mão, mas, parafraseando Karl Barth quando assumiu o pastorado em Safenwill, numa mão a Bíblia e noutra o jornal (os acontecimentos). As coisas estão acontecendo na sociedade com seus dilemas diários e a Igreja inerte a isso, pregando sobre predestinação, pré-milenismo, modelos de crescimento de igreja se é ou não com propósito etc. Acontece que as pessoas estão cada vez mais desesperadas precisando de esperança, e a Igreja parece que não consegue fazer esta leitura de forma adequada.

Pluralismo religioso: os tempos mudaram, as pessoas aderem a uma religião, seita ou movimento não mais pela sua doutrina, mas pelo preenchimento existencial. Dado interessante é que na cidade de São Paulo o Budismo tem crescido assustadoramente, principalmente entre a classe média. No Brasil a hegemonia cultural-religiosa já deixou de ser católica. Existem outras vertentes que estão conquistando espaço. Parece que não estamos preparados para discutir o que chamo de “democratização religiosa”. Não há mais espaço para o proselitismo baseado no medo e na dor (embora esse imaginário ainda reine no interior do país). As pessoas são instruídas; as empresas hoje oferecem palestras de filosofia; as pessoas estão mais informadas e ao mesmo tempo necessitadas de sentido, uma vez que para muitos a visão da história é pessimista. Não é por acaso que a tevê Globo esta promovendo a Série “Sagrado”, um diálogo aberto com todas as versões religiosas do país. Representando o protestantismo esta o pr. Israel Belo (IB Itacuruçá/RJ). E como não poderia ser diferente, as críticas surgiram, mas, inegavelmente, é este o caminho para os próximos anos, o diálogo. O ecumenismo, rejeitado pelos batistas com tanto fervor, será pauta obrigatória. Como um dos princípios batistas é a liberdade religiosa e de consciência, poderemos contribuir com os nossos quatrocentos anos de história para o diálogo respeitoso e fraterno, algo que os católicos perceberam há muito tempo e realizam um diálogo fraterno e respeitoso com os luteranos, metodistas e presbiterianos independentes.

Teologia latino-americana: a formação teológica dos pastores hoje ainda é norte-americana. É só olhar a proliferação de teologias sistemáticas traduzidas no mercado editorial brasileiro. Os livros que abarrotam as livrarias são, na sua esmagadora maioria, traduções de autores que fizeram sucesso lá fora. No meio acadêmico (seminários ou faculdades teológicas da denominação) não se privilegia a leitura de autores da América Latina. Há uma repulsa pelos pensadores católicos, mas são eles que fazem teologia latina hoje. A Missão Integral (evangélica) e a Teologia da Libertação (católica) podem dar as mãos em termos de metodologia, mas os batistas continuam ignorando isso. É necessária uma formação contextualizada; uma leitura a partir da realidade brasileira; uma teologia com calor e pimenta. Enquanto reproduzirmos tendências, métodos, modelos eclesiológicos, livros e teologias importadas, nosso povo irá continuar sendo indecifrável para nós.

Continuo no próximo texto, até lá...

23.10.09

REPENSANDO O PROTESTANTISMO

O que poderia ser diferente

Neste mês a Reforma Protestante comemora 492 anos (31 de outubro de 1517). Os herdeiros desse movimento são, indubitavelmente, os luteranos, presbiterianos, anglicanos, batistas, metodistas e congregacionais. Recentemente postei alguns comentários numa revista online (Ultimato) argumentando que os pentecostais não fazem parte da matriz protestante, a não ser a presença da Bíblia nos cultos que não é tanto valorizada mais que a tal “profecia oral”, e a reação dos internautas pentecostais foram bastante incisivas no sentido de colocar o pentecostalismo no espectro protestante, argumentei que os pentecostais habitam um universo religioso totalmente contraditório do protestantismo em diversos aspectos, desde identidade, teologia e liturgia. Desta mesma ideia compartilham Antonio Gouvêa Mendonça que foi uma das maiores autoridades em protestantismo no Brasil, e Rubem Alves, que dispensa qualquer comentário, ambos colocando a peculiaridade do protestantismo e o antagonismo do pentecostalismo.

A proposta aqui é fazer uma leitura de alguns símbolos do protestantismo e apontar o que poderia ser diferente. Para isso conto com os textos de Rubem Alves*, Antonio Gouvêa Mendonça** e Prócoro Velasques Filho.***

Cultura: até hoje sofremos com a questão cultural, ainda mais aqui no Brasil que não têm na sua raiz religiosa o protestantismo, como nos EUA, mas o catolicismo. A natureza iconoclasta do protestantismo afastou qualquer imagem do imaginário religioso alegando paganismo, compensando essa lacuna, não satisfatória, com a centralidade da Bíblia e a música, daí a crise simbólica no protestantismo, chegando, em alguns segmentos, o repudio da cruz nos templos. É inquestionável a contribuição do protestantismo à cultura moderna, mas Paul Tillich, em seu texto A era protestante, aponta que apesar de não separar o sagrado do profano o protestantismo se afastou da cultura, esquecendo-se que o Reino de Deus se dá quando a cultura em geral é santificada. O prejuízo desse distanciamento é a completa separação da Igreja com a cultura do lugar, uma vez que “conversão” compreende em separar o indivíduo do seu ambiente vivencial. Com isso, o pastor é sempre procurado para ser juiz em determinadas situações que ultrapassam os muros do templo; se os adolescentes podem ou não participar de festa junina na escola; a dança é colocada como pecado e anormal para crentes; até pouco tempo atrás o cinema era demonizado. Lembro-me de que uma Igreja Batista do Estado de São Paulo saiu em carro alegórico no carnaval deste ano e as críticas foram aterrorizantes! Aqui essa distancia Igreja-cultura é mais evidente devido ao protestantismo de missão que enfatizou demasiadamente a regeneração e a santificação, com isso o comportamento se tornou a chave hermenêutica para a fé. O prejuízo disso é a falta da poesia, da boa música popular brasileira, da literatura de qualidade. O que fazer para unir cultura e Igreja no protestantismo? Uma velha questão.

Bíblia: como herança da Reforma, a Bíblia terá sempre a primazia na Igreja. Isso tem o seu lado positivo e negativo. Colocar a Bíblia no centro da fé cristã foi um grande feito de Martinho Lutero, mas o fundamentalismo corrompeu o texto fazendo uma leitura literalista e dogmática. A pretensão de possuir o conhecimento absoluto do texto sagrado levou a dogmatização de doutrinas suprimindo, desta forma, o livre exame, herança da Reforma. Hoje, como bem observa Rubem Alves, não há livre exame da Bíblia, pois não cabem mais o pressuposto da dúvida, da consciência. Assim como a Igreja Católica tem no Magistério a diretriz em que os fieis devem crer, o protestantismo produziu o mesmo com suas “Declarações Doutrinárias”. Qualquer um que acene para outra interpretação é taxado de “herege”. Parece que o texto deixou de produzir consolo, comunhão, experiência com Deus (que, aliás, no protestantismo não vem primeiro, antes o logos que o pathos) e se transformou em bula doutrinaria apenas, ignorando seu contexto histórico, literário e a sua diversidade teológica.

Culto: uma liturgia centralizada na Bíblia, com música contemporânea, o culto protestante tem uma diversidade incrível. Ocorre hoje a perda de sentido em símbolos tradicionais para o protestantismo como batismo e ceia do Senhor. Como a teologia sacrificialista é predominante, a ceia é vista como morte, recordação do sacrifício expiatório. Essa leitura é comum, a menos enfatizada é a dos evangelhos em que o momento de celebração da ceia é momento de alegria, pois se celebra a presença do Ressuscitado no meio da comunidade. Com essa postura diante da ceia, o protestantismo colocou esse símbolo como apenas acessório no culto, diferente da teologia romana que compreende a eucaristia como centro da vida em comunidade e absoluta na liturgia. Como por aqui o protestantismo de missão não separou culto de reunião evangelística, o culto perdeu a solenidade que deveria ter para com Deus, colocando em seu lugar o “pecador” o “perdido”, hoje mais ainda, o “visitante”, onde tudo no culto gira em torno dele, um prejuízo que custa a ser reparado em nossas igrejas. Tanto é assim que em muitas igrejas a ceia é no domingo de manhã onde se entende que há somente os membros da igreja, e não num domingo à noite, pois é culto “público”, evangelístico e aquele momento de celebração não deve ser compartilhado pelos “visitantes”. Tenho insistido em minha comunidade que o culto é para Deus, portanto celebração, adoração. A ceia do Senhor é a única possibilidade de vivenciar a comunhão com Cristo e seu corpo, ou seja, a Igreja. Não é rol de membros que determina se alguém pertence ou não à Igreja, rol de membros é questão administrativa, mas sua participação na comunhão do corpo de Cristo.

Teria outros pontos para abordar no protestantismo que nós tanto gostamos como, por exemplo, a questão da liberdade, a consciência, mas deixa para uma próxima. Fica aqui um desejo de reflexão e uma singela contribuição: vamos continuar nos reformando, pois essa é a principal característica do protestantismo.

* Rubem ALVES. Religião e repressão. São Paulo: Teológica/Loyola, 2005.
** Antonio Gouvêa MENDONÇA. Protestantes, pentecostais & ecumênicos: o campo religioso e seus personagens. São Bernardo do Campo: UMESP, 2008.
*** Antonio Gouvêa MENDONÇA e Prócoro Velasques FILHO. Introdução ao protestantismo no Brasil. São Paulo: Loyola, 1990.

15.10.09

E POR FALAR EM INFERNO...

Um dia desses uma adolescente da igreja perguntou-me sobre o inferno. Talvez porque não me ouve pregar sobre o assunto ou dizer que fulano ou cicrano vai para o inferno senão aceitar Jesus... Na conversa ela quis saber se acredito ou não no inferno e depois qual era minha opinião sobre o tal “lago de fogo”. Quem vai para o inferno? Como saber se alguém vai para o inferno? Perguntas como essas atormentam algumas pessoas, ainda mais quando encontram aqueles pregadores que só sabem falar do inferno e a graça de Deus e seu amor não são enfatizados.

O tema é complexo. Na Idade Média foi muito enfatizado. Terrorismo era feito com as pessoas que não aceitavam o cristianismo como religião. Hoje há muitos ainda que apelam para o inferno como instrumento de convencimento. Sem levar em consideração aqueles que mandam outros para o inferno.

Apesar de hoje poucas pessoas acreditarem que irá para o inferno (pesquisa Vox Populi demonstrou que 83% das pessoas acreditam que passarão a eternidade no Paraíso), o fato é que no imaginário religioso as pessoas ainda carregam a teologia da recompensa: se fez coisas erradas aqui vai para o inferno, se fez coisas boas vai para o céu. Isso é ensinado para os infantis que quando fazem alguma coisa errada logo ouve: “olha, Papai do céu castiga”. O nosso senso de justiça é meritório e compensatório.

A tradição bíblica estar inserida em uma cultura grega, no caso do Novo Testamento. É importante pensar na palavra e seu contexto. Num primeiro momento a palavra hebraica sheol designava morada de todos os seres humanos, independentes se bons ou maus. Na tradução dos Setenta (hebraico-grego), a cultura grega imperou no texto traduzindo sheol para hades. Ambos os conceitos não tinham nenhuma intenção de apontar como um lugar de castigo aonde iria os maus. Com a predominância da cultura grega no texto sagrado, cultura essa que separava alma-corpo, ideia que o Antigo Testamento não conhece, compreendeu que para a alma haveria de ter um lugar especifico, tanto para bons quanto para maus. Assim alguns textos do Novo Testamento trazem essa concepção, por exemplo, Mt 11,20-24.

Dentro da tradição religiosa do Novo Testamento, os autores liam a transcendência com meios disponíveis para a época, no caso a concepção e o conceito de inferno. Daí as conhecidas imagens como: fogo inextinguível (algo dolorido); choro e ranger de dentes (vivencia de uma situação que não pode ser alterada); verme que não morre (ausência de paz interior). Essas imagens são tiradas da experiência humana, da dor, do desespero, da frustração, de amputação da liberdade e vivencia de cárcere; alguém chamado à luz, mas vive em trevas. O inferno é o endurecimento de uma pessoa no mal, portanto não é um lugar para aonde ir, mas um estado em que se encontra. O homem criou o inferno (ausência de Deus) quando odiou o próximo, explorou o irmão, quando matou, quando se amou a si mesmo mais que o próximo. Inferno nunca pode ser considerado uma ação positiva de Deus. Quando se entende o inferno como um meio que Deus encontrou para castigar aqueles que disseram um não a ele, fica patenteada a completa ignorância do amor, da graça e misericórdia de Deus. Inferno, neste sentido, é a culminância do mal. É a petrificação na maldade, é a interrogação de Ivan, um dos personagens de Dostoievski em Os irmãos Karamazovi: “com um tal inferno no peito, como é possível viver?”

O inferno não tem mais sentido depois da morte-ressurreição de Jesus Cristo. Como bem lembra Jürgen Moltmann, “se ainda houvesse perdidos no inferno, isso seria uma tragédia para Cristo”.

Assim como as parábolas são metáforas, as imagens que o Novo Testamento apresenta sobre inferno também o são. As passagens que tratam do assunto estão sempre ligadas a problemáticas e vivencias na vida cristã, não têm intenção nenhuma de provar se o inferno existe ou não. O evangelho de Marcos 9,42-47 é um exemplo disso, em que o tropeçar um dos pequeninos crentes da comunidade é sinônimo de inferno.

Inferno é criado quando alguém diz um não decisivo a Deus e isso é perpetuado depois da morte, agora não me pergunte como isso será que eu não faço nem ideia.

Textos de apoio
BOFF, Leonardo. A vida para além da morte. 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 1973.
MOLTMANN, Jürgen. No fim, o início: breve tratado sobre a esperança. Trad. Irineu J. Rabuske. São Paulo: Loyola, 2007.
SEGUNDO, Juan Luis. “A presença ou ausência do imaginário infernal”. Ciberteologia, Ano II, n.º 11.
QUEIRUGA, Andrés Torres. O que queremos dizer quando dizemos “inferno”? Trad. Paulo Bazaglia. São Paulo: Paulus, 1996 (Col. Teologia Hoje).

Pr. Alonso Gonçalves

8.10.09

ENTRE O ALTAR E O PALANQUE

Dilma Rousseff na Assembleia de Deus

Não é de hoje que os candidatos a presidência da república levam em consideração o número de evangélicos-eleitores do país, que chega a ser 15% da população brasileira. Começou com Fernando Henrique Cardoso em seu primeiro mandato, logo ele que se diz ateu, indo a reuniões de igrejas evangélicas.

Com a possível candidatura de Marina Silva (PV-Acre) em 2010, que é ligada à Assembleia de Deus, de propósito ou não (mais sim que não) Dilma Rousseff (PT) – ministra-chefe da Casa Civil – vem colecionando encontros com os evangélicos do país. Já esteve com os “Hernandes” e agora é vista na Igreja Assembleia de Deus em São Paulo numa reunião que comemorava o aniversário do seu papa, José Wellington Costa, e disparou elogios aos assembleianos. O discurso dela se inicia saudando a todos com "queridos irmãos e irmãs, que a paz do Senhor esteja com vocês", apesar de não ser religiosa. É claro que os evangélicos não são os únicos a se encontrar com a candidata petista, ela já esteve com o Pe. Marcelo Rossi e seus encontros pop; participou de celebrações com os católicos carismáticos da Canção Nova; por último se reuniu com os líderes assembleianos em vistas a 2010. Registra-se que entre os presentes estava lá o presbiteriano e ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho (PR), assegurando apoio e prometendo preparar palanque para Dilma no Rio.

O que mais chamou atenção na noite inesquecível com a ministra foi a palavra do deputado federal e pastor assembleiano Hidekazu Takayama (PSC). Defendeu abertamente a candidatura de Dilma, e como não podia faltar o conhecido espírito messiânico que este povo tem em líderes políticos, disse: “em suas mãos está o destino do nosso país".

Ao lado da Universal, a Assembleia de Deus é a igreja que mais tem sucesso eleitoral. Elege deputados com um discurso ainda batido: “é preciso ter gente nossa lá, para que no caso de perseguição...”. A campanha é aberta, declarada. A união palanque-altar é evidente. Em templos assembleianos há lugar de “honra” para políticos e tribuna para discursar. Para quem tem memória, a Assembleia de Deus foi a principal opositora da candidatura do presidente Lula, alegando que ele promoveria o fechamento das igrejas e apoiaria o casamento homossexual, e hoje...

Ainda não chegamos em 2010, mas já dá para ter uma ideia o que será isso. Não se esta criticando a postura dos candidatos de participarem de reuniões evangélicas, mas a postura dos evangélicos diante de candidatos a presidência da república. Não há uma postura profética que nasce da consciência límpida de que a igreja tem deveres sociais e éticos, e que a ela cabe uma ação responsável de cidadania como expressão de santidade a Deus e compromisso com o povo. Parece que o número de evangélicos no país não tem contribuído em nada para influenciar a vida social e política. Os conchavos são feitos em vista de benefícios corporativos; manipulam-se os votos dos fiéis com um discurso apocalíptico e reivindica apoio irrestrito a um candidato de consenso.

Os líderes assembleianos perderam a oportunidade para falar se a secretária da Receita Federal, Dra. Lina, entrou ou não em seu gabinete; perderam a oportunidade de entregarem um manifesto reivindicando melhorias em instalações públicas como hospitais e escolas; perderam a oportunidade de pregar contra a corrupção e o cuidado para com o dinheiro público e sua devida aplicação; perderam a oportunidade de afirmar que a igreja estará de olho tanto para fiscalizar como também, se preciso for, apontar os desvios de conduta de quaisquer políticos deste país. Enquanto isso não ocorre parece que o altar será usado mais para palanque.

Fonte: Notícias Yahoo: www.yahoo.com.br

Textos de apoio
Robinson CAVALCANTI. A igreja, o país e o mundo: desafios a uma fé engajada. Viçosa: Ultimato, 2000.
Ricardo MARIANO. Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo no Brasil. São Paulo: Loyola, 1999.

3.10.09

O ANTICRISTO DO VATICANO

A oportunidade que os milenaristas estavam esperando

Há sempre aqueles que aguardam uma notícia para acentuar ainda mais as suas concepções “escatológicas” do fim do mundo, do aparecimento do Anticristo. Isto não é de hoje. Saddan Hussein já foi o Anticristo, Hitler também, os diversos papas nem se fala, a União Européia já foi a besta uma par de vezes. Os “escatólogos” estão sempre procurando chifre na cabeça de cavalo para corroborar suas ideias de finais dos tempos, segunda volta de Cristo e isso se dá principalmente no ambiente pentecostal. É claro que no pentecostalismo a visão de mundo é marcada pela distinção bem clara de Bem e Mal, onde o pecado e o sofrimento são causados por Satanás. Só com o milênio as coisas irão voltar à normalidade e felicidade, quando Cristo voltar e estabelecer o milênio, que, aliás, já foi alvo de diversas teorias e até hoje a quem perca tempo e amigos por defender suas teorias milenares. Os crentes, portanto, não precisam se preocupar com este mundo, pois ele “jaz do maligno”. Os pentecostais adoram este tema, há conferencias escatológicas, acredito que eles são até mais fanáticos que os adventistas que só sabem falar da segunda vinda de Cristo e do sábado. Um livro que deu o que falar, publicado pela CPAD, foi o tal O Alinhamento dos Planetas de Lawrence Olson. Livro recomendado pelo Conselho de Doutrina da Convenção Geral das Assembléias de Deus, aonde o autor chega a afirmar que o satélite artificial norte-americano Skylab que caiu sobre a Terra em 1982 era sinal da segunda vinda de Cristo. O assunto agora é outro, é o Anticristo sancionado pelo Papa Bento XVI.

Recentemente o Papa Bento XVI publicou uma encíclica (Caritas in Veritate) em que ele aborda diversos assuntos relacionados a economia, política e questões sociais. Um texto que antecederia a reunia do G-8 na Itália. Nesta encíclica, Bento XVI defende um plano econômico mundial que teria como fim sanar as crises econômicas e ajudar os países mais pobres, para isso ele defende uma Autoridade política mundial. Não vou aqui entrar em detalhes na encíclica papal, que não é o objetivo, mas comentar a repercussão disso no ambiente pentecostal.

A proposta de Bento XVI, uma Autoridade política mundial, que, aliás, não é uma ideia dele e muito menos nova, pois o Papa João XXIII da década de 60 com a encíclica Pacem in Terris defendeu a mesma coisa, levou os pentecostais a levantar novamente os supostos “sinais” da segunda volta de Cristo e o arrebatamento da Igreja.

O Jornal Mensageiro da Paz (Ago/09, p. 13) da CGADB, traz uma matéria colocando o assunto em destaque: “O Vaticano definitivamente entrou no grupo dos que, seguindo o espírito des¬se tempo, preparam, consciente ou inconscientemente, o cenário para o advento do Anticris¬to, que e apresentado na Bíblia como o líder de um futuro go¬verno mundial controlador e re¬gulador (Ap 13.16-17) que será aceito por todo o planeta, o que subtende que o próprio Vaticano devera aceitar sua autoridade”. A matéria para encerrar nota: “O cenário para a ascensão do Anti¬cristo esta sendo preparado, com aquiescência do Vaticano”. Ainda para fomentar o assunto, o programa “Movimento Pentecostal” que vai ao ar na Rede TV, trouxe um “especialista” em escatologia assembleiana, Pr. José Prado Veiga (Assembléia de Deus na Lapa – SP), para relatar o que essa notícia representa. Prontamente o “escatólogo” assegurou que não resta mais nada para acontecer, que isto é a última coisa para a volta de Cristo e o aparecimento do Anticristo. A apresentadora, Carla Ribas, ficou atônita. Fez uma expressão de apavoro misturada com satisfação por estar “no poder de Cristo”. A entrevista se encerra com um apelo para se achegar a Deus o quanto antes e quem já esta nos “caminhos do Senhor” permaneça, pois as coisas estão indo para o seu fim.

O Anticristo do Vaticano é mais uma oportunidade para aqueles que gostam de fazer terrorismo com pobres incautos. Mais uma vez essa postura de esperar pelos finalmentes do mundo coloca os crentes dentro de um casulo, acentuando a completa omissão e descaso para com as coisas que estão acontecendo com o mundo e nossa sociedade. Com este discurso de que o mundo “jaz do maligno” e que, portanto, não resta fazer mais nada a não ser esperar por Cristo, provoca esse fatalismo que o protestantismo já bebeu e os pentecostais gostam de afirmar, pois isso é o combustível para a sua própria sobrevivência. É uma pena.